O jornal britânico The Guardian deu destaque em seu site para a notícia, com o seguinte título: Os diálogos da vagina: obra de arte de 33 metros atrai a ira da extrema-direita no Brasil.
DIVA. Os diálogos da vagina: obras de arte de 33 metros atraem a ira da extrema direita no Brasil. A escultura de Juliana Notari em uma encosta causa um choque entre a comunidade cultural de esquerda e a direita que apoia Bolsonaro. Uma vagina de concreto armado de 33 metros provocou uma reação dos bolsonarianos no Brasil, com partidários do presidente de extrema direita do país entrando em confronto com admiradores de arte de esquerda por causa da instalação. A escultura feita à mão, intitulada Diva, foi inaugurada pela artista plástica Juliana Notari no sábado em um parque de arte rural no terreno de uma antiga usina de açúcar em Pernambuco, um dos estados mais vibrantes do Brasil culturalmente. (The Guardian, Reino Unido)
Uma instalação em forma de vagina com 33 metros, num parque em Pernambuco, está a suscitar a ira dos “bolsonaristas”, em confronto com os admiradores de arte de esquerda, no Brasil.
“Diva” é o nome da escultura vermelha com 33 metro de comprimento, 16 metros de largura e seis metros de profundidade de Juliana Notari, no âmbito de uma residência artística para o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM) e a Usina de Arte.
Nesta obra a artista brasileira pretende problematizar as questões de género e questionar a relação entre a natureza e a cultura na sociedade ocidental à que ela se refere como falocêntrica e antropocêntrica.
“Atualmente, essas questões têm-se tornado cada vez mais urgentes. Afinal, será através da mudança de perspectiva da nossa relação entre humanos e entre humano e não-humano, que permitirá que vivamos mais tempo nesse planeta e numa sociedade menos desigual e catastrófica”, acrescenta Juliana Notari numa nota de apresentação na sua conta de Facebook.
A publicação de 31 de dezembro tornou-se viral e gerou mais de 28 mil reações (14 mil gostos e corações) e 25 mil comentários só no Facebook, muitos deles ofensivos. A discussão estendeu-se ainda a outras redes sociais.
A nota de Notari, em referência ao crescente clima de intolerância no Brasil de Bolsonaro, desencadeou a ira dos críticos, muitos deles apoiantes do presidente brasileiro, que inundaram a página da artista com reações furiosas e muitas vezes obscenas à sua arte. Também o guru político de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, respondeu com um tweet ao estilo grosseiro.
Em contraponto, muitos reagiram positivamente à instalação de Notari. “Dá muito o que pensar esse trabalho”, escreveu o cartunista Laerte Coutinho. “As reações à obra são espelho [da sociedade], um sucesso”, disse noutro tweet Kleber Mendonça Filho, cineasta pernambucano, que elogiou Notari por responder a um momento tão conservador da história brasileira, com uma vagina gigante.
“Esses ataques só demonstram o machismo, o preconceito e a misoginia que sempre houve na sociedade ocidental. Um patriarcado milenar. Quando se expõe um símbolo feminino, a vulva, imagem que vai além do sexo por ter uma dimensão sagrada, gera-se medo e fascínio”, comenta por sua vez Juliana Notari, citada pelos média brasileiros. Considera que “a arte está a cumprir o seu papel, de mexer nessas placas tectónicas”.
“Diva” foi esculpida no parque artístico botânico Usina de Arte, em Água Preta, no município da Zona da Mata Sul, em Pernambuco.
A obra levou onze meses a ser construída à mão, para que os seus relevos pudessem ser esculpidos com a precisão que uma escavadora não permitiria. Contou com a ajuda de mais de 40 mãos. Aberta uma ferida no solo, a vulva foi revestida com concreto armado e resina.