Atividade predatória – Conheça as serras em Minas ameaçadas pela mineração

Para além do Curral – Além do cartão-postal de BH, importantes reservas ambientais e hídricas estão na mira ou já são alvos de exploração Por Amélia Gomes – Brasil de Fato A ameaça iminente de mineração na Serra do Curral, em Belo Horizonte, extrapolou os limites da Região Metropolitana e ganhou destaque nacional. Além de pautar a imprensa ao longo da semana, artistas como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Chico Buarque também se manifestaram contra o empreendimento da Taquaril Mineração S.A (Tamisa). No entanto, o cartão-postal de Belo Horizonte não é o único ameaçado. Além da Serra do Curral, outros patrimônios mineiros estão em risco pela exploração minerária. Serra da Piedade Patrimônio tombado pela Unesco, a Serra da Piedade, na região Central do estado, desde 2011 é explorada pela mineradora AVG. A reserva, que abriga o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, também patrimônio histórico, integra o conjunto da Serra do Curral e também abriga bacias hidrográficas de importância estratégica para a Região Metropolitana da capital. Além disso, é refúgio do maior número de espécies ameaçadas de extinção no estado. Em 2019, a Arquidiocese de Belo Horizonte entrou com um processo na Justiça solicitando a suspensão das atividades da mineradora na região. No entanto, o requerimento foi rejeitado. O empreendimento, herdado da Brumafer – que atuou no território durante 50 anos –, prevê a captação de 30 litros de água por segundo do Córrego do Brumado e pode desmatar mais de 20 hectares de campos rupestres, como ambientalistas denunciaram na época. A AVG, juntamente com a Cowan, é uma das acionistas da Tamisa, mineradora que pretende explorar a Serra do Curral. “A Serra da Piedade e do Curral são patrimônios com valor que não pode ser mensurado pelo dinheiro, a partir da lógica do lucro e da produção que buscam apenas o enriquecimento de poucos em prejuízo do bem comum”, declarou Dom Walmor, arcebispo da capital, na quinta-feira (5), em suas redes sociais, Serra da Gandarela Por falar nas caixas d’água do estado, a Serra da Gandarela, também na região Central, é o maior aquífero preservado do quadrilátero ferrífero e abriga nascentes que alimentam duas importantes bacias de Minas Gerais: a do Rio das Velhas e a do Rio Doce. Além disso, o território é uma das últimas áreas preservadas na transição da mata atlântica para o cerrado. Todo esse patrimônio pode ser colocado em risco caso a Vale consiga a aprovação para a instalação da mina Apolo. De acordo com o portal Mapa de Conflitos, o empreendimento prevê uma extração anual de 24 milhões de toneladas de minério de ferro ao longo de 17 anos. Ainda de acordo com o levantamento, caso aprovado, o projeto impactará diretamente pelo menos nove cidades mineiras. Serra da Moeda A redução dos limites do Monumento Natural Estadual da Serra da Moeda foi alvo de dois projetos de lei (PL) que tramitaram na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (MG). O primeiro deles é o PL 1822, de 2020, de autoria do deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB). E o mais recente é o Projeto de Lei 3.300/21, de autoria do deputado Thiago Cota (MDB). Como a proposta original dizia respeito às medidas adotadas durante a pandemia, o texto tramitava em “rito covid”, ou seja, com apreciação única na Casa. Segundo movimentos e parlamentares, o PL atendia aos interesses da mineradora Gerdau, que já atua na região, mas tenta ampliar suas atividades. No fim do ano passado, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) cobrou em reunião da Comissão de Meio Ambiente da ALMG a escuta da população atingida. “A Gerdau foi ouvida porque mais da metade dos documentos e estudos do projeto são dela”, afirmou. Em relação ao compromisso dos deputados com as mineradoras, o portal Observatório da Mineração denunciou que, em 2014, Thiago Cota recebeu para sua campanha, R$ 110 mil das mineradoras Phoenix e Corumbaense. Seu partido à época, PPS, embolsou R$ 2 milhões doados pelas mineradoras Gerdau, Vale, Braskem e AngloGold. Em março deste ano, o parlamentar retirou o texto de tramitação. O PL do deputado Antônio Carlos Arantes já havia saído da pauta em setembro de 2020. “É uma política ambiental totalmente permissiva aos interesses da mineração”, avalia Luiz Paulo Siqueira, da coordenação do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Segundo estudo do Manuelzão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dos 5 bilhões de metros cúbicos exploráveis de água no subterrâneo da região do quadrilátero ferrífero, cerca de 1 bilhão se encontra no subsolo da Serra da Moeda. Na avaliação do coordenador do projeto, Marcus Polignano, esse território deveria ser livre de mineração. “Não dá para invadir todos os territórios. Não se pode ir para cima do território de uma forma descabida, desmedida, deslavada. A gente vai pagar o preço por isso e as outras gerações muito mais”, declarou o professor em entrevista ao Brasil de Fato MG. Serra do Rola Moça Assim como a Piedade, a Serra do Rola Moça também foi alvo da proposição de retomar atividades minerárias já encerradas na região para “recuperar a área degradada”. Apesar de contraditória, a proposta é relativamente comum no estado. No entanto, o empreendimento da Mineração Geral do Brasil (MGB), que previa, entre outras coisas, a extração de 17 milhões de toneladas de ferro, com o transporte do produto sendo feito dentro do parque estadual, não foi adiante. Denúncias reportadas ao Brasil de Fato MG também dão conta que a mineradora tentou por meio de lobby retomar as atividades na serra. O patrimônio é um dos principais responsáveis pelo abastecimento hídrico da região do Barreiro, em Belo Horizonte. Serra do Brigadeiro e Serra do Caparaó Na Serra do Brigadeiro e na Serra do Caparaó, na Zona da Mata mineira, a mineração de bauxita da empresa Votorantim é um dos riscos às reservas naturais. O empreendimento da Mineração Curimbaba, em Simonésia e em Manhuaçu, também é visto pelo MAM como uma ameaça à região. No sábado (7), moradores dos municípios organizam um ato, às 8h, em frente à Escola Municipal Rosalina Calegário,
