– “A intolerância que atinge vocês que estão presos também é destinada a mim. Como juiz de execução penal sou taxado de defensor de bandido, sou olhado de canto de olho, sou hostilizado por parte da sociedade, cega em seus traumas, ódios e medos”, diz o juiz João Marcos Buch em mensagem aos detentos –
Na contramão do sistema judicial e da política brasileira, defensores da tese de que “bandido bom é bandido morto”, o juiz João Marcos Buch, da Vara de Execuções Penais de Joinville, Santa Catarina, escreveu uma carta emocionante aos presos que estão sob sua custódia se solidarizando com o desespero e a dor dos detentos e dizendo que “um dia a liberdade virá”.
Em um exercício de empatia, Buch diz ter apenas uma “noção superficial” do que é estar preso, mas que vê “as marcas do desespero, do conflito, da dor rabiscadas nas paredes e estampadas nas faces”.
“As reivindicações que vocês me fazem são justas, baseiam-se na lei, como por exemplo acesso ao trabalho, ao estudo, diminuição da superlotação quando no Presídio. Então, neste momento o que eu tenho a lhes dizer é que tento no limite de minhas forças, junto com a equipe que comigo atua, fazer com que os prazos sejam cumpridos e que ninguém fique preso acima do que a sentença condenatória determinou”, diz o magistrado, contando um pouco sobre suas vivências em seguida.
“A intolerância que atinge vocês que estão presos também é destinada a mim. Como juiz de execução penal sou taxado de defensor de bandido, sou olhado de canto de olho, sou hostilizado por parte da sociedade, cega em seus traumas, ódios e medos”, diz, antes de encerrar a mensagem dizendo que “um dia a liberdade virá”.
“Quando esse dia chegar, eu desejo que vocês consigam retomar a vida em harmonia. E que a felicidade sorria”.
Leia a carta na íntegra
A carta que enviei aos detentos e detentas de Joinville chegou ao domínio público. Entre as mensagens de apoio, todas significativas, como um lindo presente de final de ano, recebi ligação do admirável Ministro Ayres Britto. O professor me cumprimentou, falando sobre direito e justiça, sobre vida. Sinto-me tão honrado que compartilharei a carta aqui. Ela foi entregue em todas as celas, sem exceção, nas mãos das 2.050 pessoas que estão presas.