* Por Waldo Ferreira

Foi por um triz, mas o voto dos mineiros, notadamente daqueles mais vulneráveis, deu a Lula a vitória em Minas. E esses votos, que também foram decisivos em nível nacional, vieram do Norte de Minas e dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

Por isso, o estado ter ficado praticamente de fora do primeiro escalão do governo que se inicia em 1º de janeiro de 2023 causou frustração, especialmente de lideranças petistas.
De resto, apenas o senador Alexandre Silveira (PSD) foi contemplado. Ele, que é pupilo de Aécio Neves, vai chefiar o Ministério de Minas e Energia. Ou seja, nenhum filiado do PT em Minas foi nomeado para a equipe ministerial de Lula.
É como se o presidente eleito tivesse quebrado a tradição da “política do café com leite”, como ficaram conhecidos os arranjos políticos entre São Paulo e Minas, no período de 1898 a 1930. Sai o leite e fica apenas o café. Isso, porque não coube a Minas nem o “pingado”, que é a porção do leite misturado ao café.
Assim, considerados 37 ministérios, a nomeação de apenas um mineiro mal chega a representar uma gota. E de um leite não tão consistente, visto que o escolhido não é das hostes do PT, partido de Lula e que carregou sua candidatura nas costas pelos rincões do estado.
Pior fica o quadro quando lembramos que a política levada a cabo durante a República Oligárquica pressupunha a igualdade. Na canetada de Lula, entretanto, São Paulo terá 10 ministros, enquanto Minas apenas um.
Lideranças petistas avaliam que ficamos “a ver navios” num ambiente em que nem mar há. A expectativa era de participação efetiva no novo governo. Lembram que o estado teve muita representatividade nos governos Lula e Dilma, com sete ministros em cada um deles, com primazia para o PT.
O deputado federal Reginaldo Lopes, líder do partido na Câmara dos Deputados, e o deputado estadual André Quintão, líder da oposição a Romeu Zema (Novo) na Assembleia, ficaram de fora. Reginaldo, inclusive, abriu mão de sua candidatura ao Senado em favor de Alexandre Silveira, a pedido de Lula.
Para aumentar a decepção ainda há o fato de que Minas Gerais foi o único estado do Sudeste onde Lula ganhou, o que torna a ausência de representantes, especialmente petistas, no Ministério, ainda mais frustrante.
A vitória de Lula por aqui foi um feito, especialmente quando se sabe que a grande maioria dos prefeitos se alinhou ao governador Romeu Zema no apoio a Bolsonaro nos dois turnos da eleição presidencial.
Nos últimos 133 anos, desde a proclamação da República em 1889, o Estado sempre teve protagonismo político, seja pelos presidentes, vice-presidentes ou ministros.

* Jornalista

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