* Por Waldo Ferreira
– Apesar da intensa movimentação contrária de grupos bolsonaristas na rede social, o passaporte da vacina tornou-se realidade em Montes Claros. Na tentativa de barrar a medida, os negacionistas contaram até com a ajuda do juiz Isaías Caldeira, que a princípio conseguiu barrar a medida em caráter liminar.
Posteriormente, porém, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) confirmou a validade do decreto do prefeito Humberto Souto, instituindo o passaporte.
Com isso, já está valendo a exigência do comprovante vacinal para acesso a bares, restaurantes e similares, casas de festas e eventos, clubes de lazer e serviço, reuniões maçônicas, cinemas, shows artísticos, teatros e eventos. Na tentativa de reverter o decreto, grupos extremistas, autodenominados “direita conservadora”, pressionaram os 23 vereadores da cidade a se manifestarem contra a exigência, chegando a ameaçá-los em grupos de watssapp.
A estratégia foi entupir suas caixas de e-mails com mensagens e vídeos recheados de fake news contra a vacina, cumprindo ameaça feita em áudios, nos quais os parlamentares são chamados de covardes e subservientes ao prefeito. Ironicamente, em se tratando de apoiadores da ditadura, alguns chegam a evocar a Constituição para pedir a revogação do decreto.
Chama a atenção, ainda, os seguidores do presidente Jair Bolsonaro se referirem aos vereadores como “fascistas” e “ditadores”, exatamente os perfis ideológicos atribuídos a eles próprios. Nos áudios, reclamam do que chamam de “atitude tirânica e autoritária” do legislativo.
Nas mensagens disseminadas na rede o objetivo é propagar ideias extremistas e reverberar falas de Bolsonaro contrárias aos protocolos de enfrentamento a Covid-19.
Mesmo depois de confirmado pela Justiça, o comprovante de vacinação tem sido criticado com virulência pelos extremistas, que exigem, em tom intimidatório, que a medida seja revertida. A tônica é o ataque à vacina, com a repetição de informações falsas sobre os supostos efeitos colaterais do imunizante e a versão fantasiosa de que o objetivo dos governos mundiais é o controle populacional por meio da vacinação em massa, o que, na tese absurda deles, provocará mortes em série.
A intolerância é intolerável, diz procurador
A líder desse movimento extremista é uma advogada que se candidatou a vereadora nas eleições de 2020. Ela chegou a organizar manifestação nas imediações da casa do prefeito para exigir que ele revogue o decreto municipal. Para o procurador jurídico do Município, Otávio Rocha, há um grave equívoco dos defensores desse radicalismo.
“Essa ideia de um liberalismo ingênuo, em que se imagina que as pessoas possam ser livres para fazer apenas o que bem querem, leva a um paradoxo que, ao final permite que a liberdade geral seja tolhida. A liberdade irrestrita de se poder fazer apenas o que bem entender leva as pessoas a avançarem sobre a liberdade alheia”, salientou.
“Ninguém pode ter o direito de colocar a vida da coletividade em risco. Uma verdadeira democracia não pode tolerar os intolerantes. Deveriam ler mais Karl Popper e seguir menos Joseph Goebbels”, destacou o procurador.
Rocha se refere ao filósofo austríaco Karl Raimund Popper (1902-1994) e ao ministro da propaganda nazista Joseph Gobbels (1897-1945). O primeiro defendia que a intolerância não deve ser tolerada, enquanto que o segundo era a própria personificação da intolerância.
* Jornalista