A força que transcende a foto

Quem são as responsáveis pela imagem esportiva da semana


Mais do que registrar e eternizar belas jogadas e lances momentâneos, a fotografia esportiva tem um importante valor documental. Quando a foto transcende a barreira estática e transmite, continuamente, a força presente no momento da captura, torna-se item de fácil “viralização” na atual era das redes sociais.
Foi o que aconteceu, na última semana, com a foto da jornalista Pei Fon, que destacou um momento conturbado por volta dos 20 minutos da etapa complementar da partida entre CSA e Murici, válida pela terceira rodada do Campeonato Alagoano.
“O tumulto começou porque os jogadores do Murici alegavam irregularidade no gol. O goleiro foi mais incisivo na argumentação, o que gerou a imagem”, destaca a fotógrafa. Enquanto ao redor predominava exaltação e revolta, a assistente de arbitragem Raquel Barbosa exalava serenidade.

Raquel, a protagonista da foto, é ligada ao esporte desde a infância. Praticou várias modalidades até optar pelo curso de arbitragem, profissão que já exerce há quase 10 anos. Para ela, a grande repercussão da imagem não era esperada, tendo em vista que, na situação, estava apenas exercendo seu trabalho.

“Meu comportamento foi o padrão. Nós, árbitros, temos um acompanhamento psicológico que, aqui em Alagoas, é feito pela psicóloga Maria Daniela. A minha conduta foi decorrente dessa orientação que recebi para quando ocorresse situação parecida”, explica Raquel. Apesar da postura incisiva dos jogadores, a assistente de arbitragem ressalta que em nenhum momento foi agredida verbalmente, já que a atitude, classificada como antidesportiva, determina a expulsão do atleta.
Um olhar feminino para a situação
Talvez, um dos motivos da força transmitida pela imagem é o olhar também feminino responsável pela fotografia. A jornalista Pei Fon, por estar inserida no ambiente esportivo, conhece os desafios aos quais as mulheres – sejam elas repórteres ou árbitras – estão sujeitas.

“O fato de estarmos em lugares onde, majoritariamente, são masculinos causa um pouco de estranhamento. Eu costumo dizer que nós mulheres nos enxergamos como iguais, alguns poucos insistem em dizer que não. No futebol, existe sim uma resistência e, quando erramos, logo nos é atribuído o fato de ser mulher, de não entender. Mas nessa situação, Raquel foi mais que mulher, foi profissional de extrema frieza e competência. No momento que foi preciso ser dura, ela foi. A partir do momento em que ela percebeu que iria aumentar a discussão, ela se manteve plena e calada”, destaca Pei, que também precisa enfrentar a desconfiança em outra esfera: a musical, já que assina como editora-chefe de uma revista online de Heavy Metal. “Ainda não vivi uma situação como a que aconteceu (com Raquel). E, mesmo que aconteça, não vou esmorecer. Sou tão profissional como qualquer outro”, reforça.
A fotógrafa revela, ainda, que a intenção, na hora, era de poder auxiliar Raquel e tirá-la do local, temendo uma agressão. “Os seguranças estavam demorando a chegar e, no futebol, isso é possível. Já presenciei algumas reclamações mais quentes onde foi preciso conter os ânimos. O futebol é agressivo e quando você se sente injustiçado a tendência é reclamar”.

Raquel, por outro lado, conta que em nenhum momento temeu por tal atitude, e que se sente realizada ao ver a sua imagem relacionada à força feminina no esporte. “Fico muito feliz e quero muito ser uma forma de incentivo sobre como se portar sempre de forma ética no campo e não se desmerecer por ser mulher. A foto retrata a resistência feminina no esporte pois mostra que as mulheres têm, sim, capacidade física e psicológica para atuar nesse meio”, finaliza.

O post original, publicado por Ruthiléia Barbosa, irmã de Raquel, já conta com mais de 25 mil compartilhamentos.

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