No STF, servidor diz que governo Bolsonaro tentou ligar Lula a facção

Demanda era para investigar volume de votos em áreas ligadas ao CV O analista de inteligência Clebson Ferreira de Paula Vieira, que atuou no Ministério da Justiça durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, declarou nesta segunda-feira (14), em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que recebeu ordens para produzir dados com o objetivo de vincular o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva a facções criminosas. “Chegou um pedido para realizar uma análise estatística de correlação entre a concentração de votos e territórios dominados pelo Comando Vermelho no Rio de Janeiro, para verificar se havia alguma relação com o desempenho eleitoral do candidato Lula nessas áreas”, afirmou Vieira, ao ser ouvido como testemunha de acusação a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). O depoimento ocorreu no âmbito de uma das ações penais que apuram a tentativa de golpe de Estado supostamente articulada por Bolsonaro e seus aliados. Segundo Vieira, as solicitações envolvendo dados eleitorais começaram em 2022, sob a coordenação da delegada Marília de Alencar, à época diretora de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça. Marília é uma das rés na ação penal. Vieira relatou que foi solicitado um levantamento nacional com os locais onde cada candidato teve mais de 75% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial, mas apenas os dados referentes a Lula foram levados adiante. Em mensagens trocadas com a esposa na época, o servidor mencionou incômodo com as ordens recebidas. “Ficava muito mal com uma demanda daquelas, diretamente da diretora”, escreveu à companheira, observando o viés político das instruções. Ações da PRF Também prestou depoimento nesta segunda-feira o ex-coordenador de Inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Adiel Pereira Alcântara. Em consonância com declarações anteriores, Alcântara voltou a afirmar que houve orientações para intensificar fiscalizações durante o segundo turno das eleições de 2022. “Foram orientações gerais, mas a fiscalização foi mais intensificada em estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Goiás”, relatou. Segundo ele, a percepção era de que a atuação visava regiões de onde muitos eleitores seguiam para o Nordeste, tradicional reduto eleitoral de Lula. Ambas as testemunhas foram ouvidas na ação penal que investiga o Núcleo 2 da suposta trama golpista. Esse grupo, segundo a PGR, foi responsável por ações estratégicas, como monitoramento de autoridades, produção de documentos e formulação de dados voltados à sustentação de uma tomada de poder. Entre os investigados estão Filipe Martins, ex-assessor internacional da Presidência; Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro; Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF; Mário Fernandes, general do Exército; Marília de Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça; e Fernando de Sousa Oliveira, ex-secretário-adjunto de Segurança Pública do Distrito Federal. No período da tarde, prosseguiu a oitiva do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e delator no inquérito que apura a tentativa de golpe. Pela manhã, as audiências foram conduzidas pelo juiz auxiliar Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF.

