Concentração de automóveis em frente ao estádio do Pacaembu, em São Paulo, para a carreata convocada pelo MBL e o Vem Pra Rua.

 Pautas mais abstratas (política de alianças e macroeconomia) levou menos manifestantes às carreatas da direita. Mas gestão da pandemia uniu conservadores e progressistas em torno do Fora Bolsonaro.

Por Cezar Xavier – Vermelho

A direita do Movimento Brasil Livre (MBL) e do Vem Pra Rua preferiu manter suas manifestações aos domingos, como faziam pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Assim como os movimentos e partidos de esquerda da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo, que pediram o Fora Bolsonaro em carreatas por todo o país, neste sábado (23), eles também fizeram buzinaços com automóveis pelas avenidas das principais cidades do país.

As mobilizações da direita também estavam programadas por todo o país, mas mostraram-se menos exitosas que aquelas de sábado, quando centenas de cidades participaram com carreatas que reuniam centenas de automóveis. A ideia de reunir automóveis foi uma forma de protestar evitando contágio pelo novo coronavírus. As mobilizações da direita costumam ocorrer aos domingos, devido a parcelas do comércio que permanecem abertas no sábado e não podem participar.

O motivo da diferença de tamanho das mobilizações pode ser as pautas levantadas pela direita conservadora. As lideranças falaram em estelionato eleitoral, ou seja, como apoiaram a eleição do presidente Bolsonaro, sentem-se enganados. São contrários à aliança do governo com o chamado “centrão”, grupo de políticos geralmente associado ao fisiologismo e à corrupção. Consideram que Bolsonaro não foi capaz de realizar as pautas econômicas neoliberais defendidas por sua plataformas. Mas concordam com a esquerda em dizer que o governo sabota o combate à pandemia. Em linhas gerais, são essas as motivações levantadas pelo MBL nas redes sociais.

Não obstante, é importante observar que foi a primeira vez que o movimento abriu a tradicional faixa do impeachment usada contra Dilma. Durante os primeiros meses do governo Bolsonaro, as manifestações de direita seguiam a agenda de Bolsonaro, defendendo intervenção militar e atacando o Congresso e o Judiciário. Ao dizer, agora, que o pedido de impeachment significa que o movimento “não tem político de estimação”, é apenas meia verdade.

Segundo o coordenador-geral da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, o ato da esquerda progressista tinha quatro pautas: Fora Bolsonaro, Vacina Já, a volta do auxílio emergencial e a proteção do emprego em razão das restrições durante a pandemia. Pautas mais associadas aos problemas concretos da população atualmente, do que as disputas no Congresso e no Palácio.

A diferença entre as manifestações foram expressivas. À esquerda, a expectativa dos organizadores era tímida em relação à adesão que acabou ocorrendo. De 300 veículos esperados em São Paulo, compareceram cerca de 2.500 carros, surpreendendo os organizadores do protesto. Importantes cidades do interior paulista participaram dos atos de sábado, como Campinas, Santos, São José dos Campos, São Bernardo do Campo, Jacareí, Bragança e outras cidades.

Em São Paulo, a concentração dos manifestantes de direita foi em frente ao estádio do Pacaembu, na zona oeste. No Rio, o ato começou na avenida das Américas e em frente ao Monumento Zumbi dos Palmares, no centro. Em Belo Horizonte, o ato foi marcado na Praça do Papa. Em Cuiabá, a manifestação começou próximo à UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). Em Belém (PA), os carros saíram da avenida da Doca de Souza Franco.

No interior de Minas Gerais, houve protestos em Poços de Caldas, enquanto no interior paulista, o ato foi convocado em São José dos Campos, no Parque Vicentina Aranha.

Apesar das diferenças ideológicas, a esquerda não se intimidou e voltou a se manifestar neste domingo. No final da tarde de domingo, um grupo de militantes de esquerda fez uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, pedindo “impeachment já” e “vacina já”. A manifestação foi convocada pelas redes sociais no Distrito Federal e teve faixas pelo impeachment e gritos de “se o povo se unir, Bolsonaro vai sair”.

As manifestações ocorrem confirmadas por pesquisas que mostram a popularidade de Bolsonaro fortemente abalada. Influenciada pela situação da pandemia da covid-19 no País, marcada pela crise no fornecimento de oxigênio na rede de saúde de Manaus (AM), e o fim do auxílio emergencial, a popularidade do presidente caiu.

Pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (22) indicou aumento do número de insatisfeitos com Bolsonaro: 40% da população avalia sua atuação como ruim ou péssima, comparado aos 32% que assim o consideravam na edição anterior da sondagem, no começo de dezembro.

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