Faleceu nesta noite de quinta-feira (18), em São Paulo, o economista Walter Barelli, que foi Diretor-técnico do Dieese durante 22 anos, professor, ex-ministro do Trabalho e ex-deputado federal. Barelli ganhou notoriedade ao desmontar a farsa dos cálculos sobre índices da inflaçao durante a ditadura militar. Ele foi incansável na luta, ao lado dos sindicatos, contra o perverso mecanismo de “arrocho salarial”, que achatava os rendimentos da classe trabalhadora.

– Filho de um mecânico de manutenção e de uma tecelã, militante na universidade, bancário, corintiano, economista, ministro e secretário do Trabalho, deputado federal e professor, ele morreu na noite de ontem (18), uma semana antes de completar 81 anos. Estava internado havia três meses, em decorrência de uma queda durante evento em São Paulo. Viúvo, deixa três filhos (Suzana, Paulo e Pedro).

Barelli pensou em estudar Administração, mas o salário de funcionário do Banco do Brasil não era suficiente para pagar a mensalidade. Prestou vestibular e foi um dos primeiros, entrando na Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP). Formou-se em 1964 e não teve formatura, por causa do golpe. Nesse período, militou na Juventude Universitária Católica (JUC), que ajudou nas suas reflexões sobre os problemas brasileiros. Integrou també a organização política Ação Popular.

O economista entrou no Dieese em um período de perseguição ao movimento sindical, que sustentava o instituto, desativado em um primeiro momento e rearticulado aos poucos, sem deixar de sofrer tentativas de fechamento por falta de recursos. Mas resistiu e ganhou notoriedade externa em 1977, depois que um relatório do Banco Mundial mostrou manipulação nos dados oficiais de inflação no Brasil em 1973 – a estimativa mais próxima da realidade era a do Dieese. Nesse período, em 1975, o Dieese lançou um estudo chamado 10 Anos de Política Salarial, sobre o período autoritário. Os autores foram Barelli e o também economista Cesar Conconne.

O episódio das perdas inflacionárias de 1973 deu impulso às campanhas salariais a partir de 1977 e 1978 – um dos que telefonaram a Barelli querendo informações foi o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema (atual sindicato do ABC), Luiz Inácio da Silva, o Lula. A descoberta do “erro” na inflação oficial irritou o ministro da Fazenda em 1973, Delfim Netto, que atacou o Dieese e, em resposta, foi chamado de “lobo que perde o pelo”.

Barelli chegou a ser preso em 1979, primeiro ano do governo João Figueiredo, o último dos presidentes-generais. Em um dia de visita de Figueiredo a São Paulo, para tentar garantir que não houvesse protestos, os órgãos de segurança passaram a “recolher” pessoas. Barelli passeava perto de casa de bicicleta, sem camisa, quando foi levado para o Dops. Foi liberado no início da tarde.

O economista deixou o Dieese no início de 1990. Foi dar aulas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ao mesmo tempo, colaborou, durante quase dois anos, como coordenador da área econômica do chamado “governo paralelo” criado por Lula após as eleições presidenciais de 1989, quando perdeu no segundo turno para Fernando Collor. Em 1992, veio o impeachment e assumiu o vice, Itamar Franco, que levou Barelli para o Ministério do Trabalho. Ali, até 1994, ele fez uma verdadeira cruzada pelo país em defesa do contrato coletivo de trabalho, um esforço para tentar modernizar as relações capital-trabalho no Brasil.

Em São Paulo, foi por duas gestões secretário estadual de Emprego e Relações do Trabalho, de 1995 a 2002, nos governos de Mário Covas, que morreu em 2001 e foi substituído pelo vice, Geraldo Alckmin. Também exerceu parcialmente mandato de deputado federal, entre 2005 e 2007, pelo PSDB, cuja filiação manteve.

*Os dados biográficos são do jornal da Unicamp

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