Lula: governo tem apoio do povo para enfrentar sanção de Trump

Presidente critica atuação de Bolsonaro para tarifas da Casa Branca O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou, nesta sexta-feira (11), que o governo tem apoio do povo brasileiro para enfrentar as sanções econômicas do governo dos Estados Unidos (EUA) e que o Brasil não pode “baixar a cabeça” para as chantagens e ameaças de Donald Trump. “Esse país não baixará a cabeça para ninguém. Ninguém porá medo nesse país com discurso e com bravata. Ninguém. E eu acho que, nesse aspecto, nós vamos ter o apoio do povo brasileiro, que não aceita nenhuma provocação”, disse o presidente, durante cerimônia, em Linhares, no Espírito Santo (ES), de lançamento de indenização a atingidos pelo rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais (MG). Diversos setores da sociedade brasileira têm criticado a medida do governo Trump de taxar todos os produtos brasileiros em 50%, incluindo organizações empresariais, de trabalhadores, meios de comunicação, do Parlamento e dos movimentos sociais. Lula voltou a defender o uso da Lei de Reciprocidade para responder as taxações de Trump caso as negociações com Washington não surtam efeito. Trump alega falsamente que os EUA têm déficit comercial com o Brasil, o que é desmentido pelas próprias estatísticas dos EUA. “Entre comércio e serviço, nós temos um déficit de US$ 410 bilhões com os EUA [em 10 anos]. Eu que deveria taxar ele”, disse Lula, acrescentando que Trump está “mal informado”. Bolsonaro O presidente Lula ainda fez duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que vem sendo investigado pelo Ministério Público (MP) por supostamente articular sanções contra o Brasil para escapar do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado. Já Trump alega que ele é vítima de perseguição política e associa as tarifas contra o Brasil ao julgamento do político do PL. “Que tipo de homem que é esse que não tem vergonha para enfrentar o processo de cabeça erguida e provar que foi inocente? Quem está denunciando ele não é ninguém do PT, quem está denunciando ele são os generais e o ajudante de ordens dele, que era coronel do Exército”, disse Lula. O presidente ainda questionou a ação da família Bolsonaro contra o julgamento da trama golpista. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se licenciou do cargo de parlamentar e foi para os EUA, onde pede ações do governo Trump contra o Brasil. “O ‘coisa’ [Bolsonaro] mandou o filho, que era deputado, se afastar da Câmara para ir lá, ficar pedindo, ‘Ô Trump, pelo amor de Deus, Trump, salva meu pai, não deixa meu pai ser preso’. É preciso que essa gente crie vergonha na cara”, disse Lula, ainda na cerimônia, em Linhares (ES). Bolsonaro é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de liderar uma tentativa de golpe de Estado para anular as eleições presidenciais de 2022 com objetivo de se manter no poder. Ele teria pressionado os comandantes militares para aderir ao golpe, com planos de assassinatos do presidente Lula, do vice, Geraldo Alckmin, e do ministro do STF Alexandre de Moras. Nas redes sociais, Bolsonaro elogiou Trump, disse que a tarifa é resultado do afastamento do Brasil “dos seus compromissos históricos com a liberdade” e pediu “aos Poderes que ajam com urgência apresentando medidas” para resgatar a “normalidade institucional”. Bolsonaro e seus aliados negam os crimes imputados de tentativa de golpe de Estado. Para analistas consultados pela Agência Brasil, a sanção de Trump contra o país é chantagem política mirando o Brics, a regulação das big techs e uma tentativa de interferir no processo judicial e político interno.

PF faz buscas contra criminosos que criaram site falso de inscrição no Enem

O esquema criminoso aconteceu durante o Enem 2024; os investigados arrecadaram R$ 3 milhões com a plataforma falsa de inscrição no exame Foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão domiciliar na cidade de Praia Grande (SP). Um dos alvos tem pelo menos 15 anotações criminais por estelionato. Também foram adotadas medidas restritivas de bens, para bloquear o montante obtido de forma ilegal. A prática criminosa ocorreu no Enem 2024. De acordo com a PF, os investigados criaram sites falsos durante o período de inscrição oficial, entre 27 de maio e 14 de junho de 2024. O ambiente virtual simulava o criado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável por criar e aplicar a prova. A fraude publicidade enganosa, com o uso de sinais públicos do Ministério da Educação, do Inep e do governo federal para persuadir as vítimas. A partir da inscrição nesses sites falsos, os usuários faziam pagamentos para os criminosos acreditando se tratar de registro regular no exame. Agentes identificaram que os pagamentos eram feitos via Pix para uma conta bancária vinculada a uma empresa privada que acumula reclamações na internet por práticas semelhantes, de cobrança indevida sem entrega de serviços ou produtos. No esquema, os criminosos teriam recebido aproximadamente R$ 3 milhões. A cifra indica que mais de 35 mil candidatos caíram no golpe, a partir da taxa de R$ 85. Dessa forma, foram eliminados sumariamente do Enem 2024 pela ausência de inscrição pelo canal oficial. A PF informou que continuará as investigações para identificar outros envolvidos no esquema, apurar a extensão dos danos e responsabilizar o grupo criminoso pela prática de fraude eletrônica com uso de meio virtual