Geonecropolítica à brasileira: o Pacote da Morte para o Brasil

O “Pacote da Morte” é um conjunto de projetos de lei proveniente de parlamentares vinculados à bancada ruralista que visam flexibilizar leis ambientais no Brasil, favorecendo a ocupação de terras tradicionalmente ocupadas com fins de exploração e lucro, em detrimento às questões ambientais, climáticas e indiferentes à cultura das populações autóctones. * Por Éder Rodrigues dos Santos – Ecodebate Os territórios tradicionais sofrem constantemente com invasões, mineração ilegal, desmatamentos, queimadas, pressão das monoculturas transgênicas e agrotóxicas, barragens em rios e violência no campo. Afetados diretamente, os povos indígenas são os grupos mais aguerridos no combate a ideia conservadora de espoliação de suas terras, porque trata-se de sua sobrevivência concreta. O Pacote da Morte é a forma gourmet legalizada de praticar a necropolítica estatal. De acordo com filósofo africano, Achille Mbembe, a necropolítica é o processo em que o estado cria, para si, o direito de eliminar determinado grupo social. O ensaio profundamente geográfico do autor camaronês demonstra que o inimigo é criado ficcionalmente pelo estado, resultado de exclusão histórica. Observa-se que a geonecropolítica à brasileira tem lugar definido: as terras indígenas e bairros periféricos dos grandes centros urbanos; e o alvo: as populações afro-ameríndias. Como sugere o antropólogo, Celso Prudente, a imposição vertical das vontades de dominação do euro-hétero-macho-autoritário, na dimensão de um anacronismo histórico, é fenômeno inverso ao telurismo ontológico de horizontalidade democrática, percebida no íbero-ásio-afro-ameríndio. Este confronto de mundos é perceptível em nossa sociedade nos detalhes da vida sociocultural e política, com a criação de leis. Na arena social, de acordo com o Atlas da Violência 2021, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceira com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FIGURA 01), no período de 2009 a 2019, verifica-se que houve 623.439 homicídios no Brasil, sendo que 77% das pessoas alvos desses assassinatos são negras. Neste período, em números absolutos, registrou-se 2.074 homicídios de pessoas indígenas. Figura 01 – Taxa de Homicídios no Brasil e Taxa de Homicídios: Indígenas (2009 a 2019). Fonte: Atlas da Violência, IPEA 2021 Na dimensão política, ressalta-se que em junho do ano passado (2021), o Congresso Nacional fez, possivelmente, o maior ataque à floresta amazônica e aos povos indígenas, desde a invasão portuguesa. O Projeto de Lei 490/2007 aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara prevê a limitação das demarcações de terras indígenas no Brasil, sendo instituído o ‘marco temporal’, com o qual se quer determinar que os indígenas que não habitavam os territórios em cinco de outubro de 1988 – quando se promulgou a Constituição Federal – não tenham mais direito de ocupação, mesmo que sejam terras ancestrais. O PL flexibiliza o acesso as terras indígenas dos povos ditos em isolamento voluntário, dando poderes à União de acessar os territórios para fins de utilidade pública. Essa é uma das bombas a serem detonadas com a implementação do Pacote da Morte para extinguir a Amazônia. O Pacote da Morte é o instrumento central nessa geonecropolítica, que inclui, além do apocalíptico projeto de Lei 490/2007, os PLs: 191/2020, 2633/2020, 510/2021, 2159/2021 e o PDL 177/2021. O PL 191/2020, de autoria da Poder Executivo, pretende liberar o garimpo predatório nas terras indígenas. Um sonho antigo de grupos empresariais e políticos. Aguarda criação de Comissão Temporária pela mesa da Câmara e está pronto para ser pautado no plenário. O PL 2633/2020, por sua vez, é conhecido como PL da Grilagem, de autoria do deputado federal Zé Silva (SOLIDARIEDADE/MG). O PL 2633 vai permitir com que a regularização fundiária das terras da União seja feita por autodeclaração, com dispensa de vistoria pelo Incra. Permite também anistiar aqueles que cometeram crimes ambientais. Os ambientalistas denunciam que o PL vai estimular novas ocupações de áreas públicas e desmatamento. É criminoso, segundo eles, pois é um cheque em branco para a grilagem. Foi aprovado na Câmara e está aguardando apreciação pelo senado Federal. O PL 510/202, de autoria do senador Irajá Filho (PSD/TO) beneficia médios e grandes posseiros e especuladores de terra pública, incentivando a ocupação de novas áreas de floresta pública, promovendo a grilagem e o desmatamento ilegal. O efeito maléfico é múltiplo, pois anistia as invasões ocorridas e promove a expectativa de novas invasões a serem regularizadas. Está pronto para entrar em pauta na comissão de Meio Ambiente do Senado. O PL 2159/2021, conhecido como Projeto de Lei do licenciamento ambiental, permitirá que sejam dispensados do licenciamento ambiental empreendimentos de saneamento básico, manutenção em estradas e portos, distribuição de energia elétrica, atividades agropecuárias, obras de instalação de redes de água e esgoto, obras de baixo e médio risco ambiental (incluindo mineração) e obras consideradas de ‘porte insignificante’ pelo órgão licenciador. Esse PL libera, por exemplo, a atividade pecuária da exigência de licenciamento ambiental. Entretanto, está comprovado que a pecuária contribui para o efeito estufa com a liberação de gases noviços, como o metano, pois para expandir, precisa desmatar áreas destinando às pastagens. O Brasil é o detentor do maior rebanho bovino do mundo e o PL vai dar outro cheque em branco, desta vez, aos grandes empreendimentos para que promovam mais devastação. Após 20 anos, o PL foi aprovado pela Câmara, sob relatoria do deputado Neri Geller (PP/MT). No Senado terá relatoria de Kátia Abreu (MDB/TO) que, além de senadora, é pecuarista. O Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 177/2021, de autoria do deputado Alceu Moreira (MDB/RS), pretende desobrigar o Brasil do cumprimento à Convenção 169 da OIT que garante aos Indígenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais o direito de autodeterminação sobre suas próprias vidas e territórios, entre outros direitos. A OIT é um dos principais instrumentos de luta de povos e comunidades tradicionais no mundo, que agrega 23 países. Um dos méritos da convenção, ratificada pelo Brasil em 2002, é que ela rompe com a doutrina da tutela do Estado. O PDL foi criticado por 240 organizações, dentre essas, entidades científicas, organizações e movimentos sociais que se manifestaram junto ao Congresso Nacional. O PDL aguarda designação de relator na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional. Depois, passará
