Em entrevista à TV UOL Bruna Brelaz alertou para o risco da reeleição de Bolsonaro que, segundo ela, foi subestimando em 2018, e falou sobre temas relacionados à lutas dos estudantes.

Alvo de agressões nas redes sociais por defender uma frente ampla contra Bolsonaro em entrevista à Folha de S.Paulo, a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz participou na manhã desta sexta-feira (22) de entrevista, ao vivo, na TV UOL, comandado por Fabíola Cidral, com participação dos colunistas Kennedy Alencar e Leonardo Sakamoto.

Na ocasião, a dirigente falou sobre as ofensivas que sofreu e defendeu a necessidade de discutir a rede de ódio que existe em amplos espectros políticos. Em sua opinião, as ofensivas tem caráter misógino e racista, potencializados pelo fato de ela se apresentar como a primeira mulher negra e nortista, presidenta da maior entidade estudantil.

“Diversas mulheres negras passam por isso de forma cotidiana na internet, sofrendo ataques de ódio, misóginos, racistas, e a gente precisa enfrentar esse debate de forma muito profunda”, disse aos jornalistas.

Na entrevista, ela contou que “infelizmente os ataques continuam acontecendo” e que tem buscado acionar medidas judiciais para que os criminosos sejam responsabilizados. “A denúncia não pode ser só feita apenas nas redes. Acho que as ‘fake news’ e discursos de ódio precisam ser combatidos judicialmente também” e afirmou também que ficou surpresa que os ataques vieram de setores do campo progressista. “Esperava do bolsonarismo, um enfrentamento direto com essa rede de ódio do bolsonarismo, mas não esperava desses setores isolados do próprio campo que faço parte”, declarou.

Para Bruna, a principal preocupação da política neste momento deveria ser a possibilidade de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Por esse motivo, ela defende a união entre todos os setores que apoiam o impeachment do atual presidente. “Se eles estão topando defender o ‘fora Bolsonaro’ e defender a democracia, por que eles não podem ser um movimento partícipe, no seu campo, na sua visão de ideias?”, questionou.

“Não acho que a gente tem que desconsiderar a participação dessas figuras. Elas mobilizam setores. Se esses setores querem ser ‘fora Bolsonaro’, beleza. Aí na democracia, a gente vai enfrentar todos os ataques que eles fizeram ao campo da esquerda e às figuras também”, completou a dirigente.

Na avaliação de Bruna, Bolsonaro não pode ser subestimado como aconteceu na última eleição. “Em 2018, fizemos isso, todo mundo, direita, esquerda, centro subestimaram Bolsonaro, acharam que ele era mais um palhaço e Bolsonaro se tornou presidente da República”.

A dirigente fez críticas à direita e afirmou que é ilusão acreditar que é possível “domar” o presidente. “A agenda econômica do Bolsonaro, inclusive, não contempla eles. Não é de interesse deles. Talvez exista uma ilusão dessa direita de domar o bolsonarismo”, observou. Segundo ela, a busca pelo diálogo com setores com visões políticas diferentes é responsabilidade das lideranças políticas do país.

Educação

Bruna lembrou que a educação, área fundamental para o futuro do país, foi um dos primeiros alvos de Bolsonaro. Em 2019, o governo federal cortou o orçamento das universidades federais. A dirigente recordou que, naquele momento, estudantes e comunidade acadêmica criaram a jornada de luta para tentar barrar o retrocesso e ficou conhecida como a “Tsunami da Educação”. Para ela, desde os cortes, “se degringolou e não houve nenhum tipo de projeto estratégico para que as universidades passassem a crescer e ser prioridade ao país”.

Bruna mencionou outro corte no orçamento da educação, ocorrido neste ano. “Nós tivemos um corte de mais de 1 bilhão de reais, que representa 18% do orçamento de todas as 69 universidades federais, e esse corte foi dentro de uma pandemia, onde a universidade atua de forma muito protagonista no combate à pandemia, na produção de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e na disponibilização de leitos dos Hospitais Universitários”.

Na produção de ciência brasileira, a presidenta da UNE questionou: “quanto vale a ciência brasileira ao país?”, sendo que 92% dos recursos foram cortados pelo governo federal, “é de uma gravidade muito grande”, disse. Segundo Bruna, a crise nas universidades é consequência de constantes ataques que afetam 70 mil bolsas de pesquisa e cerca de duas mil delas sobre o combate à pandemia, acrescentou.

Para a dirigente, o governo federal não apresenta nenhum tipo de perspectiva para a educação no país. Segundo ela, o governo está contaminado ideologicamente. “A cortina de fumaça é bem estruturada em todos os ministérios”.

Na entrevista ainda foram abordados temas como o racismo, o retorno às aulas presenciais, investimentos em Educação e as irresponsabilidades do governo Bolsonaro. Segundo Bruna, é preciso fazer o debate do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), que tem 1 milhão de inadimplentes e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que sob o governo Bolsonaro tem registrado recordes negativos de participação estudantil, lembrou.

Bruna também defendeu as cotas raciais e ressaltou a importância deste debate relacionado à assistência estudantil. “Sobre as cotas raciais somos a favor de garantir que ela seja ampliada e de que a gente possa fazer um debate a médio prazo de melhoramento das cotas relacionado à assistência estudantil, articulado com parlamentares e a sociedade civil para formar uma frente de proteção às cotas e que elas possam ser aprovadas no Congresso Nacional, e garantir que por mais tempo conseguimos colocar mais negros, negras, pessoas pobres e indígenas dentro da universidade”. Bruna afirmou que a universidade mudou por causa das cotas “e sabemos que ela precisa ser ampliada, melhorada e jamais extinta”.

Confira a entrevista na íntegra:

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Via Vermelho

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