Vício em bets adia graduação de 34% dos jovens em 2025, revela pesquisa com universidades

Impacto das apostas online atinge principalmente classes mais pobres e já afeta também quem está matriculado no ensino superior O vício em apostas online tem interferido diretamente no acesso à educação superior no Brasil. Segundo levantamento da Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior), realizado em parceria com a consultoria Educa Insights, 34% dos jovens brasileiros entre 18 e 35 anos adiaram o início da graduação em 2025 por conta de gastos com apostas em plataformas conhecidas como “bets” — entre elas o popular “jogo do tigrinho”. Os dados foram divulgados pelo portal UOL nesta terça-feira (9). O impacto é ainda mais severo nas regiões Nordeste e Sudeste, onde os índices sobem para 44% e 41%, respectivamente. Entre os jovens das classes D e E — cuja renda familiar gira em torno de R$ 1 mil —, 43% afirmam que precisarão abandonar os gastos com apostas para iniciar um curso superior em 2026. Entre os jovens da classe A, com renda média de R$ 26,8 mil, o número cai para 22%. A pesquisa ouviu 11.762 pessoas entre os dias 20 e 24 de março. Para o diretor-geral da Abmes, Paulo Chanan, os dados revelam um cenário preocupante. “O impacto das bets vai além da captação de novos alunos, afeta a permanência dos que já estão matriculados”, afirma. Segundo ele, a evasão provocada pelas apostas é uma realidade crescente nas universidades. “A crescente popularização das bets impacta justamente o público-alvo da educação superior: brasileiros de 18 a 35 anos.” Além de impedir o início dos estudos, as apostas também comprometem a permanência de quem já está na universidade: 14% dos alunos afirmaram ter atrasado o pagamento das mensalidades ou precisaram trancar a matrícula por causa do vício em bets. No Nordeste, esse índice sobe para 17%. Com base nos dados, a Abmes estima que cerca de 986 mil potenciais universitários devem ficar de fora das instituições de ensino superior neste ano. O motivo principal é o comprometimento da renda desses jovens com os sites de apostas, que hoje dominam o tráfego online no Brasil — já são o segundo maior destino da internet, atrás apenas do Google, superando até YouTube e WhatsApp. A pesquisa também revela que o problema se estende para outros aspectos da vida cotidiana. Entre os entrevistados, 24% afirmaram que deixaram de investir em academias ou atividades físicas para gastar com apostas, enquanto 28% disseram ter abandonado momentos de lazer, como idas a bares e restaurantes, por preferirem usar o tempo e o dinheiro nas plataformas de betting. A crescente influência das apostas levou à instalação de uma CPI das Bets no Senado, que apurou os efeitos econômicos e sociais do setor. Influenciadores digitais populares, como Virgínia Fonseca, foram ouvidos. A relatora da comissão, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), chegou a pedir o indiciamento de alguns deles, mas o relatório final foi rejeitado. Ainda assim, Soraya alertou: “Se por um lado observamos um crescimento expressivo entre a população mais pobre e vulnerável, por outro, chama a atenção o número crescente de jovens, muitos com acesso à informação e ao ensino superior, que estão sucumbindo ao vício.” A Abmes evita adotar uma posição contra a regulamentação das apostas, mas defende a criação de políticas públicas de controle, conscientização e responsabilidade. A entidade propõe que o problema seja enfrentado com base em dados e discutido tanto no meio educacional quanto político. Enquanto isso, no Congresso, segue sem previsão a votação do projeto que pretende legalizar cassinos, jogo do bicho e bingos no Brasil. A proposta não aborda diretamente as apostas online, que, para muitos senadores, representam uma ameaça ainda maior. Como afirmou Soraya Thronicke: “Considero o cassino físico menos prejudicial do que o online, que fica 24 horas disponível nas casas de todos os brasileiros.”

