Uma pesquisa realizada pelo professor Antônio Carlos Ferreira, do Departamento de Saúde Mental e Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Montes Claros constatou uma alta incidencia de depressão entre as pessoas de baixa renda que são portadoras do vírus da Aids (HIV).

A pesquisa foi publicada na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e no site da Science and Development Network (SciDev.Net), uma rede internacional científica sem fins lucrativos para o desenvolvimento da ciência da saúde e ambiental, dentre outras.

O estudo apontou que este cenário, contribui para a diminuir a qualidade de vida dos pacientes. O professor da Unimontes realizou a pesquisa junto a 226 pacientes adultos portadores do HIV no Norte de Minas, escolhidos aleatoriamente, dos quais a grande maioria (90%) iniciou tratamento antirretroviral desde 2013 ou 2014.

O pesquisador constatou que 43,7% dos pacientes também eram portadores de sintomas depressivos e que o desemprego, a baixa renda e o fato de pertencerem às classes sociais mais baixas interferem diretamente para a perda da qualidade de vida deles. Entre os portadores do HIV entrevistados, 56,3% vivem com renda inferior ao salário mínimo.

O estudo, intitulado “Determinantes de Qualidade de Vida para Pessoas vivendo com HIV/AIDS em uma das Regiões mais Pobres do Brasil”, foi realizado pelo professor Antônio Carlos Ferreira durante quatro anos, abrangendo as etapas de elaboração e desenvolvimemto do projeto de pesquisa, entrevistas, tratamento estatístico de dados, conclusão e publicação.

O levantamento foi realizado como tese de doutorado em Ciências da Saúde, Infectologia e Medicina Tropical pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Durante a pesquisa, foram entrevistados pacientes soropositivos do Norte de Minas atendidos pelo serviço especializado do Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF/Unimontes), que é referência na assistência a portadores de Doenças Sexualmente Transmissíveis/DST/Aids na região do Norte de Minas.

Também foram ouvidos portadores de HIV/Aids atendidos por serviço especializado da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros e que funciona em uma das unidades de saúde da cidade. Conforme o responsável pelo estudo, 51,8%% dos entrevistados estavam desempregados. O mesmo percentual de 51,8% é formado por indivíduos com baixa escolaridade (apenas com o antigo curso primário) e 75% dos participantes da pesquisa têm entre 35 e 50 anos de idade.

O pesquisador lembra que, desde 1996, o Governo brasileiro garante o acesso universal e gratuito por parte de todos os portadores do HIV/Aids ao tratamento antirretroviral, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e reduzindo as taxas de mortalidade e o estigma contra a enfermidade. De acordo com dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Uniaids), o número portadores do vírus HIV no Brasil chegou a 830 pessoas (0,4% da população em 2016. Em 2017, a América Latina somava 1,8 milhão de pessoas vivendo com o HIV.

O estudo revela, ainda, que o grupo de mulheres é o mais vulnerável. “Quando ela descobre ser portadora do HIV dificilmente consegue um companheiro ao revelar que tem o vírus. Um homem consegue uma parceira muito mais facilmente na mesma situação. É muito comum que um homem abandone uma mulher com HIV, mas é mais raro que uma mulher abandone um homem soropositivo, seja ela portadora ou não do vírus”, disse.

O professor Antonio Carlos Ferreira salienta que os resultados mostram a necessidade urgente de vincular o tratamento antirretroviral dos portadores do vírus HIV/AIDS ao atendimento mental desses pacientes. “Para melhorar a qualidade de vida destas pessoas, precisamos oferecer um tratamento completo, desde o aspecto clínico com o especialista em doenças infecciosas, até a possibilidade de entrar em um serviço de saúde mental para que a depressão possa ser tratada”, afirma o professor/pesquisador.

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