– Partidários do republicano invadem o Capitólio, interrompem a sessão de nomeação de Biden e democratas conquistam maioria no Congresso

Os piores pesadelos do presidente dos Estados Unidos Donald Trump se tornaram realidade. Num dia histórico na política americana, o Congresso viveu cenas de caos inéditas na democracia americana. Insuflados pelo discurso de Trump, manifestantes invadiram o Congresso e interromperam a sessão que certificaria o presidente eleito, o democrata Joe Biden, como o próximo presidente dos EUA.

Apesar da insistente recusa em admitir sua derrota eleitoral, o republicano terá que deixar a Casa Branca e lidar com o controle do Congresso pelos democratas, com a surpreendente eleição no estado da Geórgia, que elegeu dois senadores democratas no segundo turno e cujos resultados saíram nesta quarta-feira.

O Congresso se reuniu nesta quarta-feira (6) para registrar formalmente os votos do Colégio Eleitoral, o que é uma mera formalidade, mas que se tornou uma disputa bastante incômoda para o Congresso desde que Trump passou a pregar que as eleições presidenciais foram fraudadas, sem apresentar provas.

Desde que foram contabilizados os votos de todos os 50 estados, Trump vem usando todos os artifícios para tentar reverter sua derrota, sem sucesso. Recursos judiciais, pedidos de recontagem, mobilização de apoiadores, críticas à mídia e seus costumeiros tuítes falaciosos. Nada deu certo.

Enquanto alguns pesos pesados republicanos acabaram admitindo a vitória do democrata, dezenas de outros legisladores prometeram expressar suas objeções na quarta-feira e ecoar as alegações de fraude até mesmo dentro do próprio Capitólio. Logo após o início da sessão, os aliados de Trump questionaram a certificação dos votos do Arizona.

Logo depois, manifestantes pró-Trump, reunidos em um comício próximo à Casa Branca, invadiram o prédio do Capitólio e provocaram atos inéditos na história dos EUA. As cenas eram de caos total.

Os debates na Câmara dos Representantes e no Senado dos Estados Unidos sobre a certificação da vitória de Biden foram interrompidos. Os congressistas foram obrigados a se trancar em seus gabinetes. Há relatos de que uma pessoa foi baleada dentro do prédio do Congresso, segundo a imprensa americana.

Segundo o New York Times, o senador republicano Mitt Romney, declarou: Isso é o que conseguiram”, dirigindo-se aos colegas de partido que sustentaram as falsas alegações de Trump sobre a fraude eleitoral. Vários congressistas repudiaram o ato via Twitter, enquanto se mantinha trancados em suas salas. “Isto é uma tentativa de golpe”, escreveu o deputado republicano Adam Kinzinger.

Diante da situação que ele próprio insuflou, Trump recorreu ao Twitter para pedir a seus partidários que se manifestem apenas de modo pacífico. “Por favor apoiem nossa Polícia do Capitólio e as Forças de Segurança. Eles estão de fato do lado do nosso país. Permaneçam pacíficos!”, pediu o atual líder. Mais tarde, o presidente autorizou o envio da Guarda Nacional para tentar normalizar a situação.

Antes de conseguirem entrar no prédio do Congresso, os manifestantes derrubaram barricadas de metal na parte inferior dos degraus do Capitólio e obrigaram a polícia a fechar o prédio. Alguns tentaram passar pelos policiais, que, por sua vez foram vistos atirando spray de pimenta na multidão para mantê-los afastados. As redes sociais mostraram várias cenas de confronto entre a polícia e os manifestantes.

Mais cedo, diante da Casa Branca, os manifestantes se reuniram atendendo à convocação de Trump, que seguiu em sua bravata negacionista. Em comícioo presidente disse a seus seguidores que “nunca” aceitará a derrota eleitoral. “Não vamos desistir nunca. Nunca vamos aceitar”, declarou Trump à multidão. “Vamos parar o roubo”, acrescentou.

