Por José Henrique (Juca) Brandão*

Sem nenhuma pompa ou mesmo circunstância, o que é muito imperdoável aos que, por direito ou dever, deveriam homenageá-lo nesta marcante e significante data, principalmente as secretarias da educação e da cultura do município, na data de hoje e no momento em que se transcorre os seus 100 anos de nascimento.
Estamos nós e novamente, presentes neste dia 6 de abril de 2017, para reverenciar à sua memória. Fizemos tantas vezes em vida e depois de sua morte, referências ao maior prefeito que Bocaiuva já teve, Wan-Dyck Dumont. E tudo, pelos jornais e em revistas que circularam em Bocaiuva e Montes Claros. Agora ocupamos deste minifúndio (no dizer do saudoso Roberto Drummond), com o mesmo saudoso propósito.
No século dezenove, Bocaiuva, sob as bênçãos de seu padroeiro Senhor do Bom Fim, se destacava no cenário norte-mineiro pelas atitudes e desempenhos de seus filhos ilustres.
Durante o império, eram conhecidas da Corte, as brilhantes atuações do Cel. Pedro José Versiani, (Chefe da Guarda Nacional), Gonçalvo Cristóvão Pereira de Alkmim, o Guarda Mor das Minas de Dentro, do Alferes José Vieira de Mattos, Tenente Coronel, Cypriano Medeiros de Lima, depois Barão de Jequitaí e considerada a maior fortuna norte-mineira, no então Sertão ou Deserto – e do médico da Corte Imperial, José Agostinho Vieira de Mattos.
No século passado, além de vários nomes que ajudaram a forjar a história de Bocaiuva, ficou a lembrança dos que já se foram em antanho: Juca Versiani (filho de Clarindo Versiani), fundador da Fiat-Lux e presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro e Aguinaldo Caldeira Versiani, também filho de Clarindo Versiani, empresário de grande projeção no Rio de Janeiro. No rol desses notáveis, dois grandes vultos, Dr. José Maria de Alkmim, deputado federal, ministro da fazenda e vice-presidente da república – e Herbert José de Souza – o Betinho, conhecido internacionalmente, pelo seu combate à fome.
Na década de 1960 surgiu Wan-Dyck Dumont como prefeito. Um verdadeiro fenômeno político-administrativo. Modificou totalmente o aspecto da cidade, inserindo-a na modernidade. O povo começou a enxergar que “o azul não está só no céu, lá no alto. O azul está nas praças, está nas ruas, ondula nos montes, escorre nas árvores, cerca as pessoas. Onde se esteja há um canto de azul descendo do céu à terra, subindo da terra ao céu. São epigramas de azul nas paredes dos prédios, elegias de azul nos ramos das árvores, odes de azul nos largos, epopeia de azul a cada rua que se atravessa. (Versos de João do Rio)” Vivemos enfim, durante muito tempo, nesse cenário poético. Tudo continuava azul, pintado de azul.
Afinal o que se sabia mais deste homem, Wan-Dyck Dumont!
No dizer do escritor conterrâneo, Drummond Amorim: “há muitas maneiras de se começar a falar em Wan-Dyck Dumont. Uma delas, não importa se a mais presunçosa, é apelar para a filosofia e usar qualquer coisa como método socrático, a que chamaram maiêutica, conforme ensinam os compêndios. Assim, por meio de perguntas, orientadas para determinado fim, dobra-se habilmente o outro, levando-o a contradizer nas respostas até reconhecer um ponto de vista, muitas vezes contrário ou alheio ao que ele pensava antes.”
Por nós, acharmos que os homens vivem da razão e sobrevivem dos seus sonhos. Com Wan-Dyck Dumont não poderia ser diferente. Principalmente, ele que cultivava a sua boa razão e sempre respeitou a razão dos outros. Os seus sonhos, trazidos de sua então pequenina e simpática comunidade de Conceição do Barreiro, e forjado nos ensinamentos e nos exemplos vindo de seu pai, Francisco Dumont e de sua generosa e extraordinária mãe Lolota. Sonhos que desbravaram com ele, os áridos caminhos deste vasto sertão mineiro. Depois solidificaram, criando-lhe um mundo próprio, recheado de uma política diferente e que se tornou a própria essência de sua vida.
Há um conceito que, “o homem não é nem mal e nem bom, porque o impulso que obedece, é o resultado da sua formação perante à uma circunstância que surge num momento dado. O indivíduo responde ao implacável determinismo das forças estruturais da vida… e à carga hereditária aos quais sempre viveu e vive”.
Wan-Dyck Dumont, outrora, guarda-malas, cristaleiro e comerciante, estava acima de muitos conceitos de vida.
Viveu conciliando-se com o possível, embora alcançou muitas coisas impossíveis de serem alcançadas.
Quando chegou, jovem ainda, nos dias brilhantes e de matizes coloridas, quebrou vários tabus políticos e reconciliou o irreconciliável.
Depois de prefeito do município por três legislaturas, mesmo passando dos 80 anos, não se importou com as cores esmaecidas do outono e conviveu até o final, com os seus sonhos que se tornaram realidade e serviram de exemplos para todos os bocaiuvenses, francisco-dumonenses e tantos outros.
Ele dividiu a história da cidade de Bocaiuva. Antes e depois de Wan-Dyck, testemunham todos daquela e desta época.
E esta cidade, berço também dos políticos: Cícero Dumont e Patrus Ananias; dos escritores Drumond Amorim e Sebastião Geraldo Nunes, e de tantos outros nobres filhos, lhe agradecem.
Wan-Dyck conquistou e possuiu a nossa história, pois compartilhou de seu leito conjugal de prosperidade. A história de Bocaiuva volta sempre a seu encontro. E ela, a nossa história, vinha linda e esfuziante, de “deshabillé” amarelo, branco, azul ou da cor de preferência dele, oferecida e reconhecida.
*Jornalista 

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