Bolsonaro lhe abriu a porta do inferno. Agora descobre que, comparado a Marçal, ele é um amador
Primeiro, a má notícia: estamos ameaçados de ter Pablo Marçal como presidente. Agora, a boa notícia: ficaremos livres de Bolsonaro para sempre. É dos casos em que uma notícia não compensa a outra. Bolsonaro, por exemplo, não está achando graça em nenhuma das duas. Ao acompanhar atônito a escalada de Marçal rumo à, por enquanto, Prefeitura de São Paulo, consegue identificar e até antecipar cada movimento dele. Sabe muito bem como a história vai terminar —na qual ele, Bolsonaro, morre no final. Na verdade, seu enterro já saiu.
Bolsonaro está ciente de que Marçal, que aprendeu tudo com ele em violência e estupidez, vai esmagar seu opaco candidato Ricardo Nunes. Isso o obrigará a jogar Nunes aos cães, como fez com muitos outros, e, para sobreviver politicamente, juntar-se a Marçal, levando seus filhos hoje reduzidos aos zeros. Marçal talvez aceite o apoio, pela massa de votos bolsonaristas que isso lhe pode trazer. Mas, do jeito que as coisas vão, Marçal poderá ter esses votos jogando parado e ele próprio chutar Bolsonaro aos abutres. O que será bem feito, mas que vantagem levará nisso a democracia?
Bolsonaro abriu a porta do inferno para Marçal. Antes dele, Jânio Quadros, com a caspa na lapela, e Fernando Collor, a bordo de seus jet skis, já tinham sido eleitos em nome da antipolítica. Bolsonaro foi além. Estuprou o decoro presidencial, cuspiu na cara da nação, corrompeu meio mundo e deu shows diários de desumanidade, tudo para consolidar o espírito da antipolítica junto aos pacóvios.
Pois Marçal é Bolsonaro ao cubo —faz antes da eleição o que Bolsonaro só ousou fazer de faixa. Desmoraliza o processo eleitoral, zomba de suas condenações criminais, devolve os epítetos de bandido e ladrão, chama todo mundo para a briga e define seus eleitores como idiotas, para deleite deles. É Bolsonaro sem filtro e sem meias palavras.
Já chamam Marçal de demente e descontrolado. Mas não há demência nem descontrole. Cada palavra, cada ofensa, cada gesto é calculado. Conhece seu gado, sabe o que quer e como chegar. Comparado a ele, Bolsonaro é um amador.