Pesquisa realizada com camundongos demonstrou ótimos resultados; para ensaios clínicos é necessário transferir a tecnologia para a indústria farmacêutica (Divulgação)

Fitoterapia não é novidade. Nem coisa pouca. A utilização de plantas e raízes para amenizar dores e tratar males diversos já é parte da “medicina popular”. Mas vale ressaltar que o alcance vai muito além dos efeitos de um chá ou uma pomada de ervas. O estudo aprofundado do poder medicinal das plantas, principalmente relacionado a doenças crônicas, pode resultar no primeiro tratamento fitoterápico contra diabetes e obesidade no mundo. E o estudo é conduzido em solo mineiro.

A pesquisadora Fernanda Magalhães é professora do curso de medicina da Universidade de Uberaba (Uniube) e responsável por um dos projetos finalistas do Prêmio Euro 2023. Encampado pela Fapemig, a agência mineira de fomento à pesquisa, no ano passado, o trabalho foca nos efeitos da planta Plathymenia reticulata Benth, popularmente conhecida como vinhoto ou vinhático, no tratamento da diabetes tipo 1 em camundongos e, recentemente, associada à Azadirachta indica, conhecida como Neem, para o tratamento contra o tipo 2.

Segundo Magalhães, os primeiros resultados da pesquisa recente são muito satisfatórios e empolgantes.

No modelo experimental do diabetes tipo 1, ela (planta) diminuiu bem a glicemia dos animais, diminuiu os lipídios e diminuiu também o peso.
“Encontramos resultados que mostraram que a Plathymenia é muito boa. No modelo experimental do diabetes tipo 1, ela diminuiu bem a glicemia dos animais, diminuiu os lipídios e diminuiu também o peso”, diz a pesquisadora, lembrando que começou seu estudo com as plantas medicinais em 2005, inicialmente com o vinhático, para descobrir seu potencial.

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Ela conta que a sugestão de trabalhar com a planta veio da vivência de um aluno que relatou histórias de pessoas do interior de Goiás que utilizavam o chá do vinhoto para controlar diabetes. “Eu sou endocrinologista, trabalho muito com diabetes, e esse aluno perguntou se a gente não poderia desenvolver um projeto para estudar essa planta. Nós formatamos um projeto experimental com animais e o iniciamos. Teve um resultado positivo”.

Durante os anos e apresentações do projeto e dos resultados, os pesquisadores começaram a incorporar sugestões e aprimorar os testes. Em 2009, o grupo de pesquisa da professora entrou com um pedido de patente para o tratamento desenvolvido com a planta.

O projeto continuou se aprimorando e, em 2018, eles incorporaram às pesquisas a Azadirachta para potencializar o tratamento.

Origens
Enquanto o vinhoto é uma planta tradicional do Cerrado brasileiro, o neem é de origem indiana e comprovada eficácia contra enfermidades.

“Fizemos o estudo de toxicidade da Plathymenia por três meses. Foram 12 semanas de tratamento para ver se existiria alguma toxidade crônica e descobrimos que no extrato aquoso não tem”, diz a pesquisadora, sobre possíveis efeitos colaterais por causa do uso da planta.

Na indústria farmacêutica, fitoterápicos são transformadas em extratos, comprimidos ou em substâncias desidratadas. Desde 2006, o Brasil possui a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), que inclui e regulamenta a prática de terapias não convencionais, incluindo a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.

Com isso, o mercado internacional desses medicamentos vem recebendo investimento para pesquisas e aprimoramentos. Uma vantagem é o potencial de não apresentar efeitos colaterais, além do baixo custo de produção.

* Com informações da Fapemig

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