Conforme o relato da CNN, a reunião durou duas horas. Dos três comandantes, dois enfatizaram a Bolsonaro que os pedidos de intervenção militar “não têm base legal”. Os atos, além do mais, “estariam gerado problemas de segurança e discussões internas dentro das corporações”. Era visível a insatisfação com o silêncio do presidente, que chegou a ficar 20 dias em reclusão.
Bolsonaro ouviu que, sim, há “militares inconformados” com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da eleição presidencial, em 30 de outubro. Esses militares “estariam fomentando os protestos, com a participação de parentes e amigos”. Mas, de acordo com os comandantes, esta não é a posição da cúpula das Forças Armadas, que vai seguir a Constituição.
Num segundo momento da reunião, Bolsonaro autorizou a participação das Forças Armadas na transição de governo. O Exército ficará responsável pelo cerimonial militar, enquanto a Aeronáutica passará a coordenar “as tratativas para segurança do espaço aéreo no dia da posse”. Já a Marinha vai preparar as honras a chefes de Estado no Itamaraty.
Nesse ponto, os comandantes comunicaram a disposição em entregar seus cargos antes mesmo da posse de Lula, marcada para 1º de janeiro. A Aeronáutica, por exemplo, marcou para 23 de dezembro a cerimônia de transmissão do cargo.
Segundo o Estadão, “as demais Forças pretendem fazer o mesmo em datas diferentes. Assim, a passagem de bastão de um governo para o outro começaria pelas Forças Armadas”. Bastaria Lula nomear os próximos comandantes. A proposta não é comum. Em geral, o novo ministro da Defesa assume o posto e, só então, nomeia os comandantes militares.
Um fato, porém, cristalizou a ideia de antecipar a transição: a cúpula militar é unânime no repúdio à escalada golpista do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que apresentou uma representação fraudulenta ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a fim de questionar o resultado do pleito. Na opinião de generais ouvidos pela Folha de S.Paulo, “a ação pode inflamar ainda mais as manifestações em frente aos quartéis”.
Em resumo: os militares são gratos pela deferência com que o governo Bolsonaro os tratou nos últimos quatro anos, mas não querem ser vistos como braços armados de um líder ou de um movimento antidemocrático. O golpismo, mais uma vez, perdeu a batalha.