Com apenas um dos 37 ministérios do presidente Lula, estado tem cargos ocupados em setores estratégicos de várias pastas – Nilmário Miranda, assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade(foto: Tulio Santos/El/D.A Press – 26/10/2020
Por trás dos discursos e das decisões tomadas por ministros do governo federal, assessores fornecem informações que subsidiam as escolhas feitas pelos “donos” da caneta. Sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vários postos no segundo escalão foram entregues a quadros de Minas Gerais. Embora o estado tenha ficado com apenas um dos 37 ministérios – Alexandre Silveira (PSD), nas Minas e Energia –, há mineiros espalhados por outras pastas, ocupando cargos estratégicos.
A lista de representantes de Minas em Brasília (DF) tem nomes veteranos, como o ex-ministro dos Direitos Humanos Nilmário Miranda, agora assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade. Há, também, figuras da nova geração petista, caso da economista Luiza Dulci, dona de importante sobrenome na trajetória do partido. Ela dá expediente na Secretaria-Geral da Presidência da República, chefiada por Márcio Macêdo, um dos homens de confiança de Lula.
Passados pouco mais de 40 dias do novo governo, os mineiros que compõem a estrutura federal citam termos com significados similares à palavra “reconstrução”, vista no lema oficial da terceira gestão de Lula. Ex-deputado federal e um dos pioneiros no debate a respeito dos abusos cometidos pelos agentes da ditadura militar (1964-1985), Nilmário aponta lacunas deixadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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“Com a criação de novos ministérios, como o das Mulheres, a gente (dos Direitos Humanos) vai focar na reparação dos assuntos referentes aos crimes cometidos na ditadura porque todo o trabalho de retificação e investigação, como a busca por restos mortais, foi interrompido nos últimos seis anos, principalmente no governo Bolsonaro”, diz em entrevista ao Estado de Minas. “Aqui na Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade foi tudo destruído. Agora, vamos retomar o trabalho com dois focos principais: anistia e desaparecidos políticos”, emenda.
Em outra sala da Esplanada dos Ministérios está Luiza Dulci. A sobrinha de Luiz Dulci, chefe da Secretaria-Geral da Presidência durante os dois primeiros governos de Lula, é doutora em sociologia e, no ano passado, concorreu a deputada estadual. Nomeada como gerente de projeto, atua diretamente com Maria Fernanda Ramos Coelho, secretária-executiva da pasta. “A principal tarefa da Secretaria-Geral é ser a porta de entrada para as demandas dos movimentos sociais e fazer essa articulação política, dentro do governo, a partir do que chega da sociedade civil”, explica.
Luiza protesta contra a desidratação de conselhos de políticas públicas. “A maior parte dos conselhos foi desativada ou mesmo extinta formalmente. Agora, estamos no esforço de reativá-los”, pontua. Segundo a assessora de Márcio Macêdo, ainda neste mês Lula vai participar de um ato para simbolizar a retomada dos trabalhos do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), extinto em 2019.
Na semana passada, aliás, André Quintão, outro mineiro, teve papel importante na reunião que aprovou o Programa Emergencial de Fortalecimento do Cadastro Único (CadÚnico), base de dados utilizada pelo poder público para identificar famílias que precisam ser assistidas por programas sociais.
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(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press %u2013 7/9/22)
Componente da equipe do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Quintão foi deputado estadual pelo PT de Minas e, no ano passado, concorreu a vice-governador na chapa de Alexandre Kalil (PSD). Agora, chefia a Secretaria Nacional de Assistência Social. Em dezembro, ele já havia apontado ao EM a necessidade de mapear potenciais beneficiários de ações como o novo Bolsa-Família, que começou a repassar, em janeiro, R$ 600 mensais aos núcleos familiares cadastrados. “A gente precisa fazer com que as pessoas que não recebem o Bolsa-Família, mas têm direito, o recebam. E, também, qualificar o CadÚnico para que, de fato, o recurso seja bem utilizado.”
A avaliação vai ao encontro de um problema verificado no CadÚnico. Logo que assumiu o comando da pasta de Desenvolvimento Social, o ministro Wellington Dias (PT-PI) afirmou que, em agosto do ano passado, uma significativa interrupção no fornecimento de energia gerou indisponibilidade dos serviços prestados pela plataforma que compila os dados dos beneficiários. A falha pode ter prejudicado parte dos brasileiros em situação de vulnerabilidade, que, em virtude do incidente, teriam ficado sem receber os repasses a que têm direito.
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(foto: Reprodução da internet)
No trabalho e na saúde
No Ministério do Trabalho e Emprego, uma das principais funções foi entregue a Lene Teixeira, ex-vereadora de Ipatinga, no Vale do Aço. Filiada ao PT, ela é a chefe de gabinete do ministro Luiz Marinho, também pertencente às fileiras do partido. No cargo, Lene cumpre atribuições como a organização da agenda de Marinho. “Há um olhar comprometido com o projeto de reconstrução, considerando a importância da reinserção dos trabalhadores na economia”, garante, dizendo que a atual gestão herdou um “desmonte” das políticas de defesa do emprego.
Segundo a ex-vereadora, estão sendo montados comitês para tratar, com representantes dos trabalhadores, sobre temas ligados aos direitos dos empregados. “As centrais sindicais encontraram uma porta aberta para a discussão e a inserção em mesas de negociação”, assinala. Ainda conforme Lene, setores do empresariado também têm procurado Marinho em busca de reuniões. “Trago uma bagagem das políticas públicas e a capacidade de diálogo com diferentes segmentos. Posso auxiliar o ministério contribuindo com a articulação, ajudando na entrega das políticas públicas que cabem ao Ministério do Trabalho.”
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(foto: Luiz Santana/ALMG)
Ainda que indiretamente, a geração de empregos também deve pautar a atuação de Rodrigo Leite. Ex-vice-presidente da Fundação Ezequiel Dias (Funed), onde é funcionário de carreira, ele foi convidado para compor a equipe do Ministério da Saúde. A chefe da pasta, Nísia Trindade, já solicitou ao governo de Romeu Zema (Novo) a cessão de Leite para o governo federal. Em Brasília (DF), ele vai atuar como coordenador-geral de Serviços, Informação e Conectividade do Departamento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde. O setor está ligado à Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde.
Em termos práticos, os funcionários do departamento onde Leite vai bater ponto trabalham para desenvolver estratégias que potencializam a produção industrial em saúde e a inovação. “É uma oportunidade não só de darmos as respostas que o Sistema Único de Saúde (SUS) precisa, mas, também, um grande espaço de desenvolvimento econômico. Ele (o Complexo Econômico-Industrial da Saúde) é gerador de empregos, coloca o país em outro patamar, ajuda na reindustrialização nacional e a fomentar e trazer o desenvolvimento tecnológico que precisamos”, vislumbra.
Leite aponta a pandemia de COVID-19 como marco para a necessidade de aumentar a atenção dada à indústria da saúde. “No Brasil, faltou o básico, (como) luvas e máscaras. Tivemos de importar tudo. Agora, está na hora de a gente desenvolver esse complexo econômico para que o Brasil deixe de ser importador e, quando houver um surto ou outras pandemias, estar preparado com uma base industrial capaz de fornecer o que precisamos”.