– Betinho ficou famoso por trabalhar contra a ditadura militar e campanhas contra a fome

– Betinho era um indignado com a antirrealidade brasileira dos milhões de marginalizados, castigados pela fome e pelas doenças. Mas não era um resignado. Logo lançava projetos para pô-los em prática, sempre com um sentido de trabalho coletivo e solidário. (Leonardo Boff)

Vida de sociólogo Betinho, criador de campanha contra a fome no Brasil, vira série – Júlio Andrade interpretará Betinho na série

Júlio Andrade, o Evandro de “Sob pressão”, já tem novo papel previsto: Betinho. A vida do sociólogo, criador da Ação da Cidadania, uma das maiores campanhas sociais do país contra a fome, vai virar série no Globoplay. Além do lado social, será retratada a luta de Herbert de Souza (1935-1997) contra a aids e a perda de seus dois irmãos, o cartunista Henfil e o violonista Chico Mário, para a doença.

Herbert de Souza ( Betinho)

A série, sem data prevista de lançamento, é produzida por José Júnior, do AfroReggae, dirigida por Sérgio Machado (Cidade Baixa, Irmãos Freitas), com roteiros de Sérgio Machado e Victor Navas (Cazuza, Carandiru).

Julio Andrade como Evandro, em “Sob pressão” Foto: Mauricio Fidalgo/Rede Globo/Divulgação

Julio Andrade – Ator de muitas faces

Júlio Andrade como Gonzaguinha e Raul Seixas; ator viverá o sociólogo Betinho em nova série do Globoplay

Ele já foi Raul Seixas e Paulo Coelho. Agora, será a cara do sociólogo que lutou contra a fome. O ator Julio Andrade será Betinho, em nova produção da Globoplay, de acordo com o Notícias da TV. Herbert de Souza, o Betinho (1935 a 1997), era irmão do cartunista Henfil e sociólogo, ficou famoso por trabalhar contra a ditadura militar e campanhas contra a fome.

A série irá abordar três grandes momentos do Brasil e da vida de Betinho: o apoio e luta pela democracia, o combate à fome e a miséria e o preconceito contra a Aids. Ele era soropositivo, após contrair a doença por uma transfusão de sangue. Ele e o irmão eram hemofílicos.

Biografia
Infância e juventude
Herbert José de Sousa nasceu no norte de Minas Gerais e, junto com seus dois irmãos – o cartunista Henfil e o músico Chico Mário, herdou da mãe a hemofilia, e desde a infância sofreu com outros problemas, como a tuberculose. Foi criado em ambientes inusitados: a penitenciária e a funerária, onde o pai trabalhava. Mas sua formação teve grande influência dos padres dominicanos, com os quais travou contato na década de 1950. Integrou a JEC (Juventude Estudantil Católica), a JUC (Juventude Universitária Católica). Foi um dos fundadores em 1962, da AP (Ação Popular), junto de José Serra, Aldo Arantes, Vinícius Caldeira Brant, entre outros líderes estudantis. Atuou como coordenador da entidade nos anos de 1963 e 1964.

Carreira
Graduou-se em 1962 em Sociologia na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Durante o governo de João Goulart assessorou o MEC, chefiou a Assessoria do Ministro Paulo de Tarso Santos, e defendeu as Reformas de base, sobretudo a reforma agrária.

Com o golpe militar, em 1964, mobilizou-se contra a ditadura, sem nunca esquecer as causas sociais. Porém, com o aumento da repressão, foi obrigado a se exilar no Chile, em 1971. Lá assessorou Salvador Allende, até sua deposição em 1973. Conseguiu escapar do golpe de Pinochet refugiando-se na embaixada panamenha. Posteriormente morou no Canadá e no México. Durante esse período foram reforçadas as suas convicções sobre a democracia – que ele julgava ser incompatível com o sistema capitalista.

Foi homenageado como “o irmão do Henfil” na canção “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, gravada por Elis Regina – “Meu Brasil / que sonha com a volta do irmão do Henfil / com tanta gente que partiu…” – à época da Campanha pela Anistia aos presos e exilados políticos. Anistiado em 1979, voltou ao Brasil.

Em 1981, junto com os economistas Carlos Afonso e Marcos Arruda, fundou o IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, e passou a se dedicar à luta pela reforma agrária, sendo um de seus principais articuladores. Nesse sentido conseguiu reunir, em 1990, milhares de pessoas no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, em manifestação pela causa.

Betinho também integrou as forças que resultaram no impeachment do Presidente da República Fernando Collor de Mello. Mas o projeto pelo qual se imortalizou foi, provavelmente, a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, movimento em favor dos pobres e excluídos.

Doença e morte
Em 1986 Betinho descobriu ter contraído o vírus da AIDS em uma das transfusões de sangue a que era obrigado a se submeter periodicamente devido à hemofilia. Em sua vida pública esse fato repercutiu na criação de movimentos de defesa dos direitos dos portadores do vírus. Junto com outros membros da sociedade civil, fundou e presidiu até a sua morte a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS. Dois dos seus irmãos, Henfil e Chico Mário, morreram em 1988 por consequência da mesma doença. Mesmo assim, não deixou de ser ativo até o final de sua vida, dizendo que a sua condição de soropositivo o forçava a “comemorar a vida todas as manhãs”.

Betinho morreu em 1997, já bastante debilitado pela AIDS. Deixou dois filhos: Daniel, filho do seu primeiro casamento com Irles Carvalho, e Henrique, filho do segundo casamento com Maria Nakano, com quem viveu por 27 anos.

Reparação
Em 18 de agosto de 2010, a Comissão de Anistia concedeu à família de Betinho uma indenização mensal, além de um montante retroativo, em razão da perseguição política sofrida por ele durante a ditadura militar, comprovada por documentos encontrados nos arquivos do antigo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Sua viúva, Maria Nakano, também recebeu o direito a uma pensão vitalícia.

A Ditadura Militar foi um regime autoritário que começou através do golpe de 1964, no qual o presidente da época, João Goulart, acabou sendo deposto. O regime durou 21 anos e tem como principais características a violenta perseguição à oposição, a censura à imprensa e a redução de direitos. Tomara que este regime não volte. Ou já voltou?

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