Morreu o poeta Thiago de Mello. Foram 95 anos de idade e uma marcante história de lutas a favor das causas humanas.
Thiago partiu, mas as suas utopias permanecem conosco, sobretudo agora neste tempo turvo em que a vida vai perdendo o brilho em meio ao caos cotidiano.
A perda de Thiago de Mello nos diminui, mas ao mesmo tempo nos fortalece para acolher cada vez mais o seu legado aguerrido e continuar atuando através da poesia e da verdadeira ação política.
Foi ele um sacerdote do verso, um profeta da esperança, da alegria e da libertação dos povos.
Nessa hora as árvores e os pássaros da Amazônia estão mais tristes: Thiago era uma das vozes mais contundentes em defesa da preservação ecológica e, de um modo especial, daquela majestosa floresta, tão agredida pela barbárie capitalista.
Destemido, enfrentou a ditadura militar do Brasil e os generais carrascos. Não hesitou em arriscar a própria vida pela conquista democrática. E, com isso, foi perseguido, preso e viveu a experiência do exílio em solo chileno e em outros países.
Solidário com os que sofrem, desafiou o autoritarismo e a arrogância, sempre se posicionando como um homem de grande alma socialista.
Falar sobre Thiago de Mello é falar sobre nós mesmos, sobre a nossa identidade enquanto pessoas que historicamente têm resistido à subalternidade, aos ditames da opressão.
Assim, vale lembrar o horizonte sonhado pelo poeta: “Fica decretado que os homens/estão livres do jugo da mentira./Nunca mais será preciso usar/a couraça do silêncio” (versos de um dos seus mais belos poemas, “Os estatutos do homem”).
Falar sobre Thiago de Mello é concordar com o que dele se pronunciou, certa vez, Otto Maria Carpeaux: “Thiago de Mello é um homem aberto aos anseios coletivos do povo brasileiro”.
Segundo as palavras de outro notável poeta, Pablo Neruda, num texto de 1965, “Thiago pasa por nuestras almas para invitarmos a vivir”.
Em carta remetida a Thiago em 1974, Paulo Freire se refere a ele, de maneira emocionada, como um “andarilho da liberdade” e diz que o seu discurso poético “deixará atônitos e medrosos os atuais donos do mundo”.
Seus livros, suas ideias, seu ativismo e a sua consciência transformadora são registros indeléveis de alguém que fez da sua trajetória uma grandiosa missão e exemplo de compromisso com os oprimidos.
Sem dúvida, faz escuro sem Thiago de Mello, mas continuaremos cantando a humanidade dos seus versos.

(*) Wagner Rocha é poeta e professor da Unimontes.

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