Água: criatura de Deus! Por Geovane Saraiva*

Água é essencial à vida e sem ela a criatura humana não pode jamais subsistir, o gado e todos animais se extinguem, os campos se transformam em áridos desertos, num sinal e símbolo da morte Perante o obscurantismo, insciência e negacionismo estrutural e corporativista, neste Dia Mundial da Água, resta-nos um olhar terno carinhoso para a Nova Aliança, como maior prova de amor e fidelidade do Filho, na sua incondicional obediência ao Pai. O que se quer de Deus para todos é a graça da sua renovação espiritual, como fonte de água viva a saciar a sede da humanidade, que, conforme as palavras do Papa Francisco, “para nós, crentes, a irmã água não é uma mercadoria, é um símbolo universal e é fonte de vida e saúde”. Segundo dados da ONU, 40% da população mundial não têm acesso à água. A comemoração do Dia Mundial da Água (22 de março) bem que pode nos ajudar, no sentido de perceber a magnitude dos desafios de toda natureza. Um louvor de gratidão pela irmã água, criatura de Deus, que, segundo Francisco de Assis, nos ajuda a recordar as inúmeras vezes em que nos foi solicitado o obsequioso gesto de lavar nossas mãos, ainda tendo que se prosseguir com a medida preventiva contra a Covid-19. Muito oportuno e conveniente pensar em todos aqueles, por ser a irmã água uma mercadoria preciosa e distante do alcance de um número incontável de pessoas, sem poder abrir suas torneiras para lavar as mãos e o corpo, isso porque nem elas mesmas a possuem, tornando um sonho muito remoto, aquele mesmo sonho elementar que aqui no Brasil já se escutou no passado: “Água e saneamento básico para todos”. Que Deus abra nossa mente e nosso coração, neste Dia Mundial da Água, diante de gritos, dores e gemidos da terra, grande casa e mãe, a partir da assertiva do saudoso Pe. João Batista Libânio: “Rios e mares, antes gigantescos úteros de vida, que vêm sendo esterilizados pela poluição industrial, esgotos, sujeira produzida pelo ser humano. Se esquece de que a água, fonte de vida, transforma-se facilmente em uma das piores fontes de morte, ao transmitir doença. Por ela navegam germes de morte até os confins da terra”. Água é essencial à vida e sem ela a criatura humana não pode jamais subsistir, o gado e todos animais se extinguem, os campos se transformam em áridos desertos, num sinal e símbolo da morte. Portanto, comemorar o Dia Mundial da Água, na restauradora compreensão de que água para todos pode mudar a vida e a própria história, significa dizer que a vida pede coragem, com respostas que venham em socorro e favoreçam a humanidade no seu todo. Esse é o grande e maior desafio. Paz e bem! Dom Total *Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).
A guerra como pretexto para defender a mineração em terras indígenas

Para especialistas, porém, lei promovida pelo presidente não resolveria crise dos fertilizantes (DW) Bolsonaro usa a possível escassez de fertilizantes devido à guerra na Ucrânia para defender a mineração em áreas indígenas DW O presidente Jair Bolsonaro obteve uma vitória na Câmara dos Deputados na semana passada, quando se aprovou a urgência para a votação do projeto de lei que pretende liberar a mineração em terras indígenas. Na prática, a proposta poderá ser votada diretamente no plenário da Casa sem passar por comissões temáticas. “A mineração em terras indígenas estava na plataforma de campanha do presidente Bolsonaro. Ele enviou o projeto e nós não votamos, e agora vamos votar”, lembrou Ricardo Barros, líder do governo na Câmara dos Deputados. Ele protocolou o requerimento para acelerar a tramitação do projeto, que deverá entrar na pauta em meados de abril. Guerra na Ucrânia como pretexto Bolsonaro citou a guerra na Ucrânia como pretexto para a tramitação urgente do projeto. A Rússia e seu aliado Belarus estão entre os maiores exportadores de potássio e fosfato que, por sua vez, estão entre os componentes mais importantes para a fabricação de fertilizantes. A Rússia parou de exportar potássio no início de março. Desde meados do ano passado, os preços dos produtos à base de potássio no mercado mundial dobraram. O Brasil é o maior importador de fertilizantes do mundo, e seus maiores fornecedores são Rússia e Belarus. Portanto, a escassez de potássio não é fruto da imaginação do presidente brasileiro e, em casos extremos, poderia limitar não apenas os lucros, mas também a produtividade da agricultura brasileira. E isso poderia não só colocar em risco a segurança alimentar dos brasileiros, mas também ter efeitos globais, já que o país é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. “Lei não vai resolver crise dos fertilizantes” No entanto, os críticos veem a crise dos fertilizantes como pretexto. “Mudar a lei para explorar essas áreas é uma falsa solução que não vai resolver a crise dos fertilizantes, mas irá gerar enormes problemas socioambientais”, tuitou Raoni Rajão, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Rajão e seu colega Bruno Manzolli concluem que apenas 11% das minas de potássio estão em territórios reivindicados por povos indígenas, mas ainda não demarcados. Dessa forma, nenhum dos depósitos está localizado em reservas já designadas. A busca por novas minas também não é urgente, já que as reservas nacionais já conhecidas dessa matéria-prima poderiam, segundo os pesquisadores, cobrir