– O advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, voltou a criticar os excessos de investigações no País ao comentar a morte do reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier, que se suicidou na última segunda-feira 2.

Kakay lembra que “infelizmente a história mostra que um suicídio normalmente leva a outros”. “As pessoas que foram subjugadas, humilhadas, se sentem com ‘coragem’ para também demonstrarem que o escárnio passou de todos os limites. Precisamos usar esta ‘coragem’ para fazer o enfrentamento e para lutarmos contra os excessos”, defende.

Leia seu texto sobre o caso:

“Minha morte foi decretada no dia de minha prisão”. Este foi o bilhete encontrado no bolso do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, que se suicidou ao não suportar a humilhação de uma prisão injusta.

Na Itália, durante a operação Mãos Limpas, foram dezenas de suicídios. No Brasil, as reputações, as uniões familiares, as amizades morrem todos os dias com este estado policialesco que foi instituído neste momento punitivo.

A investigação já começa com a exposição midiática máxima que visa quebrar o moral do cidadão, fazer um pré-julgamento e jogar a sociedade contra o investigado. É a espetacularização do processo penal. A banalização da prisão preventiva, usada para forçar as delações, como expressamente admitiu um procurador da república, humilha a pessoa, desagrega a família, causa um clima de terror.

Todos queremos o combate à corrupção. O que questionamos é maneira de se fazer este combate. Os que têm esta visão punitiva e se portam como salvadores da pátria usam esta espetacularização para se promoverem e para criar um fosso entre as pessoas. Irresponsavelmente passam a mensagem, com apoio da mídia opressiva, que quem critica os excessos é contra o combate à corrupção. Se sentem com o monopólio da virtude e da verdade.

O suicídio é uma rendição absoluta. E infelizmente a história mostra que um suicídio normalmente leva a outros. As pessoas que foram subjugadas, humilhadas, se sentem com “coragem” para também demonstrarem que o escárnio passou de todos os limites. Precisamos usar esta “coragem” para fazer o enfrentamento e para lutarmos contra os excessos. Já vi pessoas que fizeram delação e que hoje viraram zumbis, sem alma, sem auto-estima. Sem espaço na sociedade. Outros que sofreram prisões desnecessárias e que, ainda que soltos, vivem como que encarcerados.

É como se andassem com um bilhete no bolso anunciando que morreram, sem que a morte os tenha levado de fato. Tristes e estranhos tempos.

 

“Minha morte foi decretada no dia de minha prisão”, diz reitor em bilhete suicida
Por Fernando Brito – Tijolaço

No Zero Hora/Diário Catarinense, a notícia de que um bilhete, do qual só um trecho foi revelado, indica a razão do suicídio do reitor da Universidade de Santa Catarina, preso, afastado do cargo e humilhado por supostas irregularidades que, se ocorreram, foram antes de sua gestão, iniciada há apenas um ano.

Diz o jornal que “segundo fonte da Policia Civil, um bilhete foi escrito pelo professor Cancellier, onde teria escrito: “Minha morte foi decretada no dia de minha prisão“.

A pergunta que as pessoas de bem, agora, devem fazer, é a que faz o jornalista (como Cancellier foi, antes de tornar-se Doutor e m Direito e pesquisador consagrado, com dezenas de publicações)

Quem matou o reitor da UFSC?
Carlos Damião, no Notícias do Dia-SC

No longo depoimento que me concedeu no dia 20 de setembro de 2017, no escritório de seus advogados, o reitor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Luiz Cancellier, desabafou: “É uma coisa da qual nunca vou me recuperar”.

Não se referia apenas à Operação Ouvidos Moucos, desencadeada pela Polícia Federal, com autorização da Justiça Federal, que apura supostos desvios no programa de bolsas de ensino a distância do curso de Administração. Mas à forma degradante como foi tratado quando foi transferido da sede da PF para o Presídio da Agronômica.

“Todos os presos são tratados assim, despidos, constrangidos, com as partes íntimas revistadas. Depois são encaminhados ao pessoal do DEAP (Departamento de Administração Prisional), para serem acomodados nas celas”.

Pós-doutorado em Direito, respeitado no Brasil e no exterior por suas pesquisas no campo do Direito Administrativo, Cancellier estava desolado por causa da forma como ocorreu sua prisão. Com endereço conhecido, disse que estaria sempre à disposição da Justiça e de qualquer investigador da Polícia Federal, da CGU (Controladoria Geral da União) e do TCU (Tribunal de Contas da União). “

“Jamais me recusaria a prestar esclarecimentos e colaborar com as investigações, que não abrangiam nossa gestão, mas as anteriores, desde 2006”, observou. Cancellier disse-me naquele dia que contava com o apoio da comunidade acadêmica, dos amigos e dos familiares. “É com a força dessas pessoas que eu vou provar minha inocência”, declarou. Saímos do gabinete dos advogados e fomos para a rua. Oito meses depois que havia parado de fumar voltou a curtir umas baforadas.

Foi nosso último encontro, fumando dentro do carro, lembrando histórias da nossa juventude, da militância no movimento estudantil, do congresso de reconstrução da UNE, em 1979, do qual participamos como delegados da UFSC.(…)

Quem matou o reitor, um homem apaixonado pelo trabalho, pelo Direito e pela UFSC?

Reproduzo, também a manifestação indignada de uma referência para os jornalistas cariocas, Nílson Lage, mestre me centenas de nós na UFRJ e que, depois, foi professor da Universidade Federal de Santa Catarina, que Cancellier dirigia:

Eis o motivo pelo qual nenhum homem honrado deve assumir cargos de mando em um país dominado por arrogantes bacharéis plenipotenciários.
Os supostos atos ilícitos aconteceram antes de sua gestão; mas bastou a denuncia de um dedo duro para que a polícia o prendesse com ridículo espalhafato.
A mídia de porta de cadeia, que desdenha da honra dos outros, fez o resto.
Destruída a reputação suicidou-se por ela.
Do ponto de vista da meganhada, pode ser até uma confissão.
Para mim, é um grito à consciência desse país refém de justiceiros e malfeitores.

Os canalhas, que não tem honra, não sabem a dor de tê-la ferida.

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