Lula condena ameaça de Trump ao Brics: “Não queremos imperador”

O norte-americano tenta impedir aproximações com o bloco, ameaçando impor tarifas. O presidente brasileiro considera a atitude pouco responsável e nada séria O presidente Lula rebateu, nesta segunda-feira (7), a ameaça de Donald Trump de retaliar com tarifas os países que aderirem às políticas “antiamericanas” do Brics, como classificou o presidente dos Estados Unidos. Em coletiva de imprensa após o encerramento da Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro (RJ), Lula disse que nem deveria comentar, pois classifica a postura de Trump pouco responsável e nada séria. Além disso, ressaltou que os países do grupo, assim como o resto do mundo, não precisam de um “imperador” e têm o direito à reciprocidade nas medidas. “Eu sinceramente nem acho que deveria comentar, porque eu não acho uma coisa muito responsável e séria um presidente da república de um país do tamanho dos Estados Unidos ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto. O mundo mudou: não queremos imperador. Nós somos países soberanos. Se ele achar que pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade. Sinceramente, tem outras coisas e outros fóruns para falar com outros países. As pessoas têm que aprender que respeito é bom. Respeito é muito bom. A gente gosta de dar e gosta de receber”, afirma Lula Ao ser questionado sobre a defesa que o mandatário norte-americano fez do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula disse que o Brasil “tem lei, tem regra e tem um dono chamado povo brasileiro, portanto, dê palpite nos assuntos do seu país e não do nosso”, rebate. Sobre a repercussão do tema tarifário dentro da Cúpula, o presidente fez a indicação de que ninguém tocou no assunto: “Não demos nenhuma importância a isso.” Transação em moedas locais Quando questionado sobre o avanço no debate sobre transação entre os países do grupo nas suas próprias moedas, deixando o dólar de lado, Lula afirma que este é um caminho sem volta. “O mundo precisa encontrar um jeito para que a nossa relação comercial não precise passar pelo dólar. Quando for com os Estados Unidos ela passa pelo dólar. Mas quando for com a Argentina, com a China, com a Índia, não precisa passar. Quando for com a Europa discute-se em Euro. […] E, obviamente, nós temos toda a responsabilidade de fazer isso com muito cuidado, com a participação dos Bancos Centrais. É uma coisa que não tem volta. Isso vai acontecendo aos poucos até que seja consolidado”, sublinha. IOF Também foi perguntado sobre a questão do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O presidente brasileiro classifica a atuação do Congresso como “totalmente anticonstitucional” ao barrar um decreto do Executivo, e citou exemplos de outros governos em que medidas similares não foram questionadas. Apesar do embate, entende que é uma “divergência política própria da democracia” e que pretende resolver o tema ao buscar um consenso durante a semana. Brics e uma nova abordagem ao multilateralismo Antes das perguntas dos jornalistas, Lula fez um balanço da reunião do Brics. De acordo com o presidente, o encontro foi um dos mais significativos, assim como o realizado no âmbito do G20, também no Rio de Janeiro, em novembro de 2024. Em sua avaliação, o bloco oferece uma nova abordagem para o multilateralismo internacional: “Temos a convicção de que não queremos mais um mundo tutelado. Não queremos mais Guerra Fria ou o desrespeito à soberania. Não queremos mais guerra e, por isso, estamos discutindo profundamente a necessidade de mudanças estruturais, inclusive no Estatuto da ONU, para recriar algo com base nos acontecimentos atuais, e não nos de 1945. Aquele mundo ficou para trás. Os saudosistas do fascismo e do nazismo não estão no Brics. No grupo buscamos fortalecer o processo democrático, o multilateralismo, a paz, o desenvolvimento e a participação social.” O líder brasileiro inclusive reforça o pedido de mudanças no Fundo Monetário Internacional (FMI) como forma de refletir o desejo por um banco de investimento que atenda às necessidades dos países mais pobres, sem levá-los à falência, como tem acontecido: “O modelo de austeridade faz com que as dívidas sejam impagáveis”, alerta. “Guerra contra o Hamas e só matam inocentes, mulheres e crianças?” Lula ainda destaca que, no marco dos 80 anos da Segunda Guerra Mundial, período após o qual os organismos internacionais foram criados, é preciso reforçar o multilateralismo e não o destruir, em um mundo novamente em convulsão. “Estamos vivendo hoje, possivelmente, depois da Segunda Guerra Mundial, o maior período de conflito entre os países. É guerra esparramada para tudo quanto é lado. E o mais grave é que os países do Conselho de Segurança da ONU, que deveriam ser o paradigma para tentar evitar essas guerras, são eles os promotores”, critica. Ao abordar todos os conflitos em curso, o presidente reiterou as críticas ao que acontece em Gaza: “Dizer que aquilo é uma guerra contra o Hamas e só matam inocentes, mulheres e crianças? E cadê a instituição multilateral para colocar um fim nisso? Não existe! A ONU deveria estar condenando, mas a ONU não pode condenar, porque ela está envolvida nisso. Quando eu digo a ONU, é porque tem países no Conselho de Segurança envolvidos nisso, excluindo a China, mas o restante está envolvido, tanto da Europa quanto os Estados Unidos”, explica Lula, ao indicar o motivo de não haver uma interlocução para uma proposta alternativa ao que temos, o que evidencia a necessidade de fortalecimento do grupo por este contexto. “Brics não nasceu para afrontar ninguém” Na fala, o presidente também defende mudanças na governança mundial para que represente de forma equitativa países de todas as regiões do mundo. “O Brics, que não nasceu para afrontar ninguém, é um novo modo de fazer política. Uma coisa mais solidária. Em que o banco esteja muito mais preocupado em ajudar os países em desenvolvimento a se desenvolver. E que na questão ambiental a gente tenha consciência de que a questão do clima é muito séria”, menciona Lula ao rememorar os desastres no Rio Grande do Sul e o mais

