Fila de pessoas em busca de trabalho, em São Paulo: todos os índices tiveram piora (Mauro Pimentel/AFP)

Taxa de informalidade chega a 39,6% e subutilização tem 1,171 milhões de pessoas a mais

O país registrou um recorde de 14,805 milhões de pessoas desempregadas no trimestre encerrado em março, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “É o maior contingente de toda a nossa série histórica”, apontou Adriana Beringuy, gerente da Pnad Contínua.

A taxa, também recorde, chegou a 14,7% no primeiro trimestre do ano, um aumento de 2,5 pontos percentuais (12,2%) em relação ao mesmo período de 2020, quando a pandemia do coronavírus atingiu o país. No trimestre terminado em março de 2021, faltou trabalho para um recorde de 33,202 milhões de pessoas no país, segundo o IBGE.

Foram 14,8 milhões de pessoas procurando trabalho no Brasil em março, 1,9 milhão a mais que há um ano. O recorde anterior, de 14,6%, datava do período julho-setembro de 2020. Seguiram-se quatro quedas consecutivas, antes de a curva voltar a subir a partir de novembro, segundo o IBGE, que faz seus relatórios com base nos trimestres móveis.

O IBGE também mostrou que a soma do contingente de desocupados com o de subempregados (com número insuficiente de horas trabalhadas) chega a 33,2 milhões, outro recorde preocupante, com aumento de 1,2 milhão em relação ao período janeiro-março de 2020, antes da pandemia. O total de desocupados cresceu 6,3% em relação a dezembro, 880 mil pessoas a mais em busca de uma vaga.

O Brasil alcançou um recorde de 5,970 milhões de pessoas em situação de desalento no trimestre. A população desalentada é definida como aquela que estava fora da força de trabalho por uma das seguintes razões: não conseguia trabalho, ou não tinha experiência, ou era muito jovem ou idosa, ou não encontrou trabalho na localidade – e que, se tivesse conseguido trabalho, estaria disponível para assumir a vaga. Os desalentados fazem parte da força de trabalho potencial.

O resultado significa 182 mil desalentados a mais em relação ao trimestre encerrado em dezembro, um aumento de 3,1%. Em um ano, 1,2 milhão de pessoas a mais caíram em situação de desalento, alta de 25,1%.

A população ocupada somou 85,650 milhões de pessoas, 529 mil trabalhadores a menos em um trimestre. Em relação a um ano antes 6,573 milhões de pessoas perderam seus empregos. A população inativa somou 76,483 milhões de pessoas no trimestre encerrado em março, 225 mil a mais que no trimestre anterior. Em relação ao mesmo período de 2020, a população inativa aumentou em 9,202 milhões de pessoas.

O nível da ocupação – porcentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar – caiu de 53,5% no trimestre encerrado em março de 2020 para 48,4% no trimestre até março de 2021. No trimestre terminado em dezembro de 2020, o nível da ocupação era de 48,9%.

Informalidade e subutilização

De acordo com a Pnad Contínua, do IBGE, o Brasil alcançou uma taxa de informalidade de 39,6% no mercado de trabalho no trimestre até março, com 34,029 milhões de trabalhadores atuando informalmente. Em um trimestre, 69 mil pessoas a menos atuavam como trabalhadores informais. A proporção de trabalhadores ocupados contribuindo para a previdência social ficou em 64,4% no trimestre até março.

A taxa composta de subutilização da força de trabalho subiu de 28,7% no trimestre até dezembro para 29,7% no trimestre até março. O indicador inclui a taxa de desocupação, a taxa de subocupação por insuficiência de horas e a taxa da força de trabalho potencial, pessoas que não estão em busca de emprego, mas que estariam disponíveis para trabalhar. No trimestre até março de 2020, a taxa de subutilização da força de trabalho estava em 24,4%.

A população subutilizada subiu 3,7% ante o trimestre até dezembro, 1,171 milhão de pessoas a mais. Em relação ao trimestre até março de 2020, houve um avanço de 20,2%, mais 5 582 milhões de pessoas.

