A denúncia apresentada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, contra o ex-presidente Lula (e também contra a Senadora Gleisi Hoffmann, o ex-ministro Paulo Bernardo, Antonio Palocci e Leonardo Dall’agnol, chefe de Gabinete de Gleisi) é coisa das mais curiosas.
Por Fernando Brito
Seria o caso de uma “propina hibernante”, que teria sido produzida a partir de financiamentos do BNDES a obras da Odebrecht em Angola, no ano de 2010, que teria sido operacionalizada quatro anos depois, em 2014, em benefício de campanha da senadora paranaense.
Mas a história vai mais longe: seria a ampliação de uma linha de crédito existente há décadas para Angola, país com o qual cooperávamos desde 1974, ainda no Governo Geisel, quando o Brasil passou a ter uma postura ativa nos países africanos descolonizados por Portugal, no contexto da Revolução dos Cravos.
O empréstimo tinha garantias em recusos de petróleo, do qual Angola é um dos grandes exportadores mundiais.
É, até agora, algo sem pé nem cabeça, apenas recheio da delação premiada de Marcelo Odebrecht.
Como as delações de Palocci e a anunciada colaboração do ex-diretor Renato Duque, parecem fazer parte de um esquema de reação do “lavajatismo” à situação de perda de credibilidade que tiveram com a prisão de Lula.
Não há o menor vestígio material de que estes valores tenham sido recebidos.
Muito menos há lógica em que vantagens supostamente obtidas num ano eleitoral sejam “congeladas” para serem usadas quatro anos depois.
Mas há muito sentido em que, diante do questionamento generalizado sobre o que se está fazendo com Lula, a manipulação de acusações se intensifique, na base, pode ser que não haja “nada no Guarujá, mas em Angola, ah, lá tem”.