Fabiano Santos prepara carta de renúncia à presidência dos Correios

Sob pressão da Casa Civil para executar plano de reestruturação com fechamento de agências e demissões, dirigente da estatal decide entregar o cargo a Lula O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, elaborou uma carta em que coloca seu cargo à disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), diante do aumento da pressão por parte da Casa Civil para a execução de um plano de reestruturação da estatal. A informação foi publicada pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. Fabiano, que está à frente da empresa desde 2023 e tem mandato até agosto, relatou a diretores da estatal que a exigência da Casa Civil inclui o fechamento de agências em todo o país, com o objetivo de gerar uma economia de cerca de R$ 1 bilhão. A proposta se soma aos R$ 800 milhões estimados com o Plano de Demissão Voluntária (PDV), que prevê o desligamento de aproximadamente 4 mil funcionários. Com o fechamento de unidades, o número de demissões pode chegar a 10 mil. Resistência a cortes e missão social da estatal Fabiano resiste à ideia de demissões em larga escala, especialmente num momento em que os Correios ampliam sua atuação em comunidades historicamente desassistidas. Apenas no Rio de Janeiro, mais de 50 favelas foram contempladas com novas agências nos últimos meses. Segundo ele, as mudanças propostas ferem o papel social da estatal e comprometem seu compromisso com a inclusão. Em reuniões internas, o presidente dos Correios afirmou que as medidas colocam em risco os avanços da empresa em regiões periféricas e prejudicam trabalhadores em um momento de difícil recuperação econômica para muitos brasileiros. Rui Costa nega defesa de demissões Procurado pela Folha, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou por meio de sua assessoria que “nunca defendeu demissão em massa” na estatal. Em conversas com aliados, ele tem defendido a “racionalização dos gastos” como meta principal, sem entrar em detalhes sobre o impacto social das medidas exigidas. Apesar das negativas públicas, fontes internas confirmam que a Casa Civil tem pressionado por uma reformulação estrutural com foco em corte de custos e aumento de eficiência. A avaliação no governo é que a situação financeira dos Correios exige uma resposta urgente. Prejuízo bilionário e cobiça política Os Correios fecharam 2024 com um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, que a atual gestão atribui principalmente às mudanças nas regras de importação de produtos internacionais de pequeno valor, popularmente conhecidas como “taxa das blusinhas”. A nova tributação impactou fortemente o fluxo de encomendas internacionais, um dos principais segmentos da estatal nos últimos anos. Mesmo em crise, a empresa continua sendo alvo de interesse político. Partidos como o União Brasil disputam espaço de influência sobre os Correios, que recentemente conseguiram um empréstimo junto ao Banco do Brics e planejam investir R$ 5 bilhões em modernização e ampliação de seus serviços nos próximos anos. A possível saída de Fabiano Silva dos Santos reacende a disputa por cargos de comando em empresas públicas e pode abrir espaço para novas indicações políticas, em um momento de negociações delicadas no Palácio do Planalto.

