Estávamos mesmo precisando de você, presidente.
Enquanto você estava lá, naquela cela-sala (ou sala-cela, sei lá), a coisa aqui piorou um bocado.
Ficamos mais pobres, ficamos mais brutos, ficamos mais tristes, encolhemos nossas esperanças.
Em lugar de matar a fome, como se fez nos seus tempos, simplificaram o programa: o negócio virou só matar, mesmo.
Não era melhorar as cabecinhas, era mirar nelas. Aquelas “arminhas” com os dedos, da campanha, viraram de verdade, com o sujeito que puseram na presidência dizendo que uma Glock na cintura era o caminho da paz.
As universidades, que você abriu como nunca antes na história deste país, deixaram de ser progresso para virarem, dizem eles, balbúrdia.
Aposentadoria voltou a ser coisa de vagabundo, como aquele presidente boca-mole – até hoje recalcado de nunca ser amado como você – dizia.
Aquele petróleo, que a sua turma descobriu e que ia ser nosso bilhete de loteria, tentaram vender, mas nem assim compraram, porque nossa imagem está mais suja que praia do Nordeste.
Até este mal fizeram aos “paraíbas”, que é como eles chamam os nordestinos.
O salário não subiu, como no seu tempo, nem vai subir, já prometeram. O emprego empacou em 12,5 milhões de desempregados e a garotada pedala, de caixa térmica nas costas, para ganhar cinco reais por encomenda. É o que temos, já dizia o outro, não é.
Porque, sem isso, é a calçada, a cama de papelão, o “o senhor me dá uma ajuda para comprar um pão?”. Está cheio de gente na rua, Lula, você não faz ideia de quantos.
Dá tristeza andar na rua, presidente.
Tanta, que às vezes não o perdoo por nos ter feito acreditar que isso ia acabar, me desculpe.
E nem falei como anda a nossa cara lá fora, humilhada por toda a parte, como se aqui fosse um país de selvagens. Selvagens, não índios, porque estes estão mais ameaçados que a ararinha-azul.
É garimpo ilegal, é agrotóxico liberado, é cana na Amazônia, é tanta sandice que parece que querem nos tornar malditos no mundo.
Não convém, para quem recém se achega de volta neste Brasil da rua, dar tanta má notícia, eu sei, mas nada é pior do que a gente ter virado bruto, ao ponto de ter gente urrando por ditadura, tortura, por porrada e tiro.
Por isso, paro por aqui, porque esta é uma carta de boas-vindas, num dia de festa.
Só não posso deixar de pedir uma coisa, injusta até para quem tem 74 anos e, depois desta provação, merecia descansar.
Nos tire da prisão, Lula.
Estamos enfiados num buraco imundo e triste, onde não podemos viver, onde não podemos sonhar, de onde não podemos ver nossos filhos e netos saindo, onde não podemos querer o melhor para eles, que para nos não queremos mais nada, que muito a vida já nos deu.
Precisamos de você, Lula, porque é você quem pode catalisar a imensa força de um povo que não é mau, que não é insensível, que não é obtuso como as elites que o dirigem para o caos.
Obrigado, Lula, por voltar para nós.