A produção do mel de aroeira tornou-se um dos grandes potenciais dos apicultores no Norte de Minas nos últimos anos, especialmente após a conquista da Indicação Geográfica, comprovando características terapêuticas deste mel e os vários benefícios à saúde, chamando a atenção do mercado mundial. Diversas cidades produtoras iniciam neste mês o preparo para a colheita da nova florada, que já começa a colorir o cenário de mata seca, tornando-o rico para as abelhas. Em média, são produzidas 400 toneladas por ano somente deste tipo de mel na região.
No apiário de Geovanni Alves, na região de Bocaiuva, muitos favos já estão com o mel percolado. A expectativa dele é que a produção do mel de aroeira supere o que foi registrado em 2021. “Aqui para o nosso lado o ano passado foi ruim, produzi cerca de 600kg da aroeira. Apesar das chuvas intensas no início deste ano, a expectativa agora é atingir ou passar os 800kg. Hoje, o mel de aroeira representa um produto que está mostrando o Norte de Minas para o mundo, é da nossa região. Tem tido muito mais crescimento para o mercado, um produto com potencial e grande qualidade nutricional”, afirmou Geovanni, que já foi assistido pelo Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG).
Em Januária a expectativa também é de um bom aproveitamento da florada, ainda que neste momento não atinja patamares de anos anteriores. O produto, que até poucos anos atrás não era valorizado comercialmente, tem sido um dos principais sustentos do apiário de José Antônio Guedes Alves, que atua como apicultor desde 2005 e faz parte do ATeG nos últimos dois anos. “A florada ainda não está tão boa, mas, para este ano, a expectativa é chegar em cerca de uma tonelada. Sempre produzi mel de aroeira, mesmo na época que ainda não tinha valorização. Lembro que já houve alguns anos que distribuí de graça o que produzia, pelo preconceito com méis escuros que existia no mercado. Após essas pesquisas, valorizou muito. Hoje, o valor de venda dele é melhor do que o mel claro no meu apiário”, explicou o apicultor, que tem clientes no mercado local e em outros estados.
Técnico de campo do ATeG e com grande experiência na cadeia produtiva do mel, Gláucio Gurgel Spínola explica que a aroeira tem uma grande importância para a manutenção da renda e crescimento dos apicultores no Norte de estado. Ele destaca que a planta é extremamente adaptada ao semiárido e tem um diferencial grande: “Ela dá flores e produz néctar exatamente no período de seca. A florada da aroeira quebra um ciclo de vários meses sem chuvas, evita a ocorrência dos chamados ‘apiários sanfonas’, que só atuam nas águas. Se não fosse a florada da aroeira, estes apicultores ficariam sem produção por um período grande. Para 2022 devemos registrar uma produção mais modesta, porém, ainda assim importante e de boa expectativa”, comentou o especialista.
Segundo a Associação Pontense dos Apicultores e Meliponicultores (APAM), uma das entidades atuantes para o fomento da apicultura no Norte de Minas, a produção do mel de aroeira é a mais importante para os 120 associados da entidade. A expectativa para essa nova florada é que sejam produzidos um total de 12 a 15 toneladas da variedade.
“Todos associados produzem mel de aroeira e alguns fazem migração das abelhas para florada da aroeira, representando uma importante fonte de renda destes apicultores. E a expectativa de que o mel tenha uma melhor valorização aumentou ainda mais com o selo de Indicação Geográfica. Hoje estamos com nossa produção sendo entregue no entreposto do mel para a venda no atacado e também para envase com marca própria, disponibilizada nos comércios da região e também com a venda institucional para a merenda escolar”, explicou a presidente da APAM, Genilza Mendes Ribeiro, que destaca que a produção da associação também já conta com selo de Serviço de Inspeção Federal (SIF).
Conhecimento e técnica são importantes
Gláucio explica que a planta da aroeira é rica em energia, fazendo com que a abelha não tenha dificuldades com o néctar e reduzindo o trabalho para manusear o mel. “Neste caso a abelha tem rendimento grande e em pouco tempo um alto índice de produção dentro da colmeia. Com pouco trabalho, já está quase pronto para o que é exigido de qualidade deste mel”.
Mas, apesar do recurso natural tão valioso, a produção do mel de aroeira requer dos apicultores uma atuação ainda mais técnica, trabalho que tem sido feito ao longo dos últimos anos pela Regional de Montes Claros do Sistema FAEMG, através de cursos, treinamentos e dos diversos grupos de ATeG.
“Todo o processo de floração é muito curto aqui no Norte de Minas em relação a outros biomas. Por isso não adianta fortalecer o enxame só próximo da florada. É preciso estimular a rainha, manter uma alimentação artificial e manejo adequado, para entrar na florada com enxame bem forte. Para o produtor que não recebe a assistência técnica e não se preocupa com estes pontos importantes a tendência é a produção cair. Estes são alguns dos diferenciais levados pelo ATeG. Não é só colocar a abelha no mato e ficar coletando mel”, alertou Gláucio Gurgel.
Como a aroeira é tipicamente da mata seca, os longos períodos de chuva podem ser prejudiciais. Neste aspecto, os apicultores precisam ficar atentos à quantidade de pólen que as abelhas vão levar para dentro dos enxames. “A aroeira produz muito pólen. Em solos mais secos a aroeira abriu mais. E o produtor precisar ficar atento nessa variação das primeiras que vão florir, que vão levar pólen para dentro do enxame. Em excesso, este pólen pode enfraquecer o enxame, e o apicultor precisar manter sempre certo espaço no enxame para a rainha fazer a postura. São cuidados pontuais para evitar um enxame fraco e a baixa produção”, finalizou Gláucio.
Foi exatamente após a chegada de novos conhecimentos no apiário, que José Antônio Guedes viu a produção crescer. Hoje, com 141 caixas produtivas, com destaque ao mel de aroeira, 90% do sustento e da renda da casa vem da produção de mel. E não é só ele que tem apostado e investido na cadeia produtiva de produtos apícolas. “Comecei com muitas dificuldades, sem estrutura. Aqui na região já teve períodos que eu fiquei sozinho como apicultor, muitos desistiram. A chegada do ATeG contribuiu bastante, valorizando o trabalho no campo e o produto final. E isso ajuda na valorização do mel de aroeira, o que é gratificante. Hoje temos vários apicultores vivendo da apicultura, tendo o mel de aroeira como carro-chefe. Agora muitos jovens estão sendo atraídos para a atividade, com conhecimento e técnica desde o início”, destacou o apicultor.
Presente nas primeiras turmas de ATeG Apicultura no Norte de Minas, Geovanni Alves, que hoje tem cerca de 220 caixas com produção de mel, lembra como foi o início da atividade e o patamar atual, com a região sendo cada vez mais reconhecida pela produção de méis especiais.
“O crescimento da apicultura é algo sensacional. Ouço de muitos apicultores mais velhos que falavam da dificuldade de se manter o apiário. Hoje estamos com cooperativa, entreposto. Vemos o nosso trabalho, o trabalho da FAEMG e junto aos demais órgãos envolvidos, sendo respeitado, trazendo este reconhecimento, levando o nome da cidade e da região. Hoje o mel de aroeira representa um produto que está colocando o Norte de Minas para o mundo. Eu acredito muito em mais crescimento. O mel da aroeira será minha aposentadoria. Quem estiver aportado com essa produção vai longe. A produção de mel vai nos levar a caminhos que nós mesmos nem acreditamos”, finalizou o apicultor de Bocaiuva.
Texto: Ricardo Guimarães
Fotos: Jozelia Aparecida Ribeiro de Melo, técnica de campo do Programa ATeG