Blog do Rovai – Lula decide arriscar pra não perder sem lutar

A decisão que Lula tomou foi, certamente, fruto de muita reflexão. O presidente sabe que o que está em jogo é, de alguma forma, como vai encerrar a vida pública O destino deste terço final do terceiro mandato de Lula está amarrado ao resultado da batalha que se inicia hoje. O presidente deu sinal verde na tarde de ontem para que a AGU judicialize a decisão da Câmara impedindo o aumento do IOF, o imposto dos ricos. Se o STF fizer o seu trabalho, a votação que derrubou o decreto presidencial vai ser considerada ilegal e o imposto continuará valendo. Dez entre dez juristas sérios dizem que a Constituição é clara neste aspecto e que o STF não terá como interpretá-la de outra forma. A vitória no Supremo, porém, não significará uma vitória imediata do governo Lula. Pode ser também o início de uma guerra de fim de mandato que exigirá do presidente espírito de luta e capacidade de articulação dos seus melhores momentos na política para não se transformar naquilo que os americanos chamam de pato manco, um político em fim de mandato sem força alguma e predestinado a um fim melancólico. Leia também Derrota acachapante no Congresso escancara infidelidade da base do governo Contra quem é a guerra? Hugo Motta não age por si. Ele representa o establishment brasileiro que não quer mais Lula e o PT no comando do governo federal. E que já escolheu Tarcísio para presidente a partir de 2026. Caberia a Lula, na visão deste setor, agradecer por ter tido a oportunidade de encerrar sua carreira política com dignidade em 2026 e lançar um candidato para ser derrotado pelo governador de São Paulo. Mas Lula olhou no espelho e parece não ter reconhecido na sua imagem alguém que aceitaria isso passivamente. Sua história não combina com o que as elites decidiram para ele desde que subiu com dona Lindu num pau de arara e foi parar no Guarujá, litoral paulista, à procura do pai que abandonara a família no sertão. Este Lula não morreu e tampouco se aposentou. Este é o recado que está sendo dado com a decisão de ir à guerra contra o centrão para não ser refém dele neste terço final deste mandato. Vai dar certo a estratégia? Esta é uma questão que não está pacificada. Dentro do próprio PT há quem ache que o presidente deveria tentar negociar mais antes desta cartada pela judicialização. Mas Lula avalia que Hugo Motta passou de todos os limites e que se mostrar fraqueza será engolido pelo processo. Decidiu que se tiver que ser derrotado, será lutando. A decisão de Lula implica de alguma forma numa disputa que o PT tem tradição. A de opor os interesses dos mais pobres com a ganância dos mais ricos, que não aceitam pagar nenhum centavo a mais para garantir projetos que melhorem a vida do povo. Mas será que o PT ainda sabe conversar com o novo povão brasileiro formado em tempos de redes digitais e com forte influência da teoria da prosperidade do pentecostalismo e do discurso neoliberal do empreendedorismo como salvação? Há muita gente no próprio PT que avalia que não. Que o tempo passou na janela e que o próprio Lula não viu, como na Carolina de Chico Buarque. Há um outro setor que avalia exatamente o contrário. Que a partir do governo ainda é possível o PT tentar se reencontrar com as velhas bases e garantir um novo mandato para Lula, quando haveria tempo para reconstruir um projeto popular de nação mais à esquerda. Sem arriscar agora, o campo progressista estaria entregando tudo de bandeja para os setores mais fisiológicos e conservadores. E isso seria também o fim do lulismo e do próprio petismo como alternativa de poder. A decisão que Lula tomou ontem foi, certamente, fruto de muita reflexão. O presidente sabe que o que está em jogo é, de alguma forma, como vai encerrar a vida pública. E optou por ir à luta. Ele sabe que isso pode lhe custar muito caro, mas não viu alternativa melhor. As cartas estão lançadas. E Lula, cá entre nós, não é um jogador qualquer. O outro lado também terá que calcular seus riscos. Hugo Motta também pode ter o destino de um Severino Cavalcanti ou de um Eduardo Cunha. Alguém precisa avisá-lo disso. Blog do Rovai