as necessidades de potássio do Brasil para além do ano de 2100. No entanto, pode levar alguns anos até que o Brasil possa produzir quantidades significativas. Por isso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou uma campanha, em março, para ensinar os agricultores a usar fertilizantes de forma mais eficiente. As autoridades esperam que a iniciativa resulte numa diminuição de até 25% na necessidade de importação de fertilizantes até 2030. Se for aprovada, lei que permite mineração terá consequências desastrosas para povos indígenasFoto: Adriano Machado/REUTERS Ameaças ao meio ambiente e povos indígenas Embora a lei proposta pelo governo federal tenha pouco impacto na produção de fertilizantes no Brasil, as consequências para os povos indígenas e a Floresta Amazônica poderão ser devastadoras, especialmente na Amazônia, onde a principal atividade de mineração é de ouro e minério de ferro, afirmam os ambientalistas. Os efeitos da mineração na floresta tropical são desastrosos, diz Larissa Rodrigues, da organização não governamental Instituto Escolhas. “Não são apenas o desmatamento e os produtos químicos usados na mineração – por exemplo, o mercúrio – que contaminam o solo e a água”, afirma. Joênia Wapichana, a única parlamentar indígena no Congresso, teme que a subsistência seja destruída e que os povos indígenas que estão longe das cidades fiquem à mercê dos ataques muitas vezes mortais de gananciosos e aproveitadores sem escrúpulos. “O projeto de lei, que será votado em meados de abril, é o projeto de morte e destruição dos povos indígenas”, opinou. Oponentes do projeto poderão acionar o STF Em 9 de março, os deputados aprovaram o requerimento para a tramitação em regime de urgência do projeto de lei por 279 a 180 votos. No entanto, não é certo que a própria lei funcionará, diz Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas. “É difícil dizer o que vai acontecer, porque esse projeto de lei existe desde 2020 e nada aconteceu até Bolsonaro surgir com esse pretexto da guerra na Ucrânia.” Se o projeto obtiver maioria na Câmara dos Deputados, o próximo passo será a votação no Senado. Se os senadores mudarem o texto, o projeto voltará então para os deputados. Essas idas e vindas no Congresso custariam a Bolsonaro um tempo valioso, já que as eleições presidenciais estão marcadas para outubro. O resultado das votações desse projeto poderá até ajudar a determinar a reeleição de Bolsonaro, já que os setores do agronegócio e da mineração estão entre os maiores apoiadores do presidente. Se o Congresso aprovar a lei, os oponentes poderiam tentar derrubá-la no Supremo Tribunal Federal (STF), já que os direitos dos povos indígenas sobre seus territórios estão consagrados na Constituição brasileira. OURO AMAZÔNICO: DO BARRO AO LUXO Um retrato da extradição mineral e de seus impactos na região no município de Jacareacanga, no Pará IGARAPÉS REVIRADOS De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o solo revirado pelo maquinário pesado utilizado no garimpo acaba liberando mercúrio mineral no ambiente. Somado ao mercúrio lançado na atmosfera para extração do ouro, torna-se contaminante perigoso na cadeia pesqueira da bahia do rio Tapajós. A imagem aérea mostra garimpos montados ao longo de um igarapé no município de Jacareacanga, no Pará
Sertanista devolve Medalha do Mérito Indiginista em protesto contra Bolsonaro

O ex presidente da Funai, sertanista Sydney Possuelo, protocolou no Ministério da Justiça carta devolvendo ao governo a Medalha do Mérito Indigenista que recebeu em 1987. Foi um ato de protesto contra a cerimônia em que o presidente recebeu, do seu próprio governo, a condecoração. Bolsonaro é um inimigo declarado dos povos originários, chegando ao ponto de defender seu extermínio. A solenidade, que ocorreu na manhã desta sexta (18) no Ministério da Justiça, foi interpretada como um escárnio pelos indigenistas. Leia abaixo a íntegra da carta: Ao Excelentíssimo Senhor Anderson Torres Ministro da Justiça Brasília, 17 de março 2022 Senhor Ministro, Com imensa surpresa e natural espanto, tomei conhecimento de que o senhor Jair Bolsonaro foi condecorado com a medalha do Mérito Indigenista. Ao longo da história da humanidade, os povos autóctones tornaram-se vítimas de toda sorte de atrocidades cometidas por representantes de sociedades que se acreditam civilizadas e tementes a uma potestade superior. Os povos originários do continente americano – do Alasca à Patagônia – tiveram os territórios, onde milenarmente viviam, invadidos e drasticamente reduzidos. E, em nome de interesses sempre menores, condenados à morte. Quando deputado federal, o senhor Jair Bolsonaro, em breve e leviana manifestação na Câmara dos Deputados, afirmou que “a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país”. Ofendeu o senhor Jair Bolsonaro, ao vocalizar sua crença, seus desejos, a memória do marechal Rondon, e por extensão do Exército brasileiro. Dediquei minha vida ao trabalho de defender os direitos humanos de uma parcela da humanidade que vive em outro tempo histórico, mas que compartilha com a sociedade envolvente o mesmo tempo cronológico. Há 35 anos, vivi a honra de receber a medalha do Mérito Indigenista. E como é de público conhecimento, delegou-me, em 1991, o coronel Jarbas Passarinho, então ministro da Justiça, a tarefa de demarcar, em nome do governo brasileiro, a Terra Indígena Yanomami. Meus companheiros e eu da Fundação Nacional do índio – Funai a cumprimos. E disso nos orgulhamos. Entendo, senhor Ministro, que a concessão do Mérito Indigenista ao senhor Jair Bolsonaro é um flagrante, descomunal, ostensiva contradição em relação a tudo que vivi e a todas as convicções cultivadas por homens da estatura dos irmãos Villas Boas. Por essas razões. senhor Ministro, devolvo ao governo brasileiro, por seu intermédio, a honraria que, no meu juízo de valor, perdeu toda a razão pela qual, em 1972, foi criada pelo presidente da República. Acompanha a presente mensagem, o estojo contendo Medalha do Mérito Indigenista, Pin, Broche e cópia do diploma.
