Bolsonaro é um ressentido que fracassou na carreira militar, sem nenhum talento criativo. Também tinha vergonha de sua família humilde do interior em São Paulo e esconde suas origens. O seu ferimento narcísico por ser expulso do Exército gerou certamente nele um furor, escondido pela carreira política, igualmente medíocre e, ao que tudo indica, corrupta.
Um psicopata no poder
Teremos no Brasil uma multidão de macunaímas sem nenhum caráter?
Reinaldo Lobo*
O maior perigo de um presidente psicopata é a disseminação da irresponsabilidade, do desrespeito pelos outros, do pouco caso com a vida, do crime, da mentira e da destruição da Lei por toda a sociedade. Ele é um mau exemplo. Como autoridade, consagra a ideia de que a única legitimidade possível é pela violência, o desrespeito e a força bruta.
Jair Bolsonaro tem vários traços de uma personalidade psicopática ou, mais precisamente, possui uma mente delinquencial. Isso mesmo: uma pessoa antissocial e nociva para a convivência.
Manipulador e narcisista, portanto, extremamente egoísta, onipotente sem empatia pelos outros, aproveitador, arrogante e estúpido, incapaz de reconhecer o sofrimento alheio e coletivo, sem generosidade com quem não pertença ao seu círculo de semelhantes, vivendo em estado esquizoparanóide quase permanente, impossibilitado de assumir os próprios erros e sempre procurando alguém para botar a culpa.
Como é possível que um presidente votado por quase 60 milhões de cidadãos de uma sociedade organizada tenha escapado ao critério seletivo de tanta gente? São todos cegos, insensíveis e ingênuos? Houve manipulação ideológica?
Há quem diga, entre os cientistas políticos, que ele é um caso de “presidente acidental”, resultado das circunstâncias políticas e sociais de um período de crise. Não dá para acreditar totalmente nisso, ainda que, em parte, haja alguma verdade na “acidentalidade” do fenômeno Bolsonaro.
A “onda Bolsonaro” seria o fruto de um vácuo que surgiu após o descrédito parcial do PT (não foi total, pois o candidato petista teve quase 50 milhões de votos), acrescido do lance da facada (até agora obscuro) que provocou certa comoção e dó por parte dos eleitores. Além disso, ajudou-o a evitar os debates que mostrariam melhor o seu perfil íntimo e sua enorme ignorância cultural e dos problemas do país. Também escondeu informações como sua ligação estreita com milicianos cariocas e o crime organizado.
Os candidatos adversários tiveram pudor de expor tudo, pois seria atacar uma vítima de uma “tentativa de assassinato”.
O fato é que milhões se identificaram e muitos ainda se identificam com os traços violentos e delinquenciais do candidato, hoje presidente. Teremos no Brasil uma multidão de macunaímas sem nenhum caráter? Parece.
Uma personalidade como a de Adolf Hitler, por exemplo, pode passar despercebida em seu caráter deletério por algum tempo, em função da sedução que promove demagogicamente, prometendo o paraíso e entregando algo. Hitler era um ressentido, um artista fracassado, que não conseguiu passar no vestibular para a Academia de Artes, mas com um dom de oratória e alguma criatividade meio delirante. Ele tinha vergonha da origem humilde de seus pais e da sua condição de cabo na hierarquia militar durante a Primeira Guerra. Mas era mais inteligente do que o nosso neonazista caboclo e sabia organizar um movimento, criando uma estética (discutível) própria.
Bolsonaro é um ressentido que fracassou na carreira militar, sem nenhum talento criativo. Também tinha vergonha de sua família humilde do interior em São Paulo e esconde suas origens. O seu ferimento narcísico por ser expulso do Exército gerou certamente nele um furor, escondido pela carreira política, igualmente medíocre e, ao que tudo indica, corrupta.
Tem em comum com Hitler a violência, o ódio a incapacidade para sentir a dor do outro. Adotou uma ideologia barata de caserna, que lhe permite sair em defesa da tortura e do assassinato de adversários políticos transformados em inimigos.
Decidido a ganhar dinheiro na política, aliou-se ao que havia de pior no Rio de Janeiro e no resto do país, como o paulista Paulo Maluf, outro famoso por sua falta de escrúpulos e sua “cara de pau”.
O aspecto moral da psicopatia não é relevante em nada para o próprio psicopata. Não se vê como um doente grave, na verdade um vírus ameaçador para o tecido social.
Sua ambição é se aproveitar da sociedade em benefício próprio. E só. Mas no caso de Bolsonaro há um particular cinismo em tratar a morte e a doença dos outros, pois sua ação é pautada pela destrutividade. Ele é radicalmente contra a solidariedade e a própria associação de cidadãos livres. O mundo está dividido entre ele e seus filhos, de um lado, e os inimigos do outro.
O fascínio por armas e meios de destruição, além de ser lucrativo junto ao lobby dos fabricantes (“bancada da bala”), é algo que ultrapassa o militarismo. É uma identificação com os grupos neonazistas e supremacistas brancos norte-americanos. Ele imita o que julga ser a legitimidade da força bruta e da imposição de poder dos racistas.
O psicopata pode ser, como dissemos, um perigo para o conjunto da sociedade, isto é, um sociopata. O psicopata é um sujeito frio, indiferente à dor alheia (“E daí? O que eu posso fazer?”, diz o presidente diante de mais de 200 mil mortos) e, muitas vezes, é um misógino. Mas nem todo psicopata é um perigo explícito para a sociedade como um todo. Muitos exercem suas características em âmbito restrito, socialmente disfarçados, comportam-se cínica e agressivamente no casamento ou no trabalho, mas não atingem o poder e o alcance de um Hitler, de um Trump ou de um Bolsonaro.
O psicopata é, antes de tudo, um delinquente potencial. Mente sobre fatos da realidade sem nenhum pudor. Sua relação com a Lei é para negá-la, contorná-la, destruí-la ou usá-la a seu favor. Muitas vezes, é para usá-la contra alguém.
No caso de Bolsonaro, temos um presidente de inclinações delinquenciais que nega a destruição provocada pela pandemia, um genocida, e usa o poder para livrar da cadeia seus filhos identificados com o pai e vai fazer qualquer coisa para manter o poder. Até mesmo provocar um golpe ou, como já preconizou, uma guerra civil.
O que um psicopata mais teme é a fraqueza, ou melhor, ter a sua fragilidade revelada. No fundo, é um fraco. Daí, as bravatas e a exaltação da “masculinidade”, que quer provar com pistolas, bombas ou Medidas Provisórias presidenciais.
*Reinaldo Lobo é psicanalista e articulista
Via Dom Total