– “O ódio é a vingança do covarde” (George Bernard Shaw)

 A política e o ódio

(*) Felipe Gabrich

Historicamente, a chamada grande mídia nacional só divulga aquilo que vai ao encontro de seus interesses.

Pessoais ou econômicos.

A versão histórica nem sempre retrata a verdade dos fatos tal como ocorreram.

Deve-se ressaltar que o Brasil é um país onde o errado é que é o certo, já dizia o mestre Kafunga no século passado.

Desde ontem. Ou anteontem.

Ou desde o dia em que Cabral comprou o território do que viria a ser Brasil dos seus proprietários originais – indígenas-aborígenes – por 30 espelhinhos.

Tudo começou com a apuração de votos para o cargo de Presidente da República do Brasil, no segundo turno, no fatídico dia 26 de novembro de 2014.

A contagem de votos, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), teve início às 19h10m, logo após a chegada das urnas eletrônicas dos estados não afetados pelo famigerado horário de verão.

À medida que os votos iam sendo contabilizados, das diversas partes do país, acirravam-se, nas principais capitais, principalmente, as manifestações dos dois maiores partidos políticos envolvidos: de um lado o Partido dos Trabalhadores; do outro, o PSDB.

Até as 20h30m, a candidata Dilma Rousseff, do PT, que tentava a reeleição, estava à frente da apuração, quando, de repente, o candidato Aécio Neves, do PSDB, naquela mesma hora passou à dianteira da contagem oficial e disparou à frente da apuração, tudo indicando àquela altura da contabilização dos votos pelo TSE que ele seria o vencedor do acirrado pleito.

Por isso mesmo, o apartamento da irmã do candidato Aécio Neves, que acompanhava pela televisão os números anunciados pelo TSE, juntamente com o candidato a vice-presidente, Aluízio 30, em Belo Horizonte, encheu-se de partidários e puxa-sacos tradicionais, todos já comemorando eventual vitória da chapa peessedebista.

Até o apresentador Luciano Huck, da toda poderosa Rede Globo de Televisão, podia ser visto na telinha vibrando com os números divulgados, dentre outras figuras proeminentes do cenário político, social e econômico do país.

O mais emocionante estava ainda por vir: quando o relógio marcava 22h30m, o TSE passou a contabilizar os votos das urnas eletrônicas do “mandiocal” da candidata petista, momento em que esta reassumiu a ponteira da apuração eletrônica.

E abriu novamente vantagem de votos apurados sobre o adversário.

E o resultado final da apuração anunciado pelo TSE foi, apesar das emoções da contabilização voto a voto, surpreendente para parte da população brasileira. Vitória da candidata Dilma Rousseff, que obteve 51,6% dos votos apurados – 54.501.118. Aécio Neves conseguiu 48,3% dos votos válidos (51.041.155).

“Vamos unir o país”, disse entre abatido e tristonho o candidato derrotado logo após o resultado final e oficial, querendo se mostrar para o povo brasileiro como “um bom perdedor” em sua entrevista televisiva.

Mas na verdade não era essa a mensagem que ele gostaria de passar para a população, pois no dia seguinte o seu partido, do qual é o atual presidente nacional, pedia recontagem de votos junto ao TSE.

Também para os holofotes da grande mídia, momentos após o anúncio do encerramento dos trabalhos pelo TSE, o candidato a vice-presidente, o raivoso Aluízio 30, dava o tom do verdadeiro discurso oposicionista a partir daquele momento: “ela (referindo-se à presidenta reeleita Dilma Rousseff) não vai conseguir administrar o país. Ela ganhou, mas vai sangrar”, afirmou nervosamente.

Um jornalista mineiro, fanático por Aécio Neves, chegou a sugerir no jornal para o qual trabalhava, no dia seguinte, um novo mapa geográfico para o país, com a exclusão dos territórios abrangidos pelos estados do Norte e do Nordeste.

Nascia assim e ali, o ódio dos peessedebistas ao PT. Como chamas de incêndio avassalador, esse amargo rancor se alastrou pelos quatro cantos do país, contaminando alguns setores da vida nacional. E alguns simpatizantes do PSDB.

Também pudera e até é compreensível: o leitor já imaginou a dor lancinante de um torcedor apaixonado do Flamengo deixando o Maracanã superlotado após a derrota de seu time de coração com um gol de mão aos 47 minutos do segundo tempo de jogo, dois minutos da prorrogação de três?

É.

São esses sentimentos baixos e ranzinzas – lamentáveis e condenáveis – que alimentam a política nacional nos tenebrosos dias de hoje de um governo golpista.

Esse mesmo governo usurpador que, usando os deputados federais e senadores acumpliciados, dirige na atualidade a sua metralhadora de maldades não apenas contra ocasionais petistas, mas contra o próprio país e o seu pacato e ordeiro povo.

Tudo o mais que aconteceu no cenário político nacional em seguida é jogo para a arquibancada.

Inclusive, o famigerado golpe de estado parlamentar, apoiado pelas altas cortes do judiciário e pela chamada grande mídia nacional e que ameaça gravemente a combalida soberania nacional.

Como diria em sua ingênua filosofia o capiau norte-mineiro: será preciso desenhar?

(*) Felipe Gabrich é jornalista e parceiro do EM CIMA DA NOTÍCIA

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