* Por Moisés Mendes – Publicado originalmente no blog do autor
O raciocínio mais óbvio, a partir do episódio de Carla Zambelli ontem em São Paulo, é o que inverte as posições dos personagens.
O jornalista negro Luan Araujo persegue a deputada pelas ruas de São Paulo, com uma turma de capangas fortes (um deles armado).
Luan aponta a arma para Carla, invade um restaurante na perseguição e, com Carla cercada, ordena que ela se deite no chão.
Deitada, sempre cercada pelos capangas de Luan, Carla Zambelli é obrigada a pedir perdão por ter dito alguma coisa que Luan não gostou.
A deputada somente será liberada depois de admitir que havia ofendido o jornalista.
É uma cena inimaginável. É uma inversão improvável. Porque Luan não chegaria ao ponto de mandar que Carla se deitasse.
Ele não seria preso. Seria morto, seria assassinado pelos capangas da deputada ou por algum fascista que estivesse por perto.
Mas há uma cena que fica na periferia do episódio e que revela o Brasil em que uma branca fascista persegue um negro que por acaso é jornalista (o fascismo adora perseguir jornalistas).
A cena pouco notada é a da esquina, quando Luan foge dos seguranças e de Carla e um homem, que pode ou não ser da equipe da deputada, tenta dar uma tranca no rapaz.
Ele parece estar ali ao acaso. Esse cena é mais um resumo do Brasil deformado pelo bolsonarismo.
Uma extremista de direita persegue um rapaz negro (perseguiria se fosse branco?) e tem a ajuda de um negro que tenta derrubar o perseguido.
O raciocínio mais óbvio, a partir do episódio de Carla Zambelli ontem em São Paulo, é o que inverte as posições dos personagens.
O jornalista negro Luan Araujo persegue a deputada pelas ruas de São Paulo, com uma turma de capangas fortes (um deles armado).
Luan aponta a arma para Carla, invade um restaurante na perseguição e, com Carla cercada, ordena que ela se deite no chão.
Deitada, sempre cercada pelos capangas de Luan, Carla Zambelli é obrigada a pedir perdão por ter dito alguma coisa que Luan não gostou.
A deputada somente será liberada depois de admitir que havia ofendido o jornalista.
É uma cena inimaginável. É uma inversão improvável. Porque Luan não chegaria ao ponto de mandar que Carla se deitasse.
Ele não seria preso. Seria morto, seria assassinado pelos capangas da deputada ou por algum fascista que estivesse por perto.
Mas há uma cena que fica na periferia do episódio e que revela o Brasil em que uma branca fascista persegue um negro que por acaso é jornalista (o fascismo adora perseguir jornalistas).
A cena pouco notada é a da esquina, quando Luan foge dos seguranças e de Carla e um homem, que pode ou não ser da equipe da deputada, tenta dar uma tranca no rapaz.
Ele parece estar ali ao acaso. Esse cena é mais um resumo do Brasil deformado pelo bolsonarismo.
Uma extremista de direita persegue um rapaz negro (perseguiria se fosse branco?) e tem a ajuda de um negro que tenta derrubar o perseguido.
Um homem negro tenta derrubar um jovem negro caçado por brancos poderosos, porque a serviço de uma deputada de extrema direita.
Tem sido assim. Tem gay apoiando Bolsonaro e seus filhos homofóbicos e passando a perna em outros gays.
Tem negro apoiando racistas do governo, porque tem negro racista em cargo de poder em Brasília.
Tem padre que apoia o fascismo, mesmo que padres e bispos sejam perseguidos pelo bolsonarismo.
Tem professores, tem mulheres, jovens, pobres passando a perna em
professores, mulheres, jovens, pobres e apoiando Bolsonaro.
E tem agora, como retrato desse Brasil em que vítimas se aliam aos seus algozes, um negro tentando derrubar outro negro que foge de brancos armados.
O que assistiremos nos próximos dias é o debate se Carla Zambelli pode ser cassada. Não será cassada. Nenhum deles é cassado. A situação complicada é a do jornalista negro.
Nem se Bolsonaro for derrotado nesse domingo seus cúmplices terão problemas, não por enquanto. Carla Zambelli será protegida pelos seus e talvez não seja punida nem mesmo pelo TSE por andar armada e ameaçar negros nas ruas um dia antes da eleição.
E o negro que tentou passar a perna no outro negro? Esse deve estar frustrado por ser um péssimo ajudante de brancos bolsonaristas.
Abaixo, o vídeo com a cena:
* Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) – https://www.blogdomoisesmendes.com.br/