Defendido por Bolsonaro, projeto que libera exploração de terras indígenas é inconstitucional

Indígenas de todo o país amanheceram neste Dia do Índio na Praça dos Três Poderes, em Brasília, para falar contra o garimpo em terras indígenas. (Foto: Tiago Miotto/Cimi) Presidente utilizou conflito na Ucrânia para justificar a regulamentação da mineração em territórios indígenas. O cenário de escassez de fertilizantes no Brasil, decorrente do conflito na Ucrânia, foi utilizado nesta quarta-feira (2) pelo presidente Jair Bolsonaro para justificar a regulamentação da mineração em territórios indígenas. Bolsonaro defendeu o projeto de lei nº 191/2020, que permitiria ‘a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas’, ao postar em suas redes sociais mensagem dizendo que vai faltar no país o potássio – necessário aos fertilizantes e que tem como a Rússia um fornecedor fundamental. O ex-presidente da Comissão Especial de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas da OAB Paulo Machado Guimarães alerta que é que ilegal o que enseja Bolsonaro. “A pesquisa e a lavra de minérios utilizados na produção de fertilizantes, só pode ocorrer, nos termos previstos na Constituição Federal, de acordo com condições específicas previstas em lei, que não existe, no interesse nacional, mediante autorização do Congresso Nacional e após as comunidades e povos indígenas envolvidos nas terras onde a pesquisa e lavra vá ocorrer, tenham sido ouvidas/os. Nada disso ocorreu. Portanto, a afirmação do cidadão que ainda exerce a presidência da República, não tem amparo constitucional”, afirmou ele ao Portal Vermelho. Em artigo publicado no portal Jota, a assessora Jurídica do Instituto Socioambiental (ISA) Juliana de Paula Batista e o sócio-fundador do ISA e ex-deputado federal Márcio Santilli, também consideram que o PL 191/20 atropela a Constituição para liberar a mineração em terras indígenas, prevendo ainda a instalação de hidrelétricas, abertura de estradas e plantio de transgênicos. “Sob o ponto de vista constitucional, diversos aspectos que devem reger a lei vêm sendo vilipendiados, tanto no debate público como nas proposições que tramitam no Legislativo, notadamente no PL nº 191/2020”, alertam. Um relatório recente da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e da Amazon Watch, mencionado pela CartaCapital, revela que, se aprovado, o projeto de lei defendido por Bolsonaro poderá levar à perda de 160 km² na Amazônia. O documento ainda ressalta que, com Bolsonaro no poder, o avanço do desmatamento tem registrado recordes históricos, tendo crescido 65% em 2021 na comparação com 2018. A medida também contribuiria para o genocídio dos povos originários brasileiros. “A entrada da mineração nesses territórios resulta em rupturas e fragmentações que nunca mais voltam a ser como antes. Podemos estar diante de mais uma etapa do genocídio indígena pela indústria extrativista”, afirmou a assessora de campanhas da Amazon Watch no Brasil, Rosana Miranda, em entrevista recente a CartaCapital. A revista recorda que Bolsonaro esteve com Vladimir Putin para tratar da ampliação do comércio de potássio entre os dois países. “As publicações desta quarta feitas por Bolsonaro reforçam a política do atual governo contra os povos indígenas. Desde antes de vencer as eleições, o ex-capitão prometia não demarcar novas terras indígenas no Brasil, a promessa vem sendo cumprida. O presidente também atua para ampliar a entrada de garimpeiros e ruralistas em territórios protegidos. Sob sua gestão, grileiros passaram a circular livremente em Brasília e ampliaram o lobby pela exploração. O garimpo ilegal também avançou nos últimos anos com fiscalização e novos regramentos, mais frouxos, criados por Bolsonaro”, destaca a publicação. Importações Antes mesmo da aprovação de sanções mais severas à Rússia, o conselheiro e sócio-fundador da BMJ Consultores Associados Welber Barral, alertou em entrevista ao Portal Vermelho sobre o risco dos efeitos para a agricultura brasileira das medidas que estavam em discussão e que depois se concretizaram. “Há várias propostas de levantar sanções contra a Rússia, limitando por exemplo, a atuação de bancos, pagamentos, transferências, financiamento e isso, claro, pode afetar, principalmente, as vendas do Brasil para a Rússia de carnes e as importações de fertilizantes, que vêm muito daquela região toda”, afirmou o ex-secretário de Comércio Exterior do Governo Lula. Contudo, conforme alerta da Federação Única dos Petroleiros (FUP) noticiado pelo Portal Vermelho, o Brasil chegou a esse atual nível de dependência, principalmente porque a Petrobras fechou uma unidade e vendeu três das fábricas de fertilizantes que tinha no país. Essas decisões fazem parte do processo de desintegração da estatal em curso desde setembro de 2016. Segundo dados da balança comercial brasileira, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), analisados pela área econômica FUP, o Brasil gastou ano passado US$ 15,2 bilhões em importações de adubos e fertilizantes químicos. O valor é 90% maior do que o gasto em 2020. Foi o produto mais importado entre os itens da categoria “indústria de transformação”. O país adquiriu no exterior 41,5 milhões de toneladas de fertilizantes – incremento de 22% nas quantidades –, a preço médio de US$ 364,34 por tonelada, 56% acima dos valores pagos em 2020. Vermelho
De forma silenciosa, governo Bolsonaro mantém política de devastação ambiental

Inpe registrou 430 quilômetros quadrados de alertas de desmatamento em janeiro deste ano, quatro vezes mais do que no mesmo mês de 2021 “A substituição de Ricardo Salles por Joaquim Leite no comando do Ministério do Meio Ambiente não trouxe mudanças significativas na atual política ambiental do governo”, escrevem os jornalistas Eliane Oliveira e Eduardo Gonçalves, no Globo. “Mesmo com as chuvas constantes, que costumam frear a devastação florestal, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 430 quilômetros quadrados de alertas de desmatamento em janeiro deste ano. É quatro vezes mais do que no mesmo mês de 2021, quando Salles ainda era ministro, e Leite, secretário da Amazônia e Serviços Ambientais. Apesar disso, integrantes do governo destacam, como fator positivo, o temperamento discreto de Leite, que foge de polêmicas e holofotes, ao contrário de Salles, cujo perfil era mais belicoso”, apontam os jornalistas.
