Não há uma adesão institucional das forças de segurança com o atual presidente e sua família – que incide sobre o governo –, mas uma associação de interesses em busca de poder através do discurso da violência

Por Jacqueline Muniz

“Este não é um governo militar no qual as Forças Armadas fazem no país a política do exército, e sim um governo de (com) militares que fazem a sua própria política para atender aos seus projetos pessoais de poder”. Assim a socióloga Jacqueline Muniz define o governo de Jair Bolsonaro, contrapondo aqueles que insistem em falar em adesões, em entrevista especial para o Instituto Humanitas Unisinos – IHU

Para ela, o mesmo vale para as corporações das polícias militares nos estados. “Os PMs, provenientes das periferias sociais, são pragmáticos e não têm tempo a perder com o que não afeta de maneira utilitária as suas vidas dentro e fora do serviço. Eles não têm nada a ganhar com esta suposta briga e com ela pouco se importam, uma vez que esta não muda absolutamente nada em suas rotinas funcionais subordinadas à máquina estadual”, completa.

Com larga experiência em pesquisas sobre o universo das polícias, Jacqueline insiste que não há uma adesão das instituições a esse governo. “A família Bolsonaro não desenvolve relações substantivas com instituições, sejam elas as policiais ou as Forças Armadas, e nem tem apreço por elas. As instituições têm pouca valia para este grupo já que atrapalham os seus negócios políticos”, enfatiza. Segundo ela, é preciso compreender que esses grupos não são homogêneos ou uma massa amorfa. O que há é uma aproximação de sujeitos dessas corporações que buscam satisfazer suas necessidades pessoais ou de seu pequeno grupo.

No caso das Forças Armadas, é uma espécie de tentativa de manter um status quo que prova que são importantes, e que não lhes cabe o pijama da reserva e nem as marcas da guerra ou do golpe. Isso porque compreende que a classe militar é “composta majoritariamente de gente de baixo que ascendeu pela carreira militar, que quer ter as coisas de classe média e levar uma vidinha burocrática e tranquila sem conflitos internacionais ou domésticos para atrapalhar”. Já dentro das PMs, a aliança é com sujeitos que também buscam regalias extras, sem abrir mão do contracheque estatal. “Assim, a família Bolsonaro conta com uma proximidade intencionalmente construída com policiais militares da base da pirâmide, os praças, com os quais se pode, mais facilmente, estabelecer uma lógica contratual uberizada de prestação de serviços recíprocos nos negócios da proteção”.

E com isso, nascem as milícias. Ao longo de toda a entrevista, Jacqueline analisa as relações de alguns sujeitos das forças policiais do Estado brasileiro com o campo da polícia – e com os políticos. Pois, compreender isso, em particular no caso das PMs, é também compreender as organizações que nascem daí. “Milícia não sobrevive sem braço político de apoio, favores, vantagens, privilégios e carteiradas. Por isso, ela é financiadora de campanhas eleitorais. As carreiras políticas servem como um ótimo investimento criminoso. Estas carreiras políticas são uma importante lavanderia do dinheiro extorquido da população pela milícia”, exemplifica.

Leia aqui a entrevista completa

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