Índice é inferior à média do país e ao que o Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos, feito em 2018, previu para 2021

Somente 90 dos 487 bairros de BH contam com coleta seletiva porta a porta – Foto: Fred Magno / O Tempo

Quando se trata de reutilização de material, Belo Horizonte caminha a passos lentos. Neste mês, em que se celebra o Dia Mundial da Reciclagem (17 de maio), a constatação é que a capital mineira tem um grande desafio: conseguir avançar no serviço de reaproveitamento de resíduos, que, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, está quase estagnado.
Atualmente, BH recicla só 1,1% do material coletado na cidade, menos que a média nacional, de 2,37%, e abaixo dos 2% previstos para serem alcançados em 2021 pelo Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos de BH, que foi feito em 2018.
Entre metas não cumpridas, obstáculos para catadores e falta de colaboração entre setores, a capital acumula os impactos sociais e ambientais desse problema, como o aumento da degradação do ambiente para extração de matéria-prima, o maior descarte de resíduos e a limitação de um mercado sustentável, com novos negócios e empregos.
Além de ser considerado baixo, o índice de reciclagem na cidade não cresce significativamente há anos, afirma o professor Raphael Tobias de Vasconcelos Barros, do departamento de engenharia sanitária e ambiental da UFMG. “Desde que o plano foi feito, a gente vê pouquíssimas iniciativas, e muito tímidas”, avalia.
Entre as necessidades está a de ampliar a coleta seletiva de lixo. Atualmente, conforme a Prefeitura de Belo Horizonte, somente 90 dos 487 bairros têm o serviço porta a porta, e a maioria conta com cobertura apenas parcial – o que dificulta a vida de quem quer colaborar, como o aposentado Fernando Oliveira Duarte, de 65 anos. Ele dirige por 6 km para levar o material que separa em casa até um ponto fixo de coleta, no bairro Ouro Preto, na Pampulha, porque não há o serviço no Alípio de Melo, bairro da região Noroeste, onde ele mora. “Se eu não pudesse levar lá, não teria como reciclar o que eu separo. Se a cidade tivesse mais atendimento, mais gente participaria”, avalia.
A expansão da abrangência da coleta seletiva está prevista no plano como principal solução para o aumento da taxa de reciclagem. No entanto, a melhoria na infraestrutura de coleta e tratamento ainda está longe do ideal em BH, segundo Raphael Barros. Nesse aspecto, Curitiba (PR) é uma referência, por oferecer o serviço em 100% da cidade. “Alguns municípios fizeram planos bons, ajustados à realidade, porque, com eles, conseguem ter acesso a algumas fontes de recurso federal”, explica.

Desafios
Segundo a analista de Políticas Públicas da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), Vanúzia Amaral, um dos entraves para ampliar a reciclagem de lixo em BH é a falta de recursos, especialmente para financiar ações de educação ambiental e fiscalização: “Temos que disputar recursos no caixa único da prefeitura e em agências de fomento externas”, afirma.
Fabrício Soler, advogado especializado em direito ambiental, aponta que parcerias público-privadas podem ser soluções para obter o investimento necessário e reforça que o consumidor tem papel crucial na separação de recicláveis para a coleta. “O cidadão precisa aderir à coleta”, defende ele, que é gestor do Instituto Brasileiro de Resíduos Sólidos.

Entrevista com SLU
A reportagem de O Tempo conversou com a analista de Políticas Públicas da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), Vanúzia Amaral, sobre o assunto.
Como a PBH justifica o não cumprimento das metas do plano de gestão de resíduos? Ele prevê a revisão das metas de saneamento e limpeza urbana a cada quatro anos, e isso tem que ser feito em intervalo menor. Houve interrupção pela pandemia, mas ela está prevista para este ano.
Quais são as maiores dificuldades para garantir que o material coletado seja reciclado? A indústria local não absorve toda a produção de vidro, que acaba sendo enviada a outros Estados, o que dificulta o processo. E vai ocorrer o mesmo com o plástico: pegar a matéria-prima virgem para fazer o plástico mais duro, por exemplo, está mais barato (do que reciclar).

A PBH mensura a participação de catadores informais na reciclagem? Os dados deles não são divulgados.
Dados da reciclagem em BH
Coleta domiciliar
2018 – 678.814 toneladas
2019 – 673.838 toneladas
2020 – 668.500 toneladas
2021 – 662.161 toneladas
2022 – 623.660 toneladas
2023 – 643.716 toneladas

Quantidade de material reciclado recolhida
2018: 5.656 toneladas
2019: 6.591 toneladas
2020: 4.451 toneladas
2021: 6.438 toneladas
2022: 6.321 toneladas
2023: 7.161 toneladas
*a coleta seletiva foi paralisada entre 22/03/2020 e 09/11/2020 devido à pandemia.
Índice de resíduos recicláveis coletados
2018: 0,83%
2019: 0,98%
2020: 0,67%
2021: 0,97%
2022: 1,01%
2023: 1,11%
Em 2018, o Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos de Belo Horizonte determinou que em 2021 a meta era uma taxa de 2% e, em 2026, atingiria 4%.
BH tem 487 bairros, 90 são atendidos pela coleta seletiva.
Até 2021, o Plano Municipal previa que fosse 41% da população, mas a PBH não soube informar quanto da população é efetivamente atendida pelo serviço.
Recuperação dos materiais recicláveis coletados em 2023:
47% Papel
28% Vidro
11% Plástico
3% Metal
12% Rejeito
A taxa de recuperação ficou em 88%. O Plano Municipal previa uma meta de 83% para 2021 e de 90%, até 2026.
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte

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