Privatização de parques nacionais agrava situação de povos tradicionais

Serra da Canastra é habitada por milhares de integrantes de comunidades tradicionais – Fabianni Luiz Ribeiro Decreto de Bolsonaro de 7 de fevereiro dá primeiro passo para desestatização de cinco unidades nacionais de conservação Estimulada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a privatização de cinco parques e florestas nacionais deverá aprofundar um processo de apagamento dos modos de vida tradicionais que começou na ditadura militar e só foi interrompido recentemente, a partir de intervenções do Ministério Público Federal (MPF) e da Defensoria Pública da União (DPU). A avaliação é feita por especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato. “Quando a gente está conseguindo que o Estado dê uma guinada no sentido de reconhecer essas populações, vem mais essa mudança. E a gente não tem a menor ideia do que vai ser a nova diretriz da gestão desses lugares”, afirma a antropóloga Ana Beatriz Viana Mendes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A inclusão de cinco novas unidades de conservação no Programa Nacional de Desestatização (PND) do governo federal pode significar uma nova ameaça à sociobiodiversidade e aos direitos de populações tradicionais que há décadas se reivindicam como legítimas ocupantes desses territórios, avaliam os especialistas. A privatização está sendo estimulada por meio de um decreto assinado por Bolsonaro em 7 de fevereiro, após recomendação do conselho do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), formado pelo presidente e por ministros de Estado. Segundo o governo federal, o objetivo é promover a concessão dessas áreas à iniciativa privada para a execução dos serviços públicos de apoio à visitação, com previsão do custeio de ações de apoio à conservação, à proteção e à gestão. Unidades a serem privatizadas Entraram na “fila” da privatização as seguintes unidades de conservação: Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, no Rio de Janeiro; Parque Nacional da Serra da Canastra e Parque Nacional da Serra do Cipó, ambos em Minas Gerais; Parque Nacional de Caparaó, na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo; e Floresta Nacional de Ipanema, em São Paulo. O projeto da concessão será financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e o leilão ficará a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), atual gestor das unidades. Parques devem ser lucrativos? O assessor jurídico da ONG Terra de Direitos, Pedro Martin, afirma que a desestatização tem como inspiração o modelo norte-americano de turismo ecológico. A justificativa é que as unidades de conservação podem gerar alta lucratividade e possibilidades de investimentos, assim como ocorre nos Estados Unidos. “A privatização vem de um fundamento de que o Estado não teria, em tese, competência para o aproveitamento econômico dessas unidades e as coloca dentro de uma estratégia de mercado”, afirma o advogado. “Então se descaracteriza a proteção ambiental dessas áreas a partir da entrega à iniciativa privada, que é, muitas vezes, um processo sem participação social, principalmente das pessoas mais interessadas”, complementa. Direitos ameaçados Martin identifica a ameaça de três direitos das populações tradicionais: “O direito ao território, que significa também o controle do espaço por esses habitantes. O acesso à participação em qualquer processo público não sigiloso e que envolva o interesse público da sociedade. E também o próprio direito à consulta prévia, livre e informada”, enumera. Em meio à pandemia, o controle social do processo de privatização de unidades de conservação se torna ainda mais precário. Sem audiências públicas presenciais, parte dos moradores fica impossibilitada de participar das discussões virtuais, em razão da necessidade de acesso à internet. A estratégia de entrega da gestão unidades à iniciativa privada está presente desde o início do governo Bolsonaro, defendida pelo ex-ministro Ricardo Salles. Ele chegou a propor a concessão sem licitação das serras da Canastra e do Cipó à Vale, após os crimes de Brumadinho Criminalização da luta pela terra na Serra da Canastra Juntas, as cinco unidades a serem privatizadas têm quase 2,8 mil quilômetros quadrados, três vezes o tamanho da área urbana da cidade de São Paulo. Com quase 2 mil quilômetros quadrados, a maior delas é a Serra da Canastra, lar das nascentes do rio São Francisco e de comunidades tradicionais que ocupam a região há pelo menos 250 anos. Segundo Aderval Costa Filho, antropólogo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Serra da Canastra é ocupada por mais de 1.500 famílias de produtores e moradores da área rural, 43 comunidades tradicionais e 550 famílias tradicionais da região. O Parque foi criado em 1972 durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici, sobrepondo-se a territórios já habitados por essas populações. Até há pouco tempo, explica o pesquisador, a relação do Estado com as comunidades era marcada pela truculência. Reunião de moradores da Serra da Canastra; “lideranças foram criminalizadas”, diz antropólogo / Projeto Mapeamento de Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais/UFMG “Embora tenha sido legitimado a partir do apelo de vários setores da sociedade, o Parque foi implementado à força e à revelia, sem qualquer tipo de negociação com as famílias e comunidades que habitavam a região, que foram expropriadas do seu próprio território com violência e com muito autoritarismo”, conta. Ao estudar a região durante dois anos para a elaboração de um laudo antropológico a pedido da Justiça Federal, Filho concluiu que houve um processo de criminalização de produtores e de lideranças locais, envolvendo organizações de base que lutavam pela permanência de seus modos de vida. “Houve várias medidas de aquisição de propriedades, constantes autuações de infração ambiental aos proprietários, sobretudo por realizar o manejo controlado do fogo nas partes baixas e algumas partes altas que ficaram fora da área desapropriada e regularizada”, afirma. A tensão só diminuiu a partir de 2017, quando uma ação ajuizada pela Defensoria Pública da União (DPU) resultou uma vitória judicial reconhecendo o direito à exploração econômica dos “canastreiros”, população que tradicionalmente explora a agricultura, pecuária e a mineração. O antropólogo lamenta que a unidade esteja prestes a ser privatizada, em um momento em que as famílias estão sendo tratadas com mais respeito e tolerância pelo poder público. E alerta: o enorme potencial de extração
