O neoliberalismo de Paulo Guedes oferece uma brecha política aos opositores, mas o racha no campo progressista e o apoio popular a Bolsonaro são desafios

* Por André Barrocal

 Jair Bolsonaro, o primeiro político da extrema-direita a chegar ao Palácio do Planalto através das urnas, sonhava em ser o presidente mais votado da história brasileira, mas não conseguiu. Com 57,7 milhões de sufrágios, 55% dos válidos, faltou-lhe meio milhão para bater o recorde de Lula, 58,2 milhões obtidos na reeleição, em 2006.

Do total de 147,3 milhões de eleitores de agora, o ex-capitão teve 39%, o mesmo porcentual de Lula na última pesquisa, um Datafolha de 22 de agosto, feita antes de o petista ser tirado do páreo pela Justiça Eleitoral. Isso significa que, de cada dez brasileiros, seis não votaram no ex-capitão, incluídos aí aqueles que não foram às urnas (21%), uma situação similar à de Dilma Rousseff em 2014, reeleita com 40%.

Daqui para a frente, quem será a voz, o líder desses 61% que de algum modo não se comprometeram com o bolsonarismo? Ou será que o autoritário presidente eleito e seu ultraliberal superministro da Economia, Paulo Guedes, convencerão essa massa de que o bolsonarismo é hoje a melhor opção para o País?

No campo progressista, o grande derrotado político pelo ex-capitão, já há um racha. Ciro Gomes, do PDT, não quer nem ouvir falar em marchar ao lado do PT. Seu velado antipetismo durante a campanha agora é escancarado.

No PCdoB, o partido da vice de Fernando Haddad, Manuela D’Ávila, e no PSB, cuja neutralidade na campanha interessava ao PT, também não há lá muita disposição para posar com petista por perto. No PSOL, a votação abaixo do esperado de Guilherme Boulos, menos de 1% no primeiro turno, deixa em dúvida o protagonismo do líder dos sem-teto no partido a partir de agora.

Na legenda da estrela vermelha, o PT, as emoções se misturam. Sensação de pária. Alívio por ter eleito o maior número de deputados e governadores. Ruminações sem fim a respeito dos motivos que levaram à vitória do candidato que antes era o mais odiado do País.

Fake news e patrocínio empresarial à parte, diz o líder do PT na Câmara, o gaúcho Paulo Pimenta, “Bolsonaro é resultado da crise do capitalismo, que aumenta as desigualdades e leva as pessoas a buscarem um líder autoritário. É um fenômeno mundial, o (presidente dos Estados Unidos, Donald) Trump é isso”.

Esse fenômeno, prossegue o deputado reeleito, tem um ingrediente local: um antipetismo radicalizado pela Operação Lava Jato e que não viu na direita tradicional uma resposta para seus anseios. “O PSDB e o MDB foram pulverizados nas urnas. O PT sobreviveu.”

Pulverizados e em crise existencial. Dono de apenas 5 milhões de votos no primeiro turno com Geraldo Alckmin, o PSDB vive um impasse. Seus velhos fundadores, Fernando Henrique Cardoso à frente, são antipáticos ao bolsonarismo, devido a questões morais, embora haja certa identidade econômica neoliberal.

O governador eleito de São Paulo, o tucano João Doria Jr., tem identidade total, quer tomar o poder no partido e namora o futuro presidente, não obstante dê sinais de sonhar com o Planalto em 2022.

“O PSDB, como instituição fraturada, sem acordo interno, sem discussão democrática, não ouviu a voz das ruas. Ao não ouvir a voz das ruas, decretou a sua derrota para 2018. Assim como o PT foi varrido do mapa em 2016, o PSDB e outros partidos foram varridos do mapa em 2018”, disse da tribuna da Câmara, na terça-feira 30, a deputada gaúcha Yeda Crusius, da direção nacional tucana.

Da parte de Ciro, o diagnóstico para o triunfo de Bolsonaro é diferente do exposto por Pimenta. “A força vitoriosa mais importante no Brasil é o antipetismo”, disse à CBN na quarta-feira 31.