Apelo à razão

O presidente eleito Joe Biden fez um pronunciamento público para tentar acalmar a situação e foi duro com Trump. “Peço ao presidente Trump que vá à televisão nacional agora para cumprir seu juramento e defender a Constituição e exigir o fim desse cerco”, disse Biden, condenando o presidente por apagar as chamas.

“A violência que vimos é um ataque sem precedentes à democracia, ao Estado de Direito”, destacou o presidente eleito. “As cenas vistas foram provocadas por um pequeno número de extremistas, que não são o que nosso povo é. São ações de rebelião que devem acabar agora”, disse Biden. “Peço que o presidente Trump và à TV agora para encerrar estes atos de ocupação. Não é protesto, é insurreição.”

E ressaltou: “Estou chocado e triste que nossa democracia chegou a tal momento escuro, mas vamos vencê-lo.” Segundo o democrata, “o trabalho nos próximos quatro anos” de seu governo é de “restaurar a decência, o respeito, não elevando as chamas do caos. Somos os Estados Unidos da América.” “Presidente Trump, aja. Já basta, Já basta. Já basta”, enfatizou Biden.

Em seguida, Trump postou no Twitter uma declaração em vídeo pedindo para que os manifestantes recuassem e deixassem o prédio do Congresso “em paz”. O líder da Casa Branca, contudo, voltou a dizer, sem apresentar provas, que a eleição presidencial foi “fraudulenta”.

“Eu conheço sua dor, tivemos uma eleição que foi roubada de nós, mas vocês têm que ir para casa agora. Precisamos ter paz. Precisamos ter lei e ordem”, disse o republicano. “Não queremos ninguém machucado”, frisou. Já o vice-presidente do país, Mike Pence, pediu o fim da violência.

Cartada inútil

Antes da confusão, porém Trump havia tentado sua última cartada, apelando ao vice-presidente, Mike Pence, que tem a função formal de declarar Biden o vencedor. “O vice-presidente tem o poder de rejeitar os eleitores escolhidos fraudulentamente”, tuitou Trump, de maneira equivocada. De acordo com a Constituição, sua função é apenas “abrir” as certidões enviadas por cada um dos 50 estados. Apenas os legisladores podem contestar os resultados.

Pence, porém, não cedeu à pressão. Em carta, afirmou que não pode interferir no processo. “Considero que meu juramento de apoiar e defender a Constituição me impede de reivindicar autoridade unilateral para determinar quais votos eleitorais devem ser contados e quais não devem”, escreveu Pence.

Trump criticou o vice logo após sua manifestação. “Mike Pence não teve a coragem de fazer o que deveria ter sido feito para proteger nosso país e nossa Constituição”, tuitou Trump. “Os EUA exigem a verdade!”.

Triunfo democrata

A derrota de Trump se tornou ainda mais amarga por causa do segundo turno das eleições para o Senado no estado da Geórgia. A disputa pelas duas últimas cadeiras coloca em jogo o controle da Casa, já que os republicanos têm 50 senadores e os democratas, 48.

Os resultados na Geórgia apontam para uma dupla vitória democrata. Projeções e grandes veículos de imprensa já cravam a vitória de Raphael Warnock sobre a senadora republicana Kelly Loeffler, fazendo história ao se tornar o primeiro senador negro eleito no estado do sul. “O que aconteceu ontem (terça-feira) à noite é extraordinário”, disse à CNN o pastor de 51 anos de uma igreja em Atlanta onde Martin Luther King oficiou.

O outro democrata na disputa na Geórgia, Jon Ossoff, também conquistou a vaga, derrotando o senador republicano David Perdue. Com a vitória confirmada, Ossoff se torna, aos 33, o mais jovem senador democrata desde Joe Biden (em 1973).

Estimulados pela vitória de Biden na Geórgia na eleição de 3 de novembro, a primeira do partido no estado desde 1992, os democratas conseguiram mobilizar seus eleitores no reduto conservador, especialmente os afro-americanos, cruciais para a vitória.

Fonte: Dom Total/AFP/Agêncvia Estado

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