O Partido Liberal (PL) oficializou, nesta quarta-feira, sua saída da base do governador Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Os onze deputados da sigla decidiram deixar o bloco governista Avança Minas e formar uma bancada independente, mais alinhada à direita. O afastamento marca um novo cenário político no estado e pode influenciar as eleições de 2026.
A decisão foi impulsionada por uma disputa interna pela liderança do Avança Minas, bloco formado por 25 parlamentares de oito partidos, incluindo o PL. A tensão começou nas eleições da mesa diretora no ano passado, quando os deputados Antônio Carlos Arantes e Gustavo Santana, ambos do PL, concorreram à 1ª Secretaria da Assembleia. Santana venceu, deixando Arantes sem cargo, o que gerou insatisfação e ameaçou um acordo para que Bruno Engler assumisse a liderança do bloco.
Durante o recesso parlamentar, Arantes tentou reverter o cenário para se cacifar ao cargo, mas a maioria da bancada optou por criar um grupo independente. Nove dos onze deputados do PL apoiaram a saída, consolidando Bruno Engler como líder da nova bancada. Inicialmente, havia a intenção de criar um novo bloco parlamentar, mas, por falta de adesão de outras siglas, a ideia foi descartada.
A ruptura foi motivada pelo descontentamento com o governo Zema. Segundo Cristiano Caporezzo, aliado de Engler, o governador não atendeu às prioridades dos parlamentares do PL. “O governo Zema precisa aprender que ser de direita é votar os projetos de direita e fazer com que a bancada apoie essas pautas. A população espera que um governador de direita tenha postura”, criticou Caporezzo.
O impacto da decisão já se reflete no cenário eleitoral para 2026. O PL tem se aproximado do senador Cleitinho (Republicanos), que já se coloca como possível candidato ao governo estadual, em oposição ao vice-governador Mateus Simões (Novo), favorito para suceder Zema. A formação da bancada independente na Assembleia pode consolidar essa aliança eleitoral.
O PL demonstra entusiasmo com a candidatura de Cleitinho. Em pesquisa da Quaest divulgada em dezembro, ele apareceu com 26% das intenções de voto, liderando o cenário. Já Simões, apontado como candidato da situação, registrou apenas 2%, sendo o menos viável entre os nomes testados.
A aliança entre Cleitinho e o PL não é novidade. Em 2020, durante as eleições para a Prefeitura de Belo Horizonte, o partido apoiou Bruno Engler como candidato bolsonarista, enquanto Zema preferiu Mauro Tramonte (Republicanos), se envolvendo apenas discretamente no segundo turno.
Mesmo quando integrava a base de Zema, o PL foi um dos partidos mais rebeldes. No final de 2023, Engler perdeu a vice-liderança do governo na Assembleia após votar contra um projeto que aumentava em 2% a alíquota de produtos considerados supérfluos.
O rompimento ocorre em um momento crucial para Zema, que busca projeção nacional para um eventual projeto presidencial. O governador tenta se firmar como uma alternativa viável para a direita e potencial herdeiro do eleitorado de Jair Bolsonaro. No entanto, em entrevista recente à CNN, Bolsonaro minimizou essa possibilidade, afirmando que Zema tem influência restrita ao seu estado. O ex-presidente teceu elogios ao governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), chamando-o de “bom nome” para a sucessão presidencial.
A separação entre Zema e o PL sinaliza um realinhamento político em Minas Gerais e pode influenciar diretamente as eleições estaduais e nacionais nos próximos anos. Com o partido agora atuando de forma independente, o cenário eleitoral mineiro ganha novos contornos e abre espaço para novas disputas e alianças