O pedetista está decidido a construir seu futuro político por essa via, a do antipetismo. Ao votar no segundo turno, em Fortaleza, comentou que seria oposição a quem quer que ganhasse e tascou: “Eu não estou neutro, não. Desde a primeira hora, eu tomei posição. Eu não quero é fazer campanha com o PT, nunca mais”.

Palavras de quem havia chegado ao Brasil na antevéspera, após uns dias de descanso em Paris, e não fizera nenhuma declaração favorável a Haddad, nem o citara pelo nome. Em um vídeo no sábado 27, pregara voto “com a democracia, contra a intolerância e pelo pluralismo”, e só. Eleito Bolsonaro, desejou-lhe boa sorte pelo Twitter com cotoveladas no PT.

“Essa oposição que nasce não se confunde com forças que só defendem a democracia ao sabor de seus interesses mesquinhos ou crescentemente inescrupulosos ou mesmo despudoradamente criminosos.”

Em entrevistas nos últimos dias, mais patadas. À Folha, declarou-se “miseravelmente traído” por Lula, chamou o “lulopetismo” de “caudilhismo corrupto e corruptor”, disse que “para ser de esquerda não tem de tapar o nariz com ladroeira, corrupção, falta de escrúpulo, oportunismo”. Na CBN, afirmou que “os fanáticos do PT são iguais aos bolsominions”, expressão esta usada para definir os apoiadores de Bolsonaro.

Não se pode dizer que seja uma postura surpreendente. Ciro apenas explicitou o que já era latente desde o ano passado.

Em setembro de 2017, dizia no Rio que “não é possível insultar a inteligência do povo brasileiro” ao comentar a perseguição política a Lula. No mês seguinte, no SBT: “Eu acho que o Lula, que é o maior líder popular que o Brasil moderno produziu, tem cometido erros gravíssimos, porque faltam a ele petistas que digam a ele para não fazer tanta bobagem, para não brincar de Deus”. Em fevereiro deste ano, na Folha, disse que a condenação de Lula não era “arbitrária”, que ele “não é um mito”. E por aí vai.

Ciro é o presidenciável natural de um trio progressista que planeja ser diferente do PT na oposição a Bolsonaro. O grupo tem PDT, PCdoB e PSB. Era a tríplice aliança que Ciro queria na campanha, mas não conseguiu, graças ao PT, motivo de mágoa profunda dele com Lula e a direção petista.

Recorde-se: o PSB cogitou apoiá-lo após a desistência do ex-juiz Joaquim Barbosa de concorrer à Presidência pelo partido O PT jogou pesado para impedir a união, ao selar um acordo que garantiu apoio petista à reeleição do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, do PSB.

Tivesse atraído o PSB, é provável que Ciro arrastasse também o PCdoB, que na época fazia contas sobre qual era o melhor caminho para sobreviver à chamada cláusula de barreira, vigente a partir desta eleição O PCdoB não cumpriu as regras da cláusula de barreira, mas ainda pode se salvar, a depender de uma decisão judicial quanto a um candidato a deputado que teve 100 mil votos na Bahia, Isaac Carvalho.

Na quarta-feira 31, os líderes de PDT, PSB e PCdoB na Câmara reuniram-se e firmaram um pacto de união. Espera-se que assim seja também a partir de 2019, quando os novos deputados, aqueles eleitos este ano, assumem.

“Entendemos que é preciso, neste momento da vida brasileira, fazer muito mais que uma atitude de contestação”, afirmou após a reunião o pernambucano Tadeu Alencar, líder do PSB. “Não vamos ser contra tudo”, disse o cearense André Figueiredo, líder do PDT.

Será um desafio e tanto pertencer ao campo progressista e não “ser contra tudo” o que for tentado e proposto por um presidente de extrema-direita.

Naquele mesmo dia, Cid Gomes, irmão de Ciro e senador eleito pelo PDT do Ceará, reunia-se no Senado para começar a articular um bloco por lá sem o PT, partido que, segundo ele, apostará no “quanto pior, melhor”. Neste caso, os aliados seriam o PSB, a Rede e o PPS – o PCdoB não terá senador a partir de 2019.

As formas de atuação política daqui para a frente dependem do diagnóstico para o resultado da eleição. Quem está mais certo quanto às razões para a vitória de Bolsonaro: o PT, com a tese da crise capitalista e da preferência por líderes autoritários? Ou Ciro e sua visão do antipetismo?

