Famílias das vítimas da tragédia da creche Gente Inocente são humilhadas
 – Fornecimento de alimento vencido e falta de amparo compõem uma pauta vexaminosa imposta às vítimas e familiares –

Mães de vítimas da tragédia da creche Gente Inocente, na reunião da Câmara Municipal. Flávia Nunes, falou em nome das mães das crianças vítimas da creche queimada. Ela lamentou o atendimento prestado pelo município às famílias vitimadas pela tragédia. 

 Por Luiz Carlos Cabrine – Web360news

JANAÚBA – É isso mesmo, o que já era trágico está se tornando mais grave ainda.

Após a tragédia no dia 5 de outubro de 2017 na creche Gente Inocente em Janaúba, episódio que tirou a vida de 13 pessoas, muitas incertezas e informações desencontradas gravitam em torno do caso.

Para tirar a dúvida, a nossa reportagem ouviu a ponta mais interessada de todo esse quadro, quem realmente convive com a situação: as vítimas.

A gravidade do caso, que teve repercussão mundial sensibilizou a sociedade, isso é fato, doações surgiram de todos os lados, acalentando tensão e dor dos familiares e das vítimas, àquele momento. Esse é o sentimento, em síntese, exposto pelas vítimas, elas contam que são gratas a todos que contribuíram como puderam.

Segunda-feira, 4 de dezembro, na reunião da Câmara Municipal, o sentimento dos familiares em relação ao trato dispensado pela prefeitura de Janaúba ao caso, segundo os acometidos pela tragédia, foi exposto aos vereadores. Eles mostraram toda a sua indignação, angústia e o desrespeito que os empequenecem ainda mais diante do fato.
Na oportunidade, cerca de 30 mães compareceram à sessão legislativa acompanhada do advogado, Everaldo Ramos, que segundo ele, representa 23 delas.

Flávia Nunes Rocha, é mãe de uma das vítimas do incêndio criminoso, ela usou a tribuna para falar em nome das mães que lotaram a Casa de Leis. Segundo Flávia, as famílias estão indignadas com a falta de assistência por parte da prefeitura. De acordo com ela, muitas casas de famílias de vítimas da tragédia precisam de reforma e, crianças, de colchão especial, como é seu caso. Também lamentou a falta de atendimento médico, e de medicamento. “Estou com uma receita de um medicamento para meu filho há duas semanas e tenho enfrentado um empurra empurra, sem ter um local definido para retirá-lo.

O presidente da Câmara de Vereadores, Adauri Cordeiro, disse que o problema que tem ocasionado tantas denúncias envolvendo o executivo, passa pela falta de gestão do município, por isso, cobrou uma resposta dos responsáveis às famílias.
O vereador, Luiz Carlos Oliveira, informou que a Comissão de Saúde realiza visita às mães, visando obter mais informações sobre as suas necessidades das famílias que serão reunidas em um relatório.

O advogado, Everaldo Ramos, que representa 23 famílias também participou da reunião no último dia 4, na Câmara Municipal, ele ressaltou a atitude do presidente, Adauri, em abrir espaço para ouvir as mães o que demonstra, segundo ele, muita grandeza por parte do legislativo municipal. Lamentou que a tragédia envolvendo a creche Gente Inocente que massacrou as famílias tem se perpetuado na vida dessas pessoas, em razão do trato que elas vêm recebendo do executivo municipal. Para o advogado, o tratamento às famílias deve ser especial, na perspectiva do “Princípio da Equidade” – que é tratar os iguais de modo diferenciado, em razão de suas necessidades que são imediatas. Ele louvou o papel do Ministério Público, ao afirmar que está gerindo com eficácia e transparência o recurso de doação da campanha “SOS Gente Inocente”, doado pela população, no entanto, disse a distribuição não acompanha as necessidades das mães, informando que há pais que foram obrigado a deixar seus empregos para cuidar de seus filhos, e hoje dependem de cesta básica e assistência social, que infelizmente o município não tem comparecido.

Em em reunião anterior, no bairro Barbosas, na residência de uma das mães, entre a Comissão de Saúde da Câmara Municipal, representada pelos vereadores, Luiz Carlos Oliveira e Marcelo Alves e familiares de vítimas da tragédia, onde também estiveram presentes o presidente da Casa, Adauri Cordeiro, o vice-presidente, Ramon Alexandre, Augusto Wagner – segundo secretário, e João Pereira, as mães reclamaram o tamanho descaso do executivo com relação ao caso.

As famílias declararam ainda que falta uma pessoa certa a quem elas devem reportar ao buscar atendimento para seus filhos. “Para pegar uma feira é uma humilhação só (deveria chegar sem alarde), faltam medicamentos, acompanhamento, carro, deveriam entender que o caso mudou a nossa vida”, diz Wilsa Maria de Jesus.

Nadir Barbosa Silva, também se queixou da assistência do município e lamentou o fato de ter recebido uma cesta básica com poucos produtos, sendo a maioria dos itens vencidos, inclusive o leite.

Outra mãe, Simone Pereira de Souza, afirmou que não há “comunicação” entre a escola, as mães e prefeitura. Ela completa dizendo que vivem um verdadeiro descaso, tem mãe passando necessidade, “fome” mesmo. “Até, hoje, meu filho não teve nenhum acompanhamento médico, com exceção da visita de uma assistente social que recebemos nos primeiros dias, após a tragédia” declarou. As mães também se mostram preocupadas com possível redução da capacidade da creche que é reconstruída no bairro Rio Novo.

As mães ainda questionaram a reconstrução da creche no mesmo local, sem que houvesse a demolição total do prédio, o que, segundo elas, foi prometido pelo executivo e Ministério Público.

É essa a situação das vítimas dos familiares da tragédia da creche Gente Inocente que movimentou o mundo, sendo tema dos maiores e mais respeitados informativos do Planeta, como New York Times, CBN, Globo, Folha de São Paulo, Record, Band, SBT, somente para citar alguns, e da excelente cobertura da mídia local e regional.

Triste realidade exposta

A tragédia da creche Gente Inocente, que foi acompanha pelo mundo expôs, sem maquiagem, a real situação das famílias das vítimas e de parte de Janaúba.

Os meios de comunicação referiram, que as famílias, em geral, moram em um bairro pobre, em uma cidade eminentemente pobre, de ruas de terra, de casas inacabadas e domicílios de baixa renda, não é de tudo verdade, mas não é de tudo mentira, aliás, está mais para o negativo que para o positivo. Pois, o IBGE aponta que aproximadamente 53% da população do município vivem com renda per capta familiar inferior à metade do salário mínimo.

O que, segundo maioria dos sociólogos é preciso políticas públicas que olhem para esse público com uma lupa, para tentar superar a situação.

O Cenário da Infância e da Adolescência no Brasil compila informações e analisa 23 indicadores sociais relacionados ao público de até 18 anos, tais como: nutrição, gravidez na adolescência, escolarização, saneamento básico, violência, entre outros.

Além da visita in loco, provavelmente foram esses dados que fundamentaram algumas reportagens

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