Câmara dos Deputados aprova “Pacote do Veneno”, em aceno ao agronegócio

Bancada ruralista obteve 301 votos favoráveis e 150 contrários ao PL, que facilita popularização de pesticidas no país Após 20 anos de tramitação, a Câmara dos Deputados aprovou o texto final do Projeto de Lei 6299/2002, conhecido pela oposição como “pacote do veneno”. Seu conteúdo prevê a legalização da produção de agrotóxicos genéricos no Brasil, e também flexibiliza os critérios de controle e de autorização destas substâncias, sob a proposta de acelerar o processo. A proposta não foi bem vista pelos partidos de oposição, especialmente entre os parlamentares que compõem a Frente Parlamentar Ambientalista. Para estes, o projeto representa uma tentativa de tirar a capacidade dos órgãos de controle de barrar a entrada de substâncias nocivas no Brasil, e temem o impacto que isso possa trazer para a saúde pública e para o meio ambiente. Já para a bancada governista, em especial os membros da Frente Parlamentar da Agropecuária, o projeto consiste em uma modernização da lei sobre agrotóxicos. Esta parcela de parlamentares, com forte interesse no projeto, afirma que a nova legislação permite tanto o barateamento dos agrotóxicos quanto o avanço nas pesquisas para substâncias menos nocivas à saúde e ao meio ambiente. Sua aprovação não marca o fim da discussão. Encerrados os debates na Câmara, o projeto ainda será devolvido ao Senado, casa de onde partiu o texto original, para uma nova análise. Confira a seguir a lista completa de como cada deputado votou em seu texto-base: AJ Albuquerque (PP-CE) – Sim Abílio Santana (PL-BA) – Sim Abou Anni (PSL-SP) – Sim Acácio Favacho (PROS-AP) – Sim Adolfo Viana (PSDB-BA) – Sim Adriana Ventura (Novo-SP) – Sim Adriano do Baldy (PP-GO) – Sim Aécio Neves (PSDB-MG) – Não Aelton Freitas (PL-MG) – Sim Afonso Florence (PT-BA) – Não Afonso Hamm (PP-RS) – Sim Afonso Motta (PDT-RS) – Não Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) – Não Airton Faleiro (PT-PA) – Não Alan Rick (DEM-AC) – Sim Alceu Moreira (MDB-RS) – Sim Alcides Rodrigues (Patriota-GO) – Sim Alê Silva (PSL-MG) – Sim Alencar S. Braga (PT-SP) – Não Alessandro Molon (PSB-RJ) – Não Alex Manente (Cidadania-SP) – Não Alex Santana (PDT-BA) Alexandre Frota (PSDB-SP) – Não Alexandre Leite (DEM-SP) – Sim Alexandre Padilha (PT-SP) – Não Alexis Fonteyne (Novo-SP) – Sim Alice Portugal (PCdoB-BA) – Não Aliel Machado (PSB-PR) – Não Aline Gurgel (Republican-AP) Aline Sleutjes (PSL-PR) – Sim Altineu Côrtes (PL-RJ) – Sim Aluisio Mendes (PSC-MA) – Sim Amaro Neto (Republican-ES) – Sim André Abdon (PP-AP) – Sim André Ferreira (PSC-PE) – Sim André Figueiredo (PDT-CE) – Não André Fufuca (PP-MA) – Sim André Janones (Avante-MG) André de Paula (PSD-PE) Angela Amin (PP-SC) – Sim Antonio Brito (PSD-BA) – Sim Arlindo Chinaglia (PT-SP) – Não Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) – Sim Aroldo Martins (Republican-PR) – Sim Arthur Lira (PP-AL) – Art. 17 Arthur O. Maia (DEM-BA) – Sim Átila Lins (PP-AM) – Sim Átila Lira (PP-PI) Augusto Coutinho (Solidaried-PE) – Sim Áurea Carolina (PSOL-MG) – Não Aureo Ribeiro (Solidaried-RJ) – Sim Bacelar (Podemos-BA) Baleia Rossi (MDB-SP) – Sim Benedita da Silva (PT-RJ) Benes Leocádio (Republican-RN) – Sim Beto Faro (PT-PA) – Não Beto Pereira (PSDB-MS) Beto Rosado (PP-RN) – Sim Bia Cavassa (PSDB-MS) – Sim Bia Kicis (PSL-DF) – Sim Bibo Nunes (PSL-RS) – Sim Bilac Pinto (DEM-MG) Bira do Pindaré (PSB-MA) – Não Bohn Gass (PT-RS) – Não Bosco Costa (PL-SE) – Sim Bosco Saraiva (Solidaried-AM) – Sim Bozzella (PSL-SP) – Sim Bruna Furlan (PSDB-SP) – Não Cacá Leão (PP-BA) – Sim Camilo Capiberibe (PSB-AP) – Não Cap. Alberto Neto (Republican-AM) Cap. Fábio Abreu (PL-PI) – Sim Capitão Augusto (PL-SP) – Sim Capitão Wagner (PROS-CE) – Não Carla Dickson (PROS-RN) – Sim Carla Zambelli (PSL-SP) – Sim Carlos Bezerra (MDB-MT) – Não Carlos Chiodini (MDB-SC) – Sim Carlos Gaguim (DEM-TO) – Sim Carlos Gomes (Republican-RS) – Sim Carlos Jordy (PSL-RJ) – Sim Carlos Sampaio (PSDB-SP) – Sim Carlos Veras (PT-PE) – Não Carlos Zarattini (PT-SP) – Não Carmen Zanotto (Cidadania-SC) – Abstenção Caroline de Toni (PSL-SC) – Sim Cássio Andrade (PSB-PA) – Não Celina Leão (PP-DF) – Sim Célio Moura (PT-TO) – Não Célio Silveira (PSDB-GO) – Sim Célio Studart (PV-CE) – Não Celso Maldaner (MDB-SC) – Sim Celso Russomanno (Republican-SP) – Sim Celso Sabino (PSL-PA) – Sim Cezinha Madureira (PSD-SP) – Sim Charles Fernandes (PSD-BA) – Sim Charlles Evangelis (PSL-MG) Chico D´Angelo (PDT-RJ) – Não Chiquinho Brazão (Avante-RJ) – Sim Chris Tonietto (PSL-RJ) – Sim Christiane Yared (PL-PR) – Sim Christino Aureo (PP-RJ) – Sim Clarissa Garotinho (PROS-RJ) – Não Claudio Cajado (PP-BA) – Sim Cleber Verde (Republican-MA) – Sim Coronel Armando (PSL-SC) – Sim Coronel Tadeu (PSL-SP) – Sim CoronelChrisóstom (PSL-RO) – Sim Covatti Filho (PP-RS) – Sim Cristiano Vale (PL-PA) – Sim Da Vitória (Cidadania-ES) – Sim Dagoberto Nogueira (PDT-MS) – Não Damião Feliciano (PDT-PB) Daniel Almeida (PCdoB-BA) – Não Daniel Coelho (Cidadania-PE) – Não Daniel Freitas (PSL-SC) – Sim Daniel Silveira (PSL-RJ) – Sim Daniel Trzeciak (PSDB-RS) Daniela Waguinho (MDB-RJ) – Sim Danilo Cabral (PSB-PE) – Não Danilo Forte (PSDB-CE) – Sim Darci de Matos (PSD-SC) – Sim David Miranda (PSOL-RJ) – Não DelAntônioFurtado (PSL-RJ) – Abstenção Deleg. Éder Mauro (PSD-PA) – Sim Delegado Marcelo (PSL-MG) – Sim Delegado Pablo (PSL-AM) – Sim Delegado Waldir (PSL-GO) – Sim Denis Bezerra (PSB-CE) – Não Diego Andrade (PSD-MG) – Sim Diego Garcia (Podemos-PR) – Sim Dimas Fabiano (PP-MG) – Sim Domingos Neto (PSD-CE) – Sim Domingos Sávio (PSDB-MG) Dr Zacharias Calil (DEM-GO) – Sim Dr. Frederico (Patriota-MG) – Sim Dr. Jaziel (PL-CE) – Sim Dr. Leonardo (Solidaried-MT) – Sim Dr. Luiz Ovando (PSL-MS) – Sim Dr.Luiz Antonio Jr (PP-RJ) Dra. Vanda Milani (Solidaried-AC) – Sim Dra.Soraya Manato (PSL-ES) – Sim Dulce Miranda (MDB-TO) – Sim Edilazio Junior (PSD-MA) – Sim Edio Lopes (PL-RR) – Sim Eduardo Barbosa (PSDB-MG) – Sim Eduardo Bismarck (PDT-CE) – Não Eduardo Costa (PTB-PA) Eduardo Cury (PSDB-SP) – Não Eduardo da Fonte (PP-PE) – Sim EduardoBolsonaro (PSL-SP) – Sim Efraim Filho (DEM-PB) – Sim Elcione Barbalho (MDB-PA) – Não Eli Borges (Solidaried-TO) – Sim Eli Corrêa Filho (DEM-SP) – Sim Elias Vaz (PSB-GO) –