Ambos, a julgar por uma pesquisa feita este ano pela socióloga Esther Solano, da Unifesp, a respeito do surgimento de uma nova direita no Brasil.

Segundo ela, Bolsonaro encarnou o anti-establishment, visto sobretudo por jovens como homem honesto em meio a uma classe política corrupta simbolizada pelo PT, no poder por 13 anos. Quer dizer, o PT teria virado sinônimo de “sistema”. Ser rebelde hoje seria ser “de direita”.

Esther expôs a pesquisa “Crise da democracia e extremismos de direita” em Brasília, em agosto, em um debate organizado por um candidato ao Senado pelo PSOL, Marivaldo Pereira. E comentou, meio espantada: “O Bolsonaro é um sintoma do fracasso do sistema capitalista, e a esquerda no Brasil não fala de capitalismo, de classes sociais?”

“O Bolsonaro ganhou porque a esquerda não foi capaz de impor a pauta da eleição, de falar de economia e de questões sociais”, afirma Glauber Braga, deputado reeleito pelo PSOL do Rio. “O PT ganhou quatro eleições impondo pauta econômica. Este é o campo em que a esquerda ganha. Nos temas comportamentais, não temos maioria. No tema da segurança pública, somos claramente minoria.”

É um mistério a razão do pouco entusiasmo da campanha petista, no segundo turno, para jogar tudo em uma disputa do tipo luta de classes, algo desenhado inicialmente. E olha que o pessoal sabia que era o melhor caminho.

Em meados de outubro, o senador eleito Jaques Wagner, da Bahia, contou a um aliado que, conforme pesquisas qualitativas do PT, era no tema economia que o partido conseguia deixar em dúvida o eleitor propenso a votar no ex-capitão.

No PT, há quem aponte alguns erros específicos de Haddad como explicação para a derrota. Foi o que aconteceu um dia depois da eleição em uma reunião, em São Paulo, daquela que é a maior corrente interna petista, a CNB, Construindo um Novo Brasil.

Para esse grupo, Haddad desperdiçou as duas primeiras semanas do segundo turno com lances infrutíferos, motivo de as pesquisas terem se mantido praticamente inalteradas nesse período, 60% a 40% para o ex-capitão. Haddad cortejou Ciro e FHC, sem que eles lhe tenham declarado apoio.

No caso do tucano, um namoro com significado simbólico, quebrar resistências na classe média antipetista. Mas matematicamente duvidoso. Após FHC, o PSDB não elegeu mais presidente e agora teve 4,7% com Geraldo Alckmin.

A CNB viu ainda falta de fibra em Haddad. Logo no início do segundo turno, ele propôs a Bolsonaro um pacto contra notícias mentirosas. Reação do rival: “Canalha!” Reação de um dos filhos do rival, Carlos, vereador no Rio: “Vagabundo!” E Haddad? Nada.

Bem que um membro do comitê petista comentou à reportagem , meio receoso, após Haddad ter sido ungido o plano B de Lula, em agosto: “Ele não tem perfil para radicalizar, se a gente precisar na campanha ou no governo”.

Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula nos dois mandatos dele, tinha esse tipo de preocupação. Ele até mandou uma carta ao ex-presidente na cadeia a expor seus receios e a teorizar sobre a falta de identidade de Haddad, um filho da classe média, com o eleitor tradicional do PT, os mais pobres.

Por tudo isso, não é certo que Haddad, agora de volta à vida de professor, seja o líder natural do petismo daqui em diante, mesmo tendo sido ele o candidato a presidente. “Não tenham medo. Nós estaremos aqui”, disse ele no pronunciamento após a vitória do rival.

“O Bolsonaro tem traquejo político e dialoga com os mais pobres. É a primeira vez que a direita tem ligação popular no Brasil. Isso vai impor um desafio a mais àqueles que fizerem oposição pelo campo progressista”, diz o deputado reeleito Henrique Fontana, do PT gaúcho.

Inimigo histórico do Bolsa Família, o ex-capitão acenou, na campanha, com a ideia de pagar um 13o aos beneficiários do programa. Um risco para a sobrevivência do lulismo, especialmente no Nordeste. E um paradoxo para quem tem um vice, o general Antonio Hamilton Mourão, que acha o 13o dos trabalhadores “uma mochila nas costas de todo empresário”.

