O problema do abastecimento de água à população de Montes Claros é ainda muito mais grave do que esse famigerado e emergencial racionamento imposto pela Copasa
* Por Felipe Gabrich
O povo da cidade ainda não sabe o que é falta de água, igual à experimentada no ano passado pela população de São Paulo, que hoje está bebendo água de esgoto tratado pela Copasa de lá.
A empresa estadual tem que parar com essa mania de mentir à população por meio de palavras políticas e técnicas ininteligíveis.
A barragem de Juramento é responsável por 65% da água consumida pela população e o reservatório está secando pela falta de água represada.
E os outros 35%?
Por que as chamadas autoridades competentes não falam da precariedade dos reservatórios de Porcos/Pacuí, Rebentão dos Ferros e Pai João/Cedro de onde vêm os outros 35% da água consumida pela população?
O projeto da captação de água do Rio Pacui, segundo explanação feita por técnicos da concessionária em Audiência Pública realizada neste ano pela Câmara Municipal, prevê a captação de 300 litros por segundo, sendo que para o abastecimento normal à população montes-clarense seriam necessários 885 litros por segundo.
A Copasa, que em julho estava retirando apenas 370 litros por segundo e previa captar 250 litros por segundo em setembro deste ano, não vai resolver o problema de abastecimento de Montes Claros com a captação do Rio Pacuí, por uma simples questão de matemática.
Os 250 litros por segundo da barragem de Juramento somados aos 300 litros por segundo dessa nova captação não são suficientes para se atingir os 885 litros por segundo necessários ao abastecimento de Montes Claros.
A água faltante seria oriunda dos precários reservatórios de Porcos/Pacuí, Rebentão dos Ferros e Pai João/Cedro?
Ou a água dos poços tubulares é que vai ser a varinha de condão para resolver a carência de água para o abastecimento em Montes Claros?
É muito fácil jogar a culpa no desleixo cultural do povo, que desperdiça acintosamente o precioso líquido.
O desperdício.
O grande vilão a ser utilizado pela falácia da empresa para camuflar a sua incompetência.
Por que não se discute, por exemplo, a barragem de Congonhas, cujas águas represadas poderiam salvar a barragem de Juramento? Não seria àquela obra a salvação da lavoura? E as águas da bacia do Tiririca, bem ali na entrada para o distrito de Santa Rosa de Lima, não seriam alternativa para o problema do abastecimento humano de Montes Claros?
Não há outras opções técnicas e econômicas?
Dorme a malsinada Copasa. Há muito anos dorme sobre uma questão já prevista há mais de 30 anos pelo então governador de Minas Gerais Francelino Pereira: “A barragem que hoje inauguramos é apenas um pequeno passo para a resolução de um grande e grave problema da Montes Claros de amanhã”.
E se o Rio Pacuí, que já anda à beira da morte, secar de vez?
Ou como diria o poeta catrumano: ETE que quá!
* Jornalista