Dos investimentos previstos para Minas, R$ 28,3 bilhões serão destinados a ferrovias e R$ 33 bilhões às rodovias
A primeira visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Minas Gerais desde o início de seu terceiro mandato no Planalto foi marcada por diversos recados ao governador mineiro, Romeu Zema (Novo-MG). Em evento no Minascentro, em Belo Horizonte (MG), na manhã desta quinta-feira (8), Lula anunciou um pacote de R$ 121,4 bilhões de investimentos em obras e projetos no estado.
O presidente estava acompanhado de 11 ministros. Dos investimentos previstos para Minas, R$ 28,3 bilhões serão destinados a ferrovias e R$ 33 bilhões às rodovias, incluindo a esperada duplicação do trecho da BR-381 entre Belo Horizonte e Caeté (MG). A maioria dos anúncios está no âmbito do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Segundo Lula, 2024 “é o ano em que começa a colheita” de tudo que sua administração plantou ao longo do ano passado. “É uma proposta de obras públicas que começou a ser construída com a primeira convocação que fiz, em janeiro de 2023, numa reunião em que todos os governadores foram chamados para dizerem quais as obras que eram prioritárias. Os 27 compareceram e, depois de algum tempo, apresentaram aquilo que era considerado mais importante”.
Lula lembrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), parceiro de Zema, ignorou Minas. “Se eu perguntasse para a imprensa uma obra de infraestrutura que o governo passado fez aqui no estado de Minas Gerais, certamente vocês não teriam essa obra, porque não existiu”, provocou. Entre as iniciativas anunciadas hoje pelos ministros está a retomada das obras do Hospital Universitário de Juiz de Fora e investimentos de R$ 778 milhões em seis aeroportos (Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga/Santana do Paraíso, Montes Claros, Uberaba e Uberlândia).
Em indireta a Zema, Lula criticou políticos que evitam o diálogo por razões políticas e ideológicas, em prejuízo ao próprio governo. “O que eu quero é que a gente construa no país uma relação civilizada”, afirmou. “Eu já convivi com tanta gente adversária, com tanta gente que não gostava de mim – e que eu também não fazia nenhum apreço de gostar. Mas a gente precisa ter a responsabilidade do relacionamento.” Lula emendou: “Nós temos que conversar com quem não votou na gente – e conversar com respeito”.
Mais cedo, Lula falou com exclusividade à jornalista Edilene Lopes, da Rádio Itatiaia. Embora tenha atendido aos principais pleitos de Zema relacionados ao PAC, o presidente usou a entrevista para abordar o tema que mais aflige o Palácio Tiradentes: o endividamento colossal de Minas com a União. Em cinco anos, Zema se pendurou em recursos judiciais para não pagar nenhum centavo da dívida, que cresceu mais de R$ 50 bilhões sob seu governo e chegou a R$ 165,6 bilhões.
Lula fez questão de lembrar que a proposta em discussão no Planalto chegou às suas mãos por iniciativa do presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que também é mineiro. O plano – que está sob análise no Ministério da Fazenda – propõe a federalização da Cemig (51%) e da Copasa para abater cerca de R$ 80 bilhões da dívida.
“Não interessa para nós ter um estado endividado, sem nenhuma capacidade de investimento”, resumiu Lula. “Nós não queremos sufocar Minas Gerais. Dentro do que for possível, queremos construir um acordo com Minas e com os estados brasileiros para resolver o problema do endividamento.” Mesmo sem citar o nefasto regime de recuperação fiscal proposto por Zema, Lula deu a entender que essa saída está fora de cogitação.
Durante a cerimônia no Minascentro, Pacheco voltou ao assunto: “Meu papel hoje é de fazer um pedido respeitoso ao presidente, que é de ter um olhar diferenciado para Minas Gerais – um estado que tem muitas dificuldades e que precisa do seu olhar”. Alexandre Silveira – que anunciou R$ 47 bilhões para Minas em projetos de transição e segurança energética – reforçou o pedido.
Além de Silveira, participaram da comitiva federal os ministros Camilo Santana (Educação), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Esther Dweck (Gestão e Inovação), Helder Melilo (Cidades, interino), Marcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência), Nísia Trindade (Saúde), Paulo Pimenta (Comunicação Social), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Renan Filho (Transportes) e Rui Costa (Casa Civil).