O vereador Marlon Xavier também é médico legista da Polícia Civil e tem porte de armas, segundo a PC; vítima das agressões disse não saber quem eram os envolvidos. Ocorrência foi registrada no feriado do dia 1º de Maio.
Um vídeo que mostra um vereador de Montes Claros armado, e possivelmente instigando o filho dele, menor de idade, agredisse um rapaz de 21 anos, viralizou nas redes sociais neste fim de semana. A briga, segundo a Polícia Militar, aconteceu na madrugada do último dia 1º no pátio de um posto de combustíveis que fica na Avenida João XXIII, mas as imagens só passaram a circular nesse domingo (5). O filho do parlamentar e médico legista da Polícia Civil, Marlon Xavier, que usa o nome de Dr Marlon (PTC) na Câmara Municipal, desferiu socos e chutes contra um vendedor imobiliário que aparece sem camisa no vídeo. Veja
O G1 conseguiu contato com o rapaz que apanha nas imagens; ele preferiu não se identificar e pediu para que o rosto dele não fosse mostrado. O jovem contou que estava em um espaço de festas que fica próximo ao posto com amigos e que, em determinado momento, alguém se desentendeu com o filho do vereador por causa de uma mulher. Segundo ele, a turma percebeu que estava em menor número e tentou fugir, mas foi perseguida até o posto, quando o vereador desceu armado e escoltou o filho para que cometesse as agressões sem ser interrompido.
“Eu nem conhecia ele, não sabia que era filho de ninguém, hoje que fiquei sabendo que o pai dele parece que é deputado [se refere ao vereador]. Os amigos dele estavam em maior numero aí a gente fugiu. Fomos para rua de trás, a pé. Do nada apareceu uma S10 correndo atrás da gente. Corremos para o posto, quando veio uma BMW verde, o cara desceu armado, e ele ficou mandando o menino me bater”, diz.
O rapaz diz ter ficado com medo e contou que procurou a polícia para registro da ocorrência logo em seguida. “Fiquei com medo demais, do nada apareceu o homem com a arma apontada para nós. Fiquei sem reação”, afirma. O G1 teve acesso ao boletim de ocorrência. No documento, aparece apenas o nome da vítima que procurou a polícia. Ele disse aos militares que o homem armado, que é o vereador Marlon segundo as imagens, se apresentou como guarda municipal. Nem o parlamentar nem o filho dele acionaram a polícia ou fizeram registro.
Ainda no registro da ocorrência, a PM afirma ter tido acesso à imagens de câmeras de circuito interno do posto de combustíveis. O G1 procurou o responsável pela empresa. O dono afirmou que a loja de conveniência já estava fechada e que um único frentista ainda estava trabalhando, mas que o funcionário não reagiu à confusão.
O que diz o vereador
Na manhã desta segunda (6), o vereador Marlon Xavier falou com o G1 pelo telefone. O médico diz ter sido comunicado por um segurança da festa onde o filho estava, e que 70 pessoas queriam agredir o adolescente, e que havia uma confusão generalizada no local. Depois de ter recebido a ligação, o parlamentar se dirigiu ao local.
“Me desloquei para o local da festa, nem foi para o posto. Não encontrei nada lá. Por coincidência, fui abastecer no posto e vi que o homem que me disseram ter dado um soco no meu filho estava lá. Tinha outros com ele também, com um pau na mão. Meu filho foi descendo e eles começaram a brigar. Como sou policial, desci armado. Eu vou ver um cara com uma arma branca e não vou descer armado? É minha segurança. Como sou pai, falei que eles podiam brigar, mas que apenas um podia brigar com ele, e não aquele tanto”, diz.
O vereador afirma que a briga já havia começado, e por isso o filho dele partiu para cima do rapaz. Dr Marlon conta, ainda, que todos os envolvidos, exceto o filho, eram maiores de idade e tinham feito uso de bebidas alcoólicas. A reportagem questionou ao vereador os motivos pelos quais não separou a briga, ao invés de assistir com a arma nas mãos. Ele disse não ter tido chances de fazê-lo.
“Não tinha como eu separar, eles se arrancaram para cima um do outro. Se eu tivesse entrado no meio iam dizer que eu estava brigando junto. Ninguém falaria que eu estava separando. Eu intervi no final, quando eu vi que não teria mais jeito. O vídeo não mostra essa parte”, relata.
O médico legista diz que acredita que um frentista do posto tenha feito as imagens, e que elas só foram compartilhadas neste fim de semana, dias depois, por conta de rixas políticas. Dr Marlon diz ainda que não tinha intenção de usar o revólver contra os rapazes, e que em nenhum momento apontou a arma para eles.
“Se você olhar, o tempo todo eu estava com arma na mão esquerda, não empunhei a arma, foi minha proteção. Não tive intenção nenhuma de usar contra eles”, garante.
O G1 fez contato com o chefe de departamento regional da Polícia Civil, Jurandir Rodrigues. O delegado explicou que o médico legista é um policial e tem porte de armas, portanto estar com uma arma na mão não é irregular. Ele afirma que a PC vai acompanhar o caso e investigar se há indisciplina na ação do médico.
“Estar com arma não está irregular, o que não quer dizer que autorize ele usar a arma como quiser. Se for verificado que há infração disciplinar, no caso, ele pode responder por esta indisciplina administrativamente, mas o caso precisa ser analisado. Se houver alguma queixa ou reclamação, é passível de responder. A Polícia Civil vai acompanhar”, afirma Rodrigues.
Fonte: G1