Olimpíada de Matemática premia quase 8.500 estudantes de todo o país

Edição teve participação recorde de mais de 18,5 milhões de estudantes A cerimônia nacional de premiação da 19ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) entregou nesta segunda-feira (30) medalhas para 8.496 estudantes de instituições públicas e privadas. Outros 51.002 estudantes receberam certificados de menção honrosa. Houve representantes de 5.564 municípios brasileiros (99,9%), de todas as unidades federativas. Ao todo, 56.513 instituições participaram desta edição. Foram premiados 683 estudantes com medalha de ouro, 1.962 com prata e 5.851 com bronze. Na divisão por tipo de instituição, 500 estudantes das escolas públicas conquistaram medalhas de ouro, enquanto 183 foram para a rede privada. Entre os estados, São Paulo teve o maior número de medalhas de ouro (158), seguido de Minas Gerais (93) e Rio Grande do Sul (71). Segundo o Ministério da Educação (MEC), a olimpíada deste ano teve recorde de participação, com mais de 18,5 milhões de estudantes. O evento, que ocorreu em um hotel da Zona Oeste do Rio de Janeiro, é promovido pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). “Esse é um caso de sucesso. Não à toa há milhões de meninos e meninas que participam. E a gente quer mais é garantir que isso transforme a vida dessas crianças. É um esforço enorme das famílias que se envolvem nessa maratona, em que os alunos se apaixonam e vão em busca desse aprendizado”, disse a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação Luciana Santos. “A matemática não é nenhum bicho papão. É algo acessível desde que a gente consiga criar métodos e estímulos que aproximem ciências que parecem complexas, mas que toda pessoa tem a possibilidade de aprender”, complementou. Os medalhistas serão convidados a participar do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC), e poderão aprofundar conhecimentos em matemática. Integrantes das escolas públicas terão direito a bolsa de R$ 300. “Esse é um exemplo de política pública adotada pelo governo federal, que, depois de 20 anos, claramente é uma política de sucesso, que está mudando vidas de jovens de todo o país e que está pronta para mais 20 anos de sucesso”, disse o diretor-geral do IMPA Marcelo Viana. Novo programa O ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou, durante o evento, o lançamento do programa Compromisso Nacional Toda Matemática. Por meio dele, o governo federal pretende estimular ações que melhorem a qualidade do ensino de matemática e o desempenho dos estudantes. “Sabemos das dificuldades que a rede pública tem no aprendizado de matemática. O último Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes] mostrou que mais de 70% dos alunos com 15 anos que fazem a prova não têm aprendizagem adequada. Imagine o desafio que temos no Brasil? Vamos, agora, lançar esse programa para apoiar a formação de professores, e ajudar técnica e financeiramente as redes de ensino básicas”, disse o ministro. Santana disse que ouviu professores, dirigentes escolares e secretários de educação para formular o programa. E que o MEC pretende reduzir desigualdades regionais e articular os sistemas de avaliação educacional da educação básica para a tomada de decisões nas redes de ensino.

