Themis, a deusa-símbolo da Justiça, não traz apenas a balança, traz a espada.
E certamente não é porque ela conte com um regimento de cavalaria, coluna de tanques ou baterias de obuses, mas porque ela representa a força moral da imposição de seus princípios.
Neste momento, com sorriso matreiro, Jair Bolsonaro deve estar comemorando o discurso feito pelo presidente do STF, Luiz Fux, no qual, após frágil defesa da democracia, voltou a falar na prioridade do “diálogo”.
Isso, claro, seria o normal, em tempos normais, com um governo normal.
Não é o que temos, porque não é normal um presidente da República ameaçar com a suspensão das eleições.
Bolsonaro não terá – talvez, apenas por sua falta de habilidade política – em concordar como que disse Fux sobre atender o desejo do povo por vacina, emprego e “comida na mesa” e acrescentar que quer também “eleições limpas’.
Era obrigação de Fux ter dito que não se aceitará qualquer ameaça à realização das eleições e que não há o que justifique seu cancelamento.
Que isso não será, nem poderia ser, aceito pelo Supremo, como guardião do texto constitucional onde elas estão previstas e que deve ser cumprido na data em que estão determinadas.
Não adianta dizer que a harmonia e a independência entre os Poderes “não implicam em impunidade de atos que exorbitem o necessário respeito às instituições”.
Pois não é exatamente o que está acontecendo, quando Bolsonaro não aceita eleições sem que ser aprovem as mudanças que ele deseja na forma de votação? E não está impune, embora venha dizendo isso, expressamente, há quase um mês, desde o dia 8 de julho?
Apelar ao diálogo, rezar Pai-Nosso com o presidente, lamento, não garante a democracia.
Era preciso, no mínimo, pegar da espada da Justiça e traçar uma risca intransponível no chão: nenhum debate político pode admitir ou insinuar cancelamento das eleições!
Mas este é o baixo nível cívico dos homens dos poderes no Brasil, moralistas de palavras pomposas que, quando chega a hora de demonstrarem a coragem diante dos autoritários, fraquejam.
Este negócio de dizer que “os juízes precisam vislumbrar o momento adequado para erguer a voz diante de eventuais ameaças” soa ridículo, quando o Presidente da República acaba de dizer que um deles, o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, é diretamente acusado de estar planejando “eleições sujas” e fraudadas.
Qual é o “momento adequado” que o Judiciário espera para “erguer a voz”?
Será antes ou depois de chegarem o cabo e um soldado. Porque depois disso, não poderá ser.
* Fernando Brito é editor do blog Tijolaço