Vencida a eleição, Paulo Guedes repetiu publicamente algo que havia dito na campanha: “Esta eleição não foi sobre economia”, foi sobre “valores”. Uma visão com a qual concorda um deputado do PSB bastante mal-humorado com os petistas. “O PT queria um plebiscito sobre o Bolsonaro, mas o plebiscito foi sobre o PT.”

Jogar holofotes em questões morais, valores cristãos, corrupção, enfim, no PT, era uma necessidade para o bolsonarismo, dados os planos do ex-capitão, de Guedes, de Mourão.

O governo Temer fez uma reforma trabalhista rejeitada pela população? O presidente eleito quer ir mais fundo, sonha com leis “que beirem a informalidade”. É assim, com vagas de pior qualidade, que o futuro governo esperar reduzir o alto desemprego, de 12,5 milhões de pessoas em setembro, 1,1 milhão a mais do que quando Temer assumiu o lugar de Dilma Rousseff.

E reduzir também o batalhão que desistiu de procurar trabalho por achar inútil, os desalentados, no patamar recorde de 4,8 milhões, 1,8 milhão a mais do que na troca da petista pelo emedebista.

Temer tentou fazer uma reforma da Previdência, outra ideia impopular? Bolsonaro também quer e até declarou, um dia após vencer, que tentaria se acertar com o emedebista para algo ser aprovado este ano. Será que mexerá na aposentadoria dos militares?

A população subsidia os militares de pijama e suas filhas que permanecem solteiras para embolsar pensões Em 2016, 368 mil militares da ativa recolheram 2,9 bilhões de reais à Previdência, mas os gastos com 378 mil inativos ou pensionistas somaram 37 bilhões. Um subsídio anual de 90 mil reais pago pelos brasileiros para cada benefício previdenciário militar.

Detalhe: 55% dos aposentadores militares penduram a farda cedo, entre 45 e 49 anos, conforme um relatório de 2017 do Tribunal de Contas da União.

Bolsonaro mexerá na aposentadoria dos servidores públicos. Ali o rombo anual é de uns 40 bilhões de reais, com uns 700 mil inativos. Ou a conta sobrará apenas para a turma do INSS, uns 30 milhões de brasileiros com benefício médio de 1,4 mil reais?

Reforma da Previdência é a prioridade número 1 de Guedes. Ele defende ajustes no sistema atual, mas sonha mesmo é com uma mudança radical. Implantar aqui o mesmo feito no Chile na ditadura do general Augusto Pinochet, líder do golpe contra o socialista Salvador Allende. Mudar o regime de repartição pelo de capitalização.

Hoje, trabalhadores e empresários contribuem com o INSS, e o dinheiro paga os aposentados. Um regime de solidariedade entre gerações. Na capitalização, cada trabalhador recolhe para uma conta que pagará a própria aposentadoria no futuro. Um sistema do tipo cada um por si.

Em 2017, o Chile resolveu reformar a Previdência. Foi no governo de Michelle Bachelet, socialista como Allende. Motivo: o baixo valor das aposentadorias. Bachelet deixou o poder em março de 2018 sem aprovar a proposta. Desde setembro, comanda o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e, logo depois da vitória de Bolsonaro, declarou: “Estaremos muito atentos” com o Brasil para que os direitos humanos sejam respeitados.

Seu sucessor, o neoliberal Sebastián Piñera, foi o primeiro estrangeiro a confirmar presença na posse de Bolsonaro, em janeiro. E Trump, que até então ignorava o ex-capitão, ligou para ele para dar parabéns.

Guedes tem mais duas prioridades. Privatizar todas as estatais, para com isso pagar parte da dívida pública e, por tabela, reduzir a principal taxa de juros da economia, a Selic. E cortar gastos públicos ao máximo. Um aprofundamento, em suma, da austeridade fiscal adotada no governo Temer.

Dúvida de alguns economistas: sem gastos públicos, de onde virá o empurrão no PIB, a patinar na casa de 1% após a recessão brava de 2015 e 2016?