Em todo o Brasil, há 7,032 milhões de trabalhadores subocupados por insuficiência de horas trabalhadas. O indicador inclui as pessoas ocupadas com uma jornada inferior a 40 horas semanais que gostariam de trabalhar por um período maior. Na passagem do trimestre até dezembro para o trimestre até março houve um aumento de 241 mil pessoas na população nessa condição. O país tem 565 mil pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas a mais em um ano.

Fechamento de vagas

O trimestre encerrado em março de 2021 mostrou um fechamento de 315 mil vagas com carteira assinada no setor privado em relação ao trimestre encerrado em dezembro. Na comparação com o trimestre até março de 2020, 3,526 milhões de vagas com carteira assinada foram perdidas no setor privado, segundo o IBGE.

O total de pessoas trabalhando com carteira assinada no setor privado foi de 29,570 milhões no trimestre até março, enquanto outros 9,691 milhões atuavam sem carteira assinada, 294 mil a mais que no trimestre anterior. Em relação ao trimestre até março de 2020, foram extintas 1,333 milhão de vagas sem carteira no setor privado.

O trabalho por conta própria ganhou 565 mil pessoas a mais em um trimestre, mas ainda tem 322 mil a menos que o patamar de um ano antes, totalizando 23,837 milhões de pessoas. O número de empregadores diminuiu em 153 mil pessoas em um trimestre. Em relação a março de 2020, o total de empregadores é 616 mil inferior.

O país teve um aumento de 34 mil pessoas no trabalho doméstico em um trimestre, para 4,936 milhões de pessoas, mas esse contingente ainda é 1,035 milhão menor que no ano anterior. O setor público contratou 159 mil ocupados no trimestre terminado em março de 2021 ante o trimestre encerrado em março de 2020. Na comparação com o trimestre até dezembro de 2020, foram fechadas 351 mil vagas.

Apenas a agricultura gerou empregos

Na comparação anual, o único setor que registrou aumento de pessoal foi a agricultura (+ 4%, ou cerca de 329 mil pessoas), enquanto a redução da força de trabalho na indústria foi de 7,7% (-914 mil pessoas). A construção demitiu 361 mil, o comércio dispensou 1,636 milhão. O setor de informação, comunicação e atividades financeiras demitiu 55 mil. Transporte perdeu 542 mil vagas e os outros serviços demitiram 917 mil pessoas.

Outros setores que foram duramente atingidos foram hotelaria e alimentação (-26,1%, o que representa uma redução de 1,4 milhão na força de trabalho). “Essa redução na maioria dos grupamentos de atividades reflete o cenário da pandemia. De modo geral, a maior parte das atividades econômicas tem menos ocupados do que há um ano”, comentou Adriana Beringuy, responsável do estudo do IBGE.

Contração e PIB

A economia brasileira contraiu 4,1% no ano passado, um resultado muito melhor do que o esperado quando a pandemia estourou, graças ao auxílio emergencial pago pelo governo a quase um terço da população durante nove meses. O auxílio foi retomado em abril deste ano, por quatro meses, embora em valor inferior e com menos beneficiários.

Segundo as projeções, o PIB da maior economia da América Latina resistiu à segunda onda da pandemia, com crescimento que poderia chegar a 1,6% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior. Mas isso seria devido a um relaxamento das medidas de confinamento considerado prematuro por muitos analistas, que alertam para o risco de uma terceira onda iminente da doença.

A massa de salários em circulação na economia encolheu R$ 15,205 bilhões no período de um ano, para R$ 212,514 bilhões, uma queda de 6,7% no trimestre encerrado em março em relação ao mesmo período de 2020. Na comparação com o trimestre terminado em dezembro, a massa de renda real caiu 1,5%, com R$ 3,159 bilhões a menos. O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve queda de 0,9% na comparação com o trimestre até dezembro, R$ 22 a menos. Em relação ao trimestre encerrado em março do ano passado, a renda média subiu 0,8%, R$ 20 a mais, para R$ 2.544.

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