– Eureka! Finalmente descobri! –

 

 Entre pulos de alegria, a alma do jornalista Reginauro Silva, sentada numa nuvem espessa, era um vendaval de alegria.
– Descobriu o que, Reginauro?” Perguntou-lhe curiosa a alma sentada ao seu lado, nada menos do que a do colega Luís Carlos Perereca.
– Andava meio grilado pelo fato de não chover sobre Montes Claros neste mês de outubro, embora todas as condições climáticas apontassem para um bom período chuvoso no território, além de minhas insistentes intercessões junto a São Rocha.
– São Rocha? Que bicho é esse?
– O Patriarca, A Pedra, O Barbudo, São Pedro, ou outro nome que você lhe queira dar, mas o guardião dos céus e braço direito de Deus para assuntos climáticos.
– Mas e daí?
– Daí é que eu estava encucado com as desconversas de São Rocha toda vez que eu ia lhe pedir, a pedido de algum amigo ou amiga lá da Terra, para que ele abrisse as torneiras e fizesse chover sobre Montes Claros.
– Mas o que você fez?
– Simples. Deixei-me conduzir pelo faro investigativo do repórter que fui lá na Terra e dirigi uma saraivada de perguntas a São Pedro, de maneira a encurralá-lo mesmo, acerca de seu proposital esquivamento com relação ao meu pedido de chuva para Montes Claros. Até que, finalmente, ele abriu o verbo comigo.
– Agora, o curioso sou eu. O que foi que ele lhe confessou?
– Rapaz, se eu contar o que eu ouvi da boca de São Rocha lá na Terra meus amigos vão dizer que eu estou dando uma de político brasileiro. Ou que eu estaria contando mais uma mentira. A verdade é feia mesmo.
– Afinal, o que lhe disse São Pedro?
– Você nem vai querer saber. Ele me disse que ele não pode fazer chover em Montes Claros por uma questão de autonomia de poder.
– Como assim?
– Segundo o que me revelou, ele não poderia fazer chover em Montes Claros sem a prévia autorização de Deus, que pode tudo. De acordo com as suas palavras, Deus respeita muito a autonomia de poderes e lhe confidenciou que em relação à chuva, Montes Claros seria um caso à parte.
– Mas, e daí?
– Daí é que ele tem poderes para fazer chover em Bocaiúva, Coração de Jesus, Juramento, Francisco Sá, Capitão Enéas e territórios adjacentes, mas não poderia fazer o mesmo com relação a Montes Claros. Sempre nos períodos demarcados anualmente pelas condições climáticas. O Norte de Minas, por exemplo, de acordo com o calendário celestial, é contemplado com períodos de chuva nos meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro. Pode acontecer de chover em outros meses, mas é uma gorjeta divina à região. São Rocha disse ter recebido ordem taxativa de Deus de que é preciso respeitar a autonomia dos poderes entre o céu e a terra.
– Quer dizer que São Pedro não quer que chova em Montes Claros no mês de outubro por uma questão de respeito à autonomia dos poderes?
– Foi isso mesmo que São Rocha me confidenciou. As nuvens nimbo estão sobre o território montes-clarense, mas ele não faz a mínima força para que elas se transformem em chuva. Há um decreto municipal, que ele não quis dizer quem foi que assinou, estabelecendo em seu artigo primeiro que não pode chover em Montes Claros durante o mês de outubro. Como lei é lei, São Pedro lava as mãos e não pode fazer nada pela cidade.
– E as orações e as súplicas dos fiéis não valem alguma coisa?
– Valem sim, mas elas são encaminhadas diretamente para Deus, já que São Pedro não quer ferir a lei municipal, disse conclusiva a alma de Reginauro Silva e completou:
– Por isso mesmo é que as chuvas em Montes Claros demoram um pouco!
* Felipe Gabrich é jornalista

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

doze + 6 =