“O Brasil é um país que até hoje não fez esses ajustes neoliberais que foram vistos em várias partes da América Latina”, disse na antevéspera da eleição o filósofo Vladimir Safatle, da USP, em um debate na UnB, a Universidade de Brasília. “A população nunca foi solidária a essas políticas neoliberais, ela não é suicida. Suicida é a elite.”

O Brasil, afirmou, é um país em que duas das quatro maiores empresas são estatais, a Petrobras e a BR Distribuidora. Idem no setor bancário, com Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. É também o único, com mais de 100 milhões de habitantes, a oferecer um sistema público de saúde aberto a todos e de graça, o SUS E que conta com uma rede de quase 60 universidades federais “absolutamente gratuitas”.

Um programa de governo como o de Guedes e Bolsonaro, teorizou Safatle, “só passa de um jeito: escondido” em segundo plano, enquanto na frente do palco havia “fantasmas” (anticomunismo) e “mentiras”.

Fake news, registre-se, bem-sucedidas na guerrilha digital bolsonarista, graças ao despreparo do PT. Antes de ser preso, em abril, Lula distribuía orientações sobre a importância de se preparar para o embate digital. Queria ressuscitar a equipe e o know-how da reeleição de Dilma e que essa área ficasse de novo sob o comando de seu ex-ministro Franklin Martins. Após ser encarcerado, nem o Instituto Lula nem Haddad abraçaram o plano.

Há quem aposte que, se não conseguir implantar a agenda econômica de Paulo Guedes, ou mesmo para mantê-la escondida, Bolsonaro continuará a atacar o PT. Seu discurso em pose de democrata logo depois a vitória, feito com um livro de Winston Churchill à mão, seria para inglês como Churchill ver.

É a opinião, por exemplo, do presidente de um dos líderes do dito “Centrão”, Valdemar Costa Neto, do PR. Costa Neto contou recentemente a um interlocutor ter sugerido ao Planalto que ajudasse Bolsonaro a tocar já a reforma da Previdência, receoso de o que bolsonarismo, caso não tenha coisa boa para mostrar na economia no início do mandato, queira providenciar prisões de políticos, petistas à frente. Uma desconfiança que deve ter piorado com a escolha do ministro da Justiça e chefe da Polícia Federal de Bolsonaro, o juiz Sérgio Moro.

Criminalizar os adversários é da índole do ex-capitão. Sua tropa está doida para votar no Congresso uma lei que iguale o MST e o MTST a terroristas. Boulos, dos sem-teto, diz não ter medo e foi a protestos de rua nos últimos dois dias. João Pedro Stedile, o líder do sem-terra, antevê dias duros, como disse na segunda-feira 29 ao Brasil de Fato, jornal mantido com apoio financeiro do MST.

“O que vai nos proteger é a capacidade de aglutinar o povo, seguir fazendo lutas de massas na defesa dos direitos, na melhora das condições de vida, e essas mobilizações populares é que serão a proteção aos militantes, aos dirigentes.”

Para ele, o rapper Mano Brown acertou ao criticar o PT por distanciar-se das bases. “Se nós tivéssemos tido a paciência de, ao longo desses seis meses, ter ido de casa em casa, nos bairros da periferia, onde vive o povo pobre, acredito que teríamos outro resultado eleitoral. O povo entende, mas ninguém vai lá falar com ele.”

Mesmo assim, gostou da reta final da campanha: “Consagrou uma vitória política da esquerda e dos movimentos populares. Tivemos inúmeras manifestações de todas as forças organizadas. Sindicatos, intelectuais, estudantes, universidades”.

A bandeira da democracia e da defesa de direitos é o que tem condições de juntar as várias correntes de oposição a Bolsonaro nas ruas e nos poderes. No Senado, o experiente e encrencado Renan Calheiros, do MDB, articula para ser presidente de novo e fazer da Casa um bunker de resistência.

No Supremo Tribunal Federal, a decisão da quarta-feira 31 de proteger a liberdade de manifestação e opinião nas universidades é outro sinal de resistência.

A dúvida, desde já, é: depois de assumir a faixa, como o ex-capitão reagirá quando encontrar resistência pela frente?

* Repórter de CartaCapital em Brasília.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

17 + dez =