– Faleceu na tarde deste Domingo (23), aos 72 anos de idade, o escritor Augusto José Vieira Neto, mais conhecido como Augustão Bala Doce. Ele foi encontrado já sem vida em seu apartamento, no Bairro Morada do Sol, em Montes Claros –

Colunista do EM CIMA DA NOTÍCIABala Doce foi advogado, professor universitário, juiz de direito e procurador-chefe de defensoria pública, e deixou tudo pela literatura, tendo publicado 12 livros: Casa do Direito (1979), Estórias do Bala – vol. I (1996), Estórias do Bala – vol. II (1997), Judiciário e Cidadania (1998), Balorizonte – Memórias (1999), Bala XXI (2000), Baladas – Poemas (2001), Bala 60 (2005), Nico Porreta (2009), Vou te contar… (2009), O roubo do pequi atômico (2012) e Meus Amigos… Minas Turmas… Meus 70 anos (2015).

Baladocianas – Augusto Vieira

A ACADEMIA MONTES-CLARENSE DE LETRAS
Sei que minha aldeia é um centro regional. Sei que muita gente de outras plagas veio para cá, gostou, ficou, constituiu família e deixou descendência. Sei de nossa integração com a Bahia. Costumo até dizer que sou “baianeiro”. Meu pai veio de Conselheiro Lafayette, nos anos 20, do século passado. Minha mãe é nativa. Meu bisavô, Ângelo de Quadros Bittencourt nasceu em Caeteté, na Bahia. Casou-se com duas irmãs Sá, da Fazenda Santo André, do antigo Brejo das Almas. Foi meu primo Francisco Sá que, como Ministro da Viação, trouxe a estrada de ferro para nós. Hospedou-se na casa de minha avó Zizinha, quando veio inaugurar.
Passei minha infância e juventude em minha aldeia e fui estudar fora porque ela ainda não tinha ensino superior. Voltei pra ela, onde exerci minha profissão de 1970 a 1982, quando ingressei na magistratura mineira, na qual fiquei até 1997, quando me aposentei, em Belo Horizonte. Continuei residindo em Belo Horizonte e em minha aldeia, depois de aposentado, para o que comprei nela um pequeno apartamento, aonde hoje resido sozinho, desde novembro de 2014, depois que requeri o meu divórcio e obtive a separação preliminar de corpos. Pelas minhas andanças, vê-se que eu jamais poderia ser xenófobo. No entanto, anotem bem isso, meus caros leitores: pelo andar da carruagem, dentro de pouco tempo, não teremos mais nenhum montes-clarense nativo nos quadros da Academia Montes-clarense de Letras. É preciso um trabalho de base nela, uma total reformulação. Aponto algumas coisas que poderiam ser feitas:
1 – Sede própria;
2 – Concursos literários, especialmente para a juventude;
3 – Seminários, simpósios, conferências sobre as obras dos antigos acadêmicos, já falecidos;
4 – Intercâmbio com outras academias nacionais, estaduais e municipais.
5 – Semanas literárias.
Academias de Letras não foram feitas para fazerem solenidades de lançamento de livros de seus membros. O escritor que pertence a uma Academia lança seu livro é para o público, nos lugares que ele julgar mais conveniente. Muitas vezes o escritor nem decide isso, mas sua editora e/ou distribuidora. Aqui é considerado desfeita, por exemplo, se eu lançar um livro no Quarteirão do Povo, como já fiz. Eles tem que fazer uma solenidade, constituir uma mesa e cansarem o publico com um chato discurso de apresentação da obra e com mais outras palavras de outros viciados, que não podem ver uma plateiazinha que fazem um discurso. O escritor se cansa e depois ainda vai dar autógrafos. Cansam o público. Depois eles saem do local com seus egos lavados e com suas vaidades satisfeitas.
Estou decepcionadíssimo com minha Academia, hoje comandada, na prática, por um jovem escritor, principiante, que fez a mim uma grande desfeita, emprenhando-se por falas maledicentes, sem sequer me dar o benefício da dúvida. Esse menino forasteiro encontrou apoio de antigo acadêmico, bem manjado, que dominou de fato a instituição e faz o que bem entende dentro dela. Nós, os acadêmicos – e eu sou dos mais antigos – não somos mais ouvidos para nada. Nem nos reunimos mais, como antigamente. Eles são imperativos. Não são pessoas dialógicas. Infelizmente. Se vagar uma cadeira eles colocam lá quem eles bem entenderem, até pessoas que nunca escreveram um livro sequer. E assim vão reforçando sua oligarquia, com o objetivo de se perpetuarem no poder…
Fica aqui registrado meu mais veemente protesto contra essa situação. Eles estão destruindo não é a mim, não. Tenho onde lançar meus livros, que são muito bem recebidos. Estão destruindo é nossa identidade cultural. E saibam que eu digo isso tudo sem pretensão de cargo. Jamais me candidatarei a qualquer cargo em nossa Academia. Só não quero é deixar morrer nossa História, nossa cultura e nossas mais caras tradições – aqui, é bom que se diga, sem qualquer reacionarismo de minha parte, mas apenas com a intenção de legar à juventude nossa identidade literária e, portanto, também cultural.
Vejam como eu era, quando tomei posse da cadeira 34, na presença de meu querido e inesquecível amigo Cyro dos Anjos, montes-clarense, membro da Academia Brasileira de Letras, para a qual minha aldeia, infelizmente, negou o fardão ao imortal montes-clarense nativo Darcy Ribeiro.

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