Ah, que saudade de meu querido amigo Walter Zorro, meu “Cumpade Varto”, mais ainda depois que soube que ele também, como muitos outros de que falo em meus escritos, nos deixou. O nome dele era Walter Ramos. Cabra macho. Só Júri respondeu mais de dez e em todos foi absolvido. Um artista. Bonitão, bom de prosa, de poesia, de viola, exímio contador de “causos” e com pontaria de “cowboy”. Atirava tão bem, de 38, que cortava cinza de cigarro na boca de uma pessoa.

Nas duas vezes que corri risco de vida, como vereador de Montes Claros e Juiz de Direito de Jequitinhonha, ele queria acampar em minhas residências para me proteger. Felizmente não houve necessidade. Passou uma noite memorável em minha casa de Pirapora. Gravei tudo e passei a fita para meu grande amigo e artista Tino Gomes.

Quando dirigia as filmagens do “Cabaré Mineiro”, em Montes Claros, em 1978, Carlos Alberto Prates Correia pediu-me que o contatasse, pois desejava que ele figurasse numa das cenas mais importantes do filme. Era uma reprodução do antigo cabaré, que fascinara Carlos Drummond de Andrade, inspirando-o à poesia que deu nome ao filme e que Tavinho Moura musicou. A dançarina espanhola, Avana, era a linda Tânia Alves que, na cena, cantava a música, sob os aplausos entusiásticos dos figurantes, no clímax da noitada boêmia. Pois bem, consegui falar com “Cumpade Varto”, por telefone, em Brasília de Minas, de tardinha, no dia da filmagem. Passei o convite e ele só respondeu:

— Tô ino.

Chegou em cima da hora, todo empoeirado, no seu caminhão.

Nós, os figurantes, ficamos na residência do Dr. Hermes de Paula, ao lado do prédio pertencente à Mitra Diocesana, onde seria feita a filmagem e onde havia sido recriado o cabaré, esperando, ansiosos, o momento de entrarmos em cena. O costume – a cena era de época – era os homens frequentarem o cassino de terno e gravata e as mulheres com vestidos longos, colados ao corpo, rodados a partir das proximidades dos joelhos. Teríamos que reviver o cabaré, com orquestra e tudo o mais. Até inesquecível Sebastião Mendes, “Ducho”, participou com seu bandolim. A filmagem mobilizara toda a cidade e foi necessário colocar um segurança na porta do “cabaré”, porque todos queriam assistir e participar, o que era impossível. Quando Walter Zorro entrava, com um paletó novinho, emprestado por Dr. Hermes, o segurança o revistou e bateu a mão no 38 que estava em sua cintura, verberando autoritariamente:

— Não pode entrar armado!!!

“Cumpade” retrucou no ato:

— Óia aqui, minino, cê fala cum aquele tal de Cabeto, fi de “seu” Corrêia e de D. Mercês Prates, que Walter Zorro não entra desarmado nem em cabaré de mintira.

Entrou “berrado” e participou, como figurante, da linda cena

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

vinte + dezesseis =