– Presidente do PDT de Montes Claros é denunciado por assédio sexual contra uma colega jornalista

 A Delegacia da Mulher instaurou um inquérito, nesta sexta-feira (2), para investigar uma denúncia de abuso sexual supostamente praticado pelo jornalista Hélio Machado dentro da Câmara de Vereadores de Montes Claros, onde ele ocupa o cargo de chefe do Setor de Comunicação.
A vítima seria uma das assessoras da Casa, sua subordinada. A jornalista registrou um boletim de ocorrência na última segunda-feira (26) e foi ouvida na delegacia nesta sexta. O inquérito deve ser concluído em até 30 dias.
“Ela nos disse que ele já vinha fazendo ‘gracinhas’ com ela, por meio de comentários, de mensagens. E que no dia do fato, a jornalista estava sozinha na sala onde os dois trabalham, quando o homem chegou e ela perguntou pelo atraso dele já que alguém queria falar com ele. A vítima conta que o suspeito aproveitou a oportunidade para perguntar se ela havia sentido falta dele e, em seguida, passou por trás dela. Neste momento, a jornalista pensou que ele pegaria um café, mas foi agarrada. Segundo a vítima, ele passou a mão na barriga e no peito dela, por cima da roupa, e ainda deu um ‘chupão’ no pescoço, sem possibilidade de defesa”, explicou a delegada do caso, Karine Maia.
De acordo com a delegada, a jornalista resolveu denunciar após ser procurada pela esposa do suspeito. “Ela disse que procurou a gerência sem querer contar em um primeiro momento e que até sugeriu que o assunto fosse tratado na Câmara de forma preventiva. Mas, a mulher do acusado a procurou, inclusive muito abalada e jogando uma ‘culpa’ na vítima caso algo ocorresse com ele”, disse a policial.
Segundo ela o caso é tratado como estupro, porque, esclarece, crime de assédio é quando há uma tentativa de oferecer algum benefício, como promoção, em troca de sexo. “O caso, mesmo que não tenha tido ‘agressividade explícita’, é de estupro. Ou seja, a vítima foi ‘pega’ de surpresa, sem possibilidade de se defender”, explicou a delegada. A pena para assédio é de 1 a 2 anos e de estupro de 6 a 10 anos.
A Câmara instaurou sindicância e criou uma comissão especial, formada por três servidores efetivos, com apoio jurídico, para apurar a denúncia. A portaria foi publicada no Diário Oficial na terça-feira (27). O suspeito está afastado de suas funções durante as apurações. O prazo para conclusão é de 60 dias, podendo ser prorrogado.
Em nota, o presidente da Câmara, Cláudio Prates (PTB), informou que assim que soube do caso tomou todas as medidas necessárias para averiguação do fato. Os dois envolvidos são contratados, sendo que o suposto agressor trabalha no local há mais de 20 anos.
Atualmente, o setor de comunicação da Câmara é composto por cinco funcionários e um estagiário. Após o fato, a jornalista pediu para ser liberada por alguns dias do trabalho, em função do abalo emocional.

O que dizem os envolvidos
Por telefone, o chefe do setor e acusado disse que está sendo vítima de perseguição política e de linchamento em redes sociais, antes de qualquer resultado de apuração.
“Eu tenho 23 anos de Casa e não tenho nenhum registro de má conduta. Quem me conhece sabe que eu não seria capaz disso. O que aconteceu foi apenas um cumprimento normal, do dia a dia. Trata-se de perseguição de uma corrente política que quer me prejudicar. O fato de eu ter assumido a chefia do setor também faz com que muita gente tente me prejudicar. Eu estou muito tranquilo e sossegado quanto aos procedimentos. A própria apuração da Câmara vai chegar à verdade”, disse.
Ele esclareceu também que não sabia da representação da vítima na Delegacia da Mulher. “É um direito dela e nós vamos nos defender para esclarecer os fatos e provar que estamos sendo vítima”, concluiu.
O depoimento da jornalista durou duas horas e ela estava sozinha no momento que foi ouvida pela equipe da delegacia. “Eu me sinto mal com tudo isso. Vejo alguns olhares, já ouvi coisas absurdas, inclusive, de mulheres dizendo que isso é normal e que acontece mesmo. Eu me sinto ameaçada, já que meu agressor está dizendo que pode se matar. Então, o que impede ele de fazer algo contra mim? Mas também me sinto amparada pela minha classe, pelos meus amigos que me deram toda força para continuar. Não é fácil denunciar, não é fácil não se culpar. Mas acredito que, infelizmente, eu estou sendo exemplo para muitas, pois isso é comum no nosso cotidiano”, disse a jornalista.

Com informações do G1

Trenzinho da Alegria
Hélio Machado é passageiro do Trem da Alegria da Câmara Municipal de Montes Claros.

A manobra faz com que não seja realizado concurso público na Casa há mais de 20 anos.

Relembre o caso
Em março de 2002, um projeto de lei da ex-vereadora Rita Vieira efetivava, sem concurso público, três funcionários da Câmara de Montes Claros. Hélio Machado estava entre eles, no cargo de Assessor de imprensa. O objetivo seria regularizar o quadro de cargos e carreira da Câmara. O projeto tinha a seguinte redação: “Os servidores nomeados para os cargos constantes do caput deste parágrafo, há mais de 5 (cinco) anos, ficam efetivados nos respectivos cargos que estejam, mantendo-se os atuais níveis e classes salariais”.
Os beneficiados foram o assessor Heron Domingues, o jornalista Hélio Machado e o advogado Luciano Braga, com vencimentos de R$ 11 mil, cada, incluídos os benefícios. Outros servidores que estão no legislativo há mais de 15 anos foram deixados de fora do “acordo”, criando revolta. “Tudo foi feito em sigilo absoluto, com o projeto sendo aprovado sem parecer da Comissão de Constituição e Justiça, e também em regime de urgência, durante o envolvimento da população com a Copa do Mundo”, denunciaram.

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