– Estarrecedora a reportagem da Folha sobre o clima de apreensão no império Odebrecht com a iminente soltura do delfim Marcelo, preso há dois anos. –
Via Fernando Brito – Tijolaço
Ao contrário do que deveria ser um momento de alegria, com a volta ao convívio com o filho do patriarca Emílio, “o ambiente, de acordo com executivos e delatores ouvidos pela Folha, é de preocupação”.
De acordo com pessoas com acesso ao empresário na prisão, ele se mostra insatisfeito com um acordo cujo resultado considera extremamente injusto, principalmente no que se refere à sua participação no pagamento de propina. Há o temor de que aponte omissões e imprecisões no acordo, tema frequente de conversas de quem o visita em Curitiba.
Ou seja, de que comece a evidenciar que as dezenas de delações de executivos da empresa – todos devidamente recompensados com prêmios em dinheiro do “patrão” – foram, na verdade, uma “conta de chegar” ao que deles exigia a Procuradoria Geral da República, no que até então – antes da JBS – era a “jóia da coroa” do jusdedurismo implantado no Brasil.
Porque, como registra o jornal, a delação “foi arquitetada por Emílio, que via nesse instrumento a única maneira de salvar os negócios da falência” e causou o rompimento entre pai e filho. Se um filho não importa à construção de uma narrativa que renda frutos nos negócios do império, o que importaria a verdade?
Tanto é assim que o jornal diz, já no título que o medo é que ele “aponte mentiras” no que foi delatado ou, é possível imaginar, que construa as suas próprias inverdades, para melhorar ou manter os termos de sua condenação.
Além do pai, Marcel, diz a Folha, estaria “rompido” com a irmã, Mônica, com o cunhado, Maurício Ferro, que também é diretor no grupo, e com a mãe, a quem era muito ligado, além do diretor jurídico do grupo, Adriano Maia, operador do acordo de delação.
Não admira que, para um clã que se confunde com um império de negócios, os laços de família sejam mais fracos que as correntes do dinheiro.
O que admira é que a Procuradoria da República não dê a mínima importância ao que pode haver de mentiras num acordo de delação que – sem tirar nem pôr de forma idêntica ao da JBS – é apenas uma operação de salvação comercial, ainda que isso custe a honra e a liberdade de terceiros.