– Foram publicadas na internet duas imagens da cozinha do apartamento em Guarujá, litoral de São Paulo, que a Operação Lava Jato ser do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado de ter recebido o triplex como propina da empreiteira OAS.
O curioso é o que o termo “triplex” vinha sendo usado para designar o apartamento maior e luxuoso, que teria sido reformado para receber o ex-presidente. As imagens, no entanto, desmontam a versão de uma reforma para entregar o imóvel a Lula, condenado sem provas na primeira e na segunda instância jurídica.
Inclusive, em janeiro deste ano, a Justiça do Distrito Federal determinou a penhora dos bens da construtora, dentre eles o triplex que a Lava Jato dizia ser do ex-presidente, preso desde o último dia 7, em Curitiba (PR), depois de ter seus Habeas Corpus negado pelo Supremo Tribunal Federal. Lula foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão pelo Tribunal Regional Federal da Quarta Região, sediado em Porto Alegre.
Luis Felipe Miguel: imagens do triplex desmontam acusação contra Lula
“A divulgação das imagens do famoso “triplex” cumpre papel importante. A crer na imprensa brasileira, o imóvel do Guarujá seria um novo Taj Mahal. O que vemos, no entanto, é um apartamento simples, acanhado, mal-acabado”, diz o cientista político Luis Felipe Miguel
Por Luis Felipe Miguel, em seu Facebook – A divulgação das imagens do famoso “triplex” cumpre papel importante. A crer na imprensa brasileira, o imóvel do Guarujá seria um novo Taj Mahal. O que vemos, no entanto, é um apartamento simples, acanhado, mal-acabado.
Por que isso é importante? Porque a disputa em torno da condenação de Lula tem duas dimensões. Uma é a dos argumentos jurídicos, das provas de culpabilidade, das evidências sujeitas a uma investigação racional. Quem é sensível a este aspecto já está careca de saber que o veredito de Moro é injusto.
Mas há a outra dimensão, que toca num imaginário difuso e emocional, que a própria palavra “triplex” aciona, com sua conotação de luxo e requinte. Nessa dimensão, que não está preocupada com provas, a resposta à campanha contra Lula é a que ele próprio dá: que ele jamais se sujaria por tão pouco.
Isso está cada vez mais evidente. Lula é daqueles que veem a si mesmos como figuras na história. É um sujeito que está na prisão por julgar que a busca por um asilo político, que lhe garantiria a liberdade, mancharia sua imagem. Não é alguém que se deixaria comprometer por uma propina.
Qualquer um que veja aquele apartamento no Guarujá, o pequeno e desgracioso apartamento real, não a opulenta fantasia que o noticiário alimentou por anos, e o compare com a dimensão política e histórica de Lula precisa admitir: a hipótese de que ele foi corrompido é profundamente descabida.
PIMENTA: ‘A MÍDIA SABE QUE O TRIPLEX NUNCA PERTENCEU A LULA’
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (RS), afirmou que, “após condenação sem crime e sem provas, agora mídia fala em tríplex ‘atribuído’ a Lula”; “Até eles sabem que esse apto nunca pertenceu ao ex-Presidente. Tudo foi uma farsa para tentar impedir Lula de voltar a governar o Brasil”
– No dia em que membros do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo Sem Medo ocuparam o triplex em Guarujá (SP) que a Operação Lava Jato atribuiu ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (RS), afirmou que, “após condenação sem crime e sem provas, agora mídia fala em tríplex ‘atribuído’ a Lula”. “Até eles sabem que esse apto nunca pertenceu ao ex-Presidente. Tudo foi uma farsa para tentar impedir Lula de voltar a governar o Brasil”, escreveu o parlamentar nesta segunda-feira (16) em sua conta no Twitter.
A condenação do ex-presidente foi contestada por vários juristas. Vale ressaltar que dia antes de o Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF4), sediado em Porto Alegre, condenar Lula, o que ocorreu no dia 24 de janeiro, 600 juristas divulgaram uma carta em cinco idiomas para o mundo, denunciado o estado de exceção judicial no Brasil, que tem dentre os alvos o ex-presidente Lula. Segundo o texto, “com cumplicidade de parte do Poder Judiciário, o Sistema de Justiça, não apenas em relação a Lula, mas especialmente em razão dele, tem sufocado o direito à ampla defesa, tratando-o de forma desigual e discriminatória e criado normas processuais de “exceção” contra ele e vários investigados e processados, típico ‘lawfare’, subordinado ao processo eleitoral” (leia aqui).
Quando o Ministério Público Federal denunciou Lula, em setembro de 2016, o procurador Henrique Pozzobon admitiu que não havia “prova cabal” de que o ex-presidente era o proprietário do apartamento, o que levanta dúvidas sobre a legalidade da condenação.
Antes de se entregar à Polícia Federal em São Paulo, no último dia 7, Lula fez um discurso histórico. “Não adianta tentar acabar com as minhas idéias, elas já estão pairando no ar e não tem como prendê-las. Não adianta parar o meu sonho, porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês e pelos sonhos de vocês”, disse. “Não adianta eles acharem que vão fazer com que eu pare, eu não pararei porque eu não sou um ser humano, sou uma ideia”.