– Uma carta assinada por 152 bispos, arcebispos e bispos eméritos do Brasil, divulgada pela coluna de Monica Bergamo na Folha de São Paulo, revela uma dura avaliação da Igreja Católica sobre os rumos do governo do presidente Jair Bolsonaro.
No documento, os bispos afirmam que o Brasil atravessa um dos momentos mais difíceis de sua história, vivendo uma “tempestade perfeita”: uma crise sem precedentes na saúde e um “avassalador colapso na economia” com a tensão sobre “fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança”.
O texto também faz duras referências sobre os resultados condução da política econômica de Bolsonaro e Paulo Guedes. “No plano econômico, o ministro da economia desdenha dos pequenos empresários, responsáveis pela maioria dos empregos no País, privilegiando apenas grandes grupos econômicos, concentradores de renda e os grupos financeiros que nada produzem. A recessão que nos assombra pode fazer o número de desempregados ultrapassar 20 milhões de brasileiros. Há uma brutal descontinuidade da destinação de recursos para as políticas públicas no campo da alimentação, educação, moradia e geração de renda”.
O documento ainda será objeto de debate e deliberação do conselho permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), segundo informa a jornalista Monica Bergamo.
Leia a íntegra da “Carta ao Povo de Deus”:
“Somos bispos da Igreja Católica, de várias regiões do Brasil, em profunda comunhão com o Papa Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que no exercício de sua missão evangelizadora, sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da justiça e da paz. Escrevemos esta Carta ao Povo de Deus, interpelados pela gravidade do momento em que vivemos, sensíveis ao Evangelho e à Doutrina Social da Igreja, como um serviço a todos os que desejam ver superada esta fase de tantas incertezas e tanto sofrimento do povo.
Evangelizar é a missão própria da Igreja, herdada de Jesus. Ela tem consciência de que “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Alegria do Evangelho, 176). Temos clareza de que “a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. A nossa reposta de amor não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados […], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência. A proposta é o Reino de Deus […] (Lc 4,43 e Mt 6,33)” (Alegria do Evangelho, 180). Nasce daí a compreensão de que o Reino de Deus é dom, compromisso e meta.