A Prefeitura de Montes Claros, através do programa Jardim para Borboletas, vinculado ao projeto Para Além das Prisões (uma parceria da Prefeitura com o Ministério Público – MP), irá homenagear nesta terça-feira, 25 de junho, a educadora Marina Helena Lorenzo Fernândez com uma escultura de borboleta, que será afixada na praça da Igreja Rosa Mística, no bairro São Luiz, e cercada por um jardim.
O Jardim para Borboletas tem a finalidade de homenagear mulheres que são ou que foram influentes na nossa sociedade através da criação de esculturas de borboletas feitas de aço e sucata pelo artista Gu Ferreira (com o apoio de reeducandos do sistema penitenciário) e de jardins, que são cuidados por pessoas em situação de rua.
A proposta do programa é homenagear 13 mulheres ainda este ano, destacando aquelas que possuem uma trajetória de vida de envolvimento com questões sociais, culturais, ambientais e educacionais. Até agora, já foram homenageadas a promotora Ana Heloísa Marcondes Silveira (Praça da Rodoviária), a enfermeira Antônia Colares, a popular “Tonha da Santa Casa” (avenida Deputado Esteves Rodrigues), e a doméstica Maria da Conceição Silva, a “Maria de Custodinha” (Trevo da Sion). Além de dona Marina Fernândez e da Irmã Veerle, outras 8 mulheres já foram escolhidas pela comissão de parceiros que coordena o projeto: Yvvone Silveira, Josefina Mendonça, Heloísa Sarmento, Dona Tirburtina, Zezé Colares, Yara Tupynambá, Dra. Príscila e Iara Souto.
Quem é Marina Lorenzo Fernândez
A Prof. Dona Marina Helena Lorenzo Fernândez Silva é fundadora do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez e da Faculdade de Educação Artística (FACEART) – atual Departamento de Artes da UNIMONTES. À frente do Conservatório, com pulso forte e com ajuda das fundadoras, Dona Marina realizou trabalhos maravilhosos e de grande valor para cidade, incentivando a inovação e a motivação através da arte. Mulher dinâmica, à frente do seu tempo, vê perspectivas de mudanças no ser humano através das realizações artísticas. Após contribuir com o enriquecimento artístico-cultural da cidade e região, aposentou-se em 1987, indo fixar residência no Rio de Janeiro, para assim tomar conta do Conservatório Brasileiro de Música, fundado pelo seu pai, mas sem esquecer os laços artísticos e familiares com Montes Claros.
Via Ascom/Prefeitura de Montes Claros
A importância de Dona Marina em prol do desenvolvimento artístico de Montes Claros
É da lavra do jornalista Felipe Gabrich a bela crônica sobre a educadora Marina Helena Lorenzo Fernandez e Silva e sua importância como figura do mais alto patamar no desenvolvimento artístico de Montes Claros.
Com a categoria que lhe é peculiar, Gabrich cobra da sociedade montes-clarense uma merecida homenagem a Dona Marina, em vida. Para quem não sabe, ela é a maior responsável pela presença, em nossos rincões, do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, um celeiro de cultura fincado no tórrido Norte de Minas que se tornou um dos maiores patrimônios culturais do país.
Leia, abaixo, a crônica de Gabrich.
Quem foi?
Mirem-se no exemplo da educadora Marina Helena Lorenzo Fernandez e Silva, que ainda se encontra entre nós, felizmente.
Pode ser até que ela tenha sido, numa outra vida, uma das guerreiras de Atenas.
Mulher da fina flor da elite musical carioca dos anos cinquenta, filha nada menos do que do respeitadíssimo maestro Oscar Lorenzo Fernandez, abdicou-se dos sedutores encantamentos das praias, dos palcos e das noites da cidade maravilhosa e armou barraca no abrupto e indômito sertão mineiro destes Montes Claros.
Fincou raízes com o marido, o pranteado Quinzinho da Ford.
De mala e cuia.
O que essa refinada e valente mulher aprontou no setor artístico-cultural da província dos anos sessenta não foi escrito nos gibis da época.
