– Em defesa do Velho Chico – Por Manoel Freitas –

“Eu viro Carranca para defender o Velho Chico”. Mais do que a cara feia e a força desse símbolo norte-mineiro que, segundo a crença popular, afasta os maus espíritos, o rio São Francisco precisa de união de esforços do poder público e da população para ser resgatado de uma das condições mais críticas de sua história.
Apesar da importância do rio da integração nacional, que passa por cinco estados e 521 municípios, o assoreamento e a poluição castigam o curso d’água.

Para livrar o rio desse triste cenário, um encontro acontece nesse fim de semana em Januária, no Vale do Peruaçu. Marcado para 3 de junho, Dia Nacional em Defesa do São Francisco, o evento “Eu viro Carranca para defender o Velho Chico” foi adiado por causa da paralisação dos caminhoneiros.

Mas hoje e amanhã, o evento realizado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), em parceria com a Secretaria de Turismo e Cultura de Januária, promete alertar a população e o poder público para os graves problemas que assolam o rio.

O evento acontece em Januária pela posição estratégica do município, pois está lado a lado com Pedras de Maria da Cruz, Bonito de Minas, Matias Cardoso e Manga, a última cidade de Minas banhada pelo Velho Chico.

O rio da integração nacional tem esse título por ser o caminho de ligação do Sudeste com o Nordeste. Desde a nascente, na Serra da Canastra, em Minas, até a foz, na divisa de Sergipe e Alagoas, percorre 2.800 quilômetros. A bacia hidrográfica irriga uma área quase igual à da França, abastecendo perto de 13 milhões de pessoas.

A grandiosidade e importância do rio, no entanto, esbarram nos bancos de areia no leito, que podem ser vistos até mesmo nos períodos de cheia, e o acúmulo de sedimentos, dificultando a navegabilidade.

Com beleza ímpar, o Velho Chico sofre ainda com o desmatamento de áreas verdes no seu entorno e de matas ciliares para produção de carvão vegetal, com os fertilizantes e defensivos agrícolas que poluem as águas.

Mais ainda, é degradado com os garimpos ilegais, irrigação e as barragens hidrelétricas que desviam o leito, reduzindo a vazão e alterando a intensidade e época das enchentes.

CRISE
Tudo isso contribui para que o São Francisco viva a maior crise de escassez de água já registrada na bacia, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Situação que vem se repetindo nos últimos anos – 2013 e 2014 foram os campeões de baixa vazão de água no rio. Os meses de janeiro e fevereiro de 2015 também apresentaram os piores números da média histórica.

Um contraste com um passado de fartura, época em que pelas águas caudalosas circulavam grandes vapores, rasgando a correnteza, levando mercadorias e pessoas. Com o tempo, o leito do Velho Chico foi minguando, sendo sugado de um lado, aterrado de outro.

MOBILIZAÇÃO
A programação desse sábado e domingo tem, segundo os organizadores, o objetivo de conscientizar a população sobre a preservação do rio e mobilizar a todos pelo uso responsável dos seus recursos hídricos.

“Tendo a carranca como ícone, a ideia é chamar a atenção do governo e da população para os graves problemas enfrentados pelo rio e sua bacia”, ressalta Núbia Primo, assessora da Associação dos Municípios do Médio São Francisco. Segundo ela, “é necessária e urgente a revitalização do São Francisco, a fim de que ele continue alimentando a vida e a esperança dos 18 milhões de brasileiros que dependem direta ou indiretamente de suas águas”.

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PROTEÇÃO – Figura da carranca será usada para afugentar a crise de degradação pela qual passa o São Francisco – Foto: Manoel Freitas 

SOBREVIVÊNCIA – Com mais de 2.700 km, rio é fonte de renda e de sustento para milhares de famílias em Minas e mais quatro estados por onde passa – Foto: Manoel Freitas 

 

DESTRUIÇÃO – Assoreamento é um dos principais problemas que atingem o Velho Chico em Manga – Foto: Manoel Freitas 

BELEZA RARA – Paisagens de tirar o fôlego surpreendem quem se aventura em passeios pelo curso d’água – Foto: Manoel Freitas 

 

TRAVESSIA – Navegabilidade é cada dia mais difícil com o baixo nível das águas – Foto: Manoel Freitas 

Via: O Norte

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