O Brasil, um dos principais epicentros da pandemia atualmente, enfrenta uma crise sanitária catastrófica. Mas, por trás da tragédia, um duelo político se trava pelo futuro do país. Quem fala a respeito, em podcast publicado nesta quinta-feira (29) no site de Le Monde, é Bruno Meyerfeld, correspondente do jornal francês no Brasil.

“Enquanto um duelo político se desenha nos bastidores, o Brasil se afunda cada vez mais em uma tragédia sanitária”, diz Le Monde. De um lado, o jornal apresenta um presidente “coronacético e antivacina assumido”, autor de frases absurdas para desmoralizar a campanha contra a Covid-19. Do outro, o ex-presidente Lula, que se fez vacinar diante das câmeras e diz que Bolsonaro “tem que parar de ser ignorante”.

“É o maior drama humanitário da história do Brasil”, diz Bruno Meyerfeld. Ele lembra que especialistas acreditam que o Brasil vai chegar aos 600 mil mortos até final de julho. “Ou seja, o dobro dos números atuais”.

Meyerfeld conta sua experiência própria em visitar uma UTI de um hospital no Brasil. Ele disse ter ficado chocado ao ver uma ala inteira com pacientes de 30, 40, 50 anos. Ele se lembra especialmente de um jovem, entubado: Rafael, de 29 anos.

Falta de vacinas
Não se trata de falta de estrutura para a imunização, diz o repórter. “O Brasil foi um dos campeões da vacinação contra a H1N1 em 2009, vacinando 80 milhões de pessoas em 4 meses”, lembra.

A falta de imunizantes se dá, como na França, pela dificuldade de produção. Mas o repórter ressalta que no Brasil, a política antivacina de Bolsonaro é outro freio para deter a pandemia.

“Jair Bolsonaro é assumidamente contra a vacina. É um defensor inveterado da hidroxicloroquina, falando desde o início de ‘gripezinha’, da inutilidade das máscaras”, lembra Meyerfeld.

Lula pode vencer Bolsonaro
“Lula é um adversário muito sério, o único capaz de ganhar hoje de Bolsonaro”, diz o correspondente de Le Monde no Brasil. “Mas Lula também afasta muita gente e o ‘sistema’ teme a volta de um Lula vingativo”, reitera.

“Encontrei Lula na prisão há algumas semanas, depois de ter sido inocentado. Ele é um animal político excepcional, é a maior fera política da história do Brasil. Ele se compara a Joe Biden, sonha claramente com a volta, mesmo que não assuma, por enquanto, ser candidato. Mas ele se comporta como se estivesse em campanha, dá para ver que ele sente saudades das multidões”, conta o jornalista.

“O que pode influenciar a população?”, pergunta Le Monde. “Pode ser que até lá a maioria esteja vacinada e a pandemia não conte mais. O que vai estar em jogo é a política e, talvez, a ecologia. Bolsonaro perdeu apoio de Trump, e Biden é claramente a favor de proteger o meio ambiente. Isso pode ter impacto na campanha, mesmo que hoje o clima esteja totalmente ausente do cenário dominado pela pandemia e pela crise econômica”, conclui Bruno Meyerfeld.

Por RFI

 

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