Bolsonaro, ministério e militares no início do mandato (Foto: Isaac Amorim/ MJSP)

Generais da cúpula militar se lembraram de 1987, um ano que Bolsonaro nunca esqueceu e – acredito – no íntimo do seu ser guardou todo o ódio que sentiu daquela cúpula militar que o prendeu, hoje transformado em vingança

Um rato que se sente encurralado num canto, ataca. Foi isso que Jair Bolsonaro (sem partido) fez ao provocar a saída dos comandantes das Forças Armadas, em fato inédito na História do Brasil.

Eleito com a pretensão de agregar os setores golpistas da caserna com os interesses do grande capital neoliberal, sob as bênçãos do conservadorismo neopentecostal – que muitas vezes se confundem numa grande mixórdia -, Bolsonaro acreditou ser super, assim como o status que dera a Paulo Guedes e Sergio Moro, que lhes serviriam para dar amparo a um mentiroso discurso econômico e anticorrupção, até que possam ser descartados como lixo.

Mas, o ego de quem se formou politicamente em meio à milícia, à bancada da bala e à politicalha mais rala que existe no Brasil – que pratica despudoradamente rachadinha com os próprios parentes – se impõe sempre que se sente acuado.

Nas organizações criminosas é assim. O mais forte sempre se impõe – e isso não tem nada a ver com meritocracia.

Preso por 15 dias em 1987 por “atos de indisciplina e deslealdade” com os superiores do Exército, após artigo na revista Veja, Bolsonaro foi convidado a deixar as armas. Se sentiu acuado, com ódio.

À época, no comecinho da redemocratização, a alta cúpula militar queria evitar a indisposição de ter que lidar com um aquartelamento, já que boa parte dos soldados aplaudiu Bolsonaro.

Foi em meio a esses aplausos que um capitão sem futuro na carreira militar se lançou na política e passou quase 30 anos em meio à lama, tramando formas de enriquecer enquanto agradava com discursos ensandecidos à base que sempre o acompanhou – e que muitas vezes participou das rachadinhas em gabinetes.

As Forças Armadas acreditaram em 2018 que um capitão insubordinado poderia ser alçado ao poder após um golpe, gestado em parte na caserna, para impedir a volta da “ameaça comunista”, mesmo que tenham recebido muitas benesses com Lula no poder.

Tramaram com Temer. Ameaçaram o STF. Apoiaram uma tresloucada Lava Jato, alinhada com a mídia, assassinando qualquer tipo de reputação que lhes convinha.

Aplaudiram e subiram a rampa ao lado de Bolsonaro.

Tolos. Acreditaram que havia ali, naquele velho deputado gerado no mais baixo nível da política, a esperança de uma nova política.

Encurralado diante do caos que deixou país, empilhando mortos pela inação diante da pandemia e sem poder contar com a milícia de Rio das Pedras, a quem deve realmente lealdade, Bolsonaro tentou fazer das Forças Armadas sua milícia oficial – até que possa armar a horda de bárbaros que doutrinou nas redes sociais.

Foi, então, que alguns generais da cúpula militar se lembraram de 1987, um ano que Bolsonaro nunca esqueceu e – acredito – no íntimo do seu ser guardou todo o ódio que sentiu daquela cúpula militar que o prendeu, hoje transformado em vingança.

Acuado, Bolsonaro quer comer o prato frio da vingança. Nem que para isso tenha que revirar o lixo da própria história. Como um rato.

* Plinio Teodoro é editor de Política da Fórum, especialista em comunicação e relações humanas

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