Jovens jornalistas indígenas combatem fake news na Amazônia

Além de alertar sobre notícias falsas sobre a covid-19, jornalistas do alto rio Negro combatem as fake news sobre desmatamento e garimpo ilegal – Paulo Pereira/Greenpeace – No alto rio Negro, jovens de várias etnias levam informação a aldeias para fazer frente a notícias falsas – Na Amazônia, quando o sol se põe às margens do alto rio Negro, uma deslumbrante paisagem com tons de rosa forma-se no horizonte. Ao longe, quase sempre surgem pequenas embarcações. Dessa vez, elas traziam os comunicadores indígenas das áreas mais distantes da bacia do rio Negro até o município de São Gabriel da Cachoeira, uma cidade em plena floresta. A região, ainda extensamente preservada e ameaçada há décadas pela devastação e pelo garimpo ilegal, enfrenta agora também fake news difundidas em meio à pandemia de covid-19. Usar a informação para combatê-las em plena floresta é a missão de comunicadores indígenas do alto rio Negro. Quem conhece a região sabe que a locomoção só é possível pelos rios. Se uma “voadeira” — como são chamados os barcos locais — vira, é muito difícil sobreviver às fortes correntezas. Mas isso não impediu jovens da etnia Tukano, por exemplo, de saírem das proximidades da fronteira com a Colômbia, numa viagem de cerca de quatro dias pelos rios, para participar do maior encontro de comunicadores indígenas da história da Rede Wayuri, realizado em janeiro de 2022. A Rede “Wayuri”, que na língua Nheengatu significa “trabalho coletivo”, nasceu em 2017 e reúne jovens de várias etnias da região. Eles têm, em média, de 17 a 37 anos de idade e tentam conter o avanço do desmatamento, do garimpo ilegal e das fake news que chegam cada vez mais às aldeias e comunidades por meio do WhatsApp. Durante a pandemia, “quando percebemos que as pessoas acreditavam nas mentiras que chegavam pelo WhatsApp, e também passavam de parente a parente, começamos a pensar em estratégias de comunicação para combater essas informações falsas nas comunidades”, explica Raimundo Baniwa, coordenador da comunicação da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), uma das maiores organizações indígenas do país e que é responsável pela Rede Wayuri. “Vacina era uma dose de serpente” Moisés Baniwa é operador de câmera e membro da Rede Wayuri. Ele conta que ouviu a palavra fake news pela primeira vez de grupos evangélicos dizendo que a vacina contra o coronavírus “era uma dose de serpente” e que quem a tomasse “viraria Satanás”. Foi no encontro dos comunicadores indígenas, em janeiro último, que ele descobriu que a expressão inglesa fake news significa Ixaattikhaa em Baniwa, uma das muitas línguas locais. Ele pretende usar essa tradução para facilitar as explicações sobre as notícias falsas aos membros da sua comunidade. Como em muitas terras indígenas brasileiras, a tecnologia e o uso dos celulares são comuns nas comunidades do alto rio Negro, principalmente entre os jovens. Mesmo com a internet instável, mensagens de WhatsApp são cada vez mais difundidas. Foi através delas que se disseminou muita informação falsa durante a pandemia. “Nas comunidades baniwa, a vacinação foi muito difícil. Boatos diziam que, no Instituto Butantã, em São Paulo, as pessoas tiravam o veneno da cobra para produzir as vacinas. Isso gerava muito medo entre os parentes”, conta Moisés Baniwa. Moisés começou a usar câmeras aos 13 anos. “Era uma daquelas máquinas de revelar” que ganhou do pai, conta. Às vezes, esperava semanas para ter seus filmes revelados em viagens entre a cidade e a aldeia. Em 2010, já adulto, trabalhou no projeto de construção de uma maloca na sua comunidade, para a qual foram comprados novos equipamentos fotográficos. “Foi assim que pudemos desenvolver mais o tema do audiovisual com a galera”, explica. Hoje, ele filma para a Rede Wayuri, mas também leva notícias apuradas à sua comunidade e diz que lá os jovens da comunicação preocupam-se cada vez mais em checar informações. “Chamamos os jovens e formamos um grupo com celular, câmera. Ensinamos e depois contamos histórias para o grupo.” Encontro de jovens comunicadores Durante a 4ª oficina de comunicação da Rede Wayuri, em janeiro, ele ouviu que textos e imagens podem ser falsos. E que há também as deepfakes, quando as vozes são manipuladas em vídeos e uma pessoa pode aparecer dizendo algo que, de fato, ela nunca afirmou. Foi por isso também que os comunicadores indígenas debateram como as fake news e as deepfakes podem ser preocupantes no contexto das eleições de outubro, no Brasil. “Muito bom entender esta palavra chique, em inglês – as fake news”, disse uma das comunicadoras locais durante a oficina. O encontro reuniu cerca de 50 jovens indígenas de quase todas as 23 etnias da região do alto rio Negro, entre 10 e 18 de janeiro. Foi assessorado pelo Instituto Socioambiental (ISA) e teve apoio do Instituto para Democracia, Mídia e Intercâmbio Cultural (IDEM), com sede na Alemanha. Inclusão digital na Amazônia Na Amazônia, grande parte da comunicação é feita por rádio, e atualmente há cerca 400 aparelhos instalados nas comunidades. Cada um deles pode ser sintonizado em qualquer ponto do país. “Quem sintoniza na mesma frequência ouve o que todos falam, como um grupo de WhatsApp. Mas só é possível ligar o rádio no horário em que a frequência foi contratada”, explica Cláudia Ferraz no quarto podcast produzido pelos comunicadores durante o último encontro do grupo. Mas as lideranças indígenas da região sabem que o melhor jeito de checar informações falsas é via internet. É por isso que pedem inclusão digital através de políticas públicas adequadas. Há atualmente 20 pontos de internet instalados nas 750 comunidades da região. Quem circula pelos locais onde há internet pode também baixar os boletins de áudio em podcast da Rede Wayuri, ouvir e compartilhar por bluetooth. Ou reproduzi-las nas rádios-poste, que são como alto-falantes que informam ecoando as vozes pelas comunidades. Além de produzir boletins de áudio, na fase mais aguda da pandemia de covid-19 o grupo de comunicadores da Rede Wayuri viajou semanas enfrentando as corredeiras e cachoeiras dos rios da região para levar informação apurada e combater,