Homenagem no dia da Inconfidência Mineira tem servido aos governadores para agraciar amigos e aliados, escolhidos com claro viés ideológico
A entrega da Medalha da Inconfidência no dia de Tiradentes, 21 de abril, é um ato simbólico em que o Estado reconhece a importância dos trabalhos de pessoas ao povo de Minas. Mas, na prática, 67 anos após a sua criação, a homenagem não passa de um mero instrumento de bajulação política, entre tantos outros. E vai perdendo relevância. Sinal disso é a ausência este ano do maior agraciado, o presidente Jair Bolsonaro, que agradeceu a honraria, como mandam as boas maneiras, mas nem cogitou se deslocar até Minas para recebê-la; preferiu passar o domingão com a família.
Muitos homenageados, em variados segmentos de atuação, podem exibir feitos que os façam merecedores da honraria do Estado. O que não diminui o fato de que parte das medalhas é usada para afagar parceiros políticos. Neste ano, para não fugir à regra, o governador Zema está agraciando, além de Bolsonaro, o governador do Rio, Wilson Witzel. O governador mineiro tem identificação ideológica com o colega do Rio e o presidente, todos eles posicionados à extrema direita no espectro político-partidário. Se Witzel já fez algo por Minas, ou pelo menos conhece o estado, pouco importa. O que pesou em sua escolha como agraciado é a sua afinidade com Zema.
No governador anterior, não foi diferente. Só mudou o viés ideológico. O ex-governador Fernando Pimentel privilegiou os políticos de esquerda na distribuição das medalhas. Chegou a receber críticas pela ideologização da homenagem. Um dos agraciados no seu primeiro ano de governo foi João Pedro Stédile, o líder de um dos movimentos mais radicais de esquerda, o MST. O que gerou protesto de deputados conservadores. Ano passado, depois de medalhar diversos aliados do PT pelo país afora, a gestão Pimentel voltou a agraciar o MST com a medalha Grau Inconfidência, na pessoa do diretor Silva Neto.