O conservatório estadual de música que homenageia o seu saudoso pai, não nos deixa mentir.
Uma pena que ela tenha retornado ao Rio de Janeiro, onde dirigiu o Conservatório Brasileiro de Música.
A exortação ao nome da pianista e professora Marina Lorenzo Fernandez e Silva não é apenas fruto da adoração pessoal do cronista às suas virtudes e qualidades intelectuais.
Antes, o seu nome é um paradigma para o descaso histórico que o município de Montes Claros tem cometido, ao longo de sua existência, com as pessoas que, em determinada época, mais do que as outras de seu tempo, escreveram as páginas da modernidade urbanística do presente com a visão futurista dos sonhadores do progresso.
A elite predominante na cidade, aqui incluídos os intelectuais, os políticos, os líderes classistas e comunitários, sempre achou que imortalizar seus ídolos era apenas uma questão de agraciá-los com diplomas ou medalhas de honra ao mérito oficiais.
E o fez e o tem feito como se a pirotécnica e efêmera homenagem fosse o ideal, o necessário e o tudo à eternização da gratidão pública da população aos seus mitos.
Mas, perguntem a qualquer adolescente ou colegial urbano da cidade deste limiar de terceiro milênio sobre qualquer personalidade de vulto – nos mais diversos setores da atividade humana – que ajudou a construir o alicerce e as paredes da cidade de Gonçalves Figueira, ao longo de seus 161 anos de emancipação político-administrativa, a serem comemorados em 3 de julho próximo.
Indaguem a esses jovens, por exemplo, quem foi o inesquecível o médico e historiador Hermes de Paula ou o saudoso bardo João Chaves, para citar apenas duas referências mais populares dos grandes nomes que integraram a constelação privilegiada da inteligência inventiva e construtiva da cidade de todos os tempos.
E não os culpem pelo desconhecimento histórico de sua memória.
Há muita indagação fatual não respondida.
Há um rosário de curiosidade cultural não satisfeita.
Há versões e controvérsias do ouvi dizer das recordações.
Há saudade da simplicidade do tropeiro, do ranger dos carros de bois, da dolência dos violões em serestas nas noites de lua cheia.
Quem teria sido Tião Medonho, o tomador de bolinhas de gude das crianças de rua?
Que ventos e para onde teriam levado a voz de Benedito Maciel cortando o vazio do silêncio das madrugadas de acanhadas ruas desabitadas de preocupação?
João Chaves é nome de praça, Hermes de Paula emprestou o seu nome ao Centro Cultural.
Mas, e daí?
É preciso resgatar a memória histórica da cidade e contar para esta e gerações futuras os vultos que colocaram uma pedra na construção de uma cidade que virou princesa e hoje é rainha de vasta extensão do território mineiro.
Montes Claros ostenta na atualidade uma população de quase 500 mil habitantes, centenas de bairros, um contingente expressivo de jovens alisando os bancos escolares, faculdades de ensino superior, uma Universidade, um Museu Regional.
Não tem, infelizmente, uma memória histórica de seus grandes homens e de seus espetaculares feitos.
Não há registros oficiais, imagens, centros de pesquisas populares, sequer um catálogo cronológico do cotidiano municipal.
Quando muito, algum banco de dados econômicos.
E só.
Nos dias atuais, e sem falso saudosismo, ainda é possível preservar um pouco da vida e da obra de alguns vultos municipais do recente passado.
Amanhã – e não demora muito – não haverá ninguém vivo para contar a história.
Vai sobrar – em porvir não muito distante e para poucas pessoas privilegiadas – o consolo de assistir, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a um concerto de piano da escola da imortal musicista Marina Lorenzo Fernandez Silva, que, repito, ainda pode ser devidamente homenageada em vida, com composições inéditas, psicografadas do além de Zezinho da Viola e Dulce Sarmento, dois dos brilhantes expoentes da reminiscência instrumentista destes claros montes de civilização mais do que centenária.
Quem viver verá!
Felipe GABRICH é jornalista