Criticada pelos vazamentos seletivos de informações sobre investigados, força-tarefa vira vítima do próprio feitiço
– O feitiço virou contra o feiticeiro no caso da Lava Jato. Duramente criticada pelos vazamentos seletivos de informações em suas investigações, a força-tarefa teve agora mensagens secretas de seus membros, inclusive dos principais, Dalton Dellagnol e Sérgio Moro, divulgadas para todo o mundo pelo site americano The Intercept. “Força Tarefa reclamando de vazamentos? Nunca La Rochefoucauld foi tão oportuno: a hipocrisia é o tributo que o vício presta à virtude”, ironizou o jornalista Reinaldo Azevedo, um crítico dos métodos da Lava Jato.
A reação da força-tarefa às reportagens do site americano foi denunciar em nota a ação “criminosa” de um hacker, que teria praticado os “mais graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à segurança de seus integrantes”. Argumento rechaçado pelo jornalista em artigo no Uol:
“Note-se que (a nota) não nega, em nenhum momento, as, como posso chamar?, ações heterodoxas a unir procuradores e juiz. Prefere investir em teorias conspiratórias. Diz-se vítima de uma ação de hackers, o que é, vamos convir, mera suposição. Não deixa de ser curioso ver os valentes — justo quem! — a criticar vazamentos de informações”, cutucou Azevedo.
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O jornalista provoca a Lava Jato com uma pergunta: “Sem vazamentos industriados, o que teria sido da operação e de seu evidente projeto político? Essa violação é criminosa? E a indústria de vazamentos dos últimos cinco anos? E o eventual conluio entre setores do Judiciário e do Ministério Público?”.
Ainda em seu artigo, publicado nesta segunda-feira (10/06), Reinaldo Azevedo comparou os vazamentos na Lava Jato contra os seus investigados e os vazamentos de agora contra a própria força-tarefa. Suas palavras:
“Quando algo vaza da Lava Jato, é praticamente certo que um servidor público, que tinha o dever de guardar sigilo, desbordou de sua função. Fez-se, por acaso, alguma investigação? Nunca! No caso em questão, trata-se da divulgação de conversas de interesse público que circularam em ambientes privados de mensagem. Quem vazou não tinha o dever legal de guardar sigilo. E o tema é de interesse público. Lembremo-nos que, nos vazamentos sobre as conversas de Lula, nem mesmo se teve tal cuidado: coisas da vida doméstica do presidente foram submetidas à curiosidade e à maledicência públicas”.