Michelle Bolsonaro aciona Justiça após ser chamada de “ex-garota de programa”

A ação, protocolada na 2ª Vara Criminal de Teresina, alegou crimes de injúria e difamação A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ingressou com uma queixa-crime contra a comunicadora Teônia Mikaelly Pereira de Sousa, integrante do podcast piauiense IELTV. A ação, protocolada na 2ª Vara Criminal de Teresina, alegou crimes de injúria e difamação, com agravantes pelo uso de redes sociais. Em episódios do podcast publicados nos dias 11 e 14 de junho, a apresentadora afirma que Michelle seria “ex-garota de programa” e que membros de sua família “têm passagem pela polícia”. Os vídeos já ultrapassaram 1 milhão de visualizações nas redes sociais, apontou a coluna de Paulo Cappelli nesta sexta-feira (27). A defesa da ex-primeira-dama, representada pelo advogado Marcelo Luiz Ávila de Bessa, afirmou que as declarações são “completamente falsas e ofensivas” e teriam como objetivo atacar sua imagem pública. A defesa também solicitou a participação do Ministério Público e pediu a condenação da ré com aplicação de agravantes legais, sobretudo por uso de plataformas de ampla divulgação. Presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro é cotada para disputar o Senado pelo Distrito Federal no próximo ano.

Derrota acachapante no Congresso escancara infidelidade da base do governo

Com votos de partidos aliados, Câmara derruba decreto do IOF e aprofunda crise de articulação do Planalto A fragilidade da base aliada do governo Lula (PT) ficou exposta de forma incontestável na votação que derrubou o decreto de aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na Câmara dos Deputados. A medida, considerada essencial pela equipe econômica para manter o equilíbrio fiscal, foi rejeitada por ampla maioria — 383 votos contra e apenas 98 a favor, em um universo de 513 parlamentares. Mais que uma questão tributária, o episódio escancarou o isolamento político do Palácio do Planalto e sinalizou rearranjos de força rumo à disputa presidencial de 2026, analisa Letícia Casado em reportagem no UOL. O impacto da derrota se ampliou pelo fato de que partidos com ministérios no governo — como PSD, MDB, Republicanos, União Brasil e Progressistas — votaram em peso contra o decreto, ao lado da oposição liderada pelo PL. A rejeição foi interpretada por aliados e adversários como uma espécie de termômetro da popularidade de Lula no Congresso. Dados das pesquisas Datafolha e Ipsos/Ipec, divulgadas em junho, já indicavam queda na avaliação positiva do presidente. Essa erosão, aliada a disputas internas por espaço e verbas, impulsionou o distanciamento de setores da base, especialmente no centrão. Aliança informal com a oposição e sinalização para 2026 – A votação revelou que a movimentação de partidos da base rumo à oposição não se dá apenas por diferenças ideológicas, mas pela percepção de que o governo perdeu capacidade de liderar. As críticas contra o aumento de impostos se somam a outros incômodos, como a insatisfação com o que parlamentares chamam de “dobradinha” entre o Executivo e o Supremo Tribunal Federal, especialmente na figura do ministro Flávio Dino. Dino, que assumiu uma cadeira no STF após deixar o Ministério da Justiça, tem sido apontado como peça-chave nas decisões que dificultam a liberação de emendas parlamentares. Entre elas, estão bloqueios determinados por ele e exigências de maior transparência no uso de recursos públicos. O ministro também é relator de investigações sobre uso irregular de verbas, o que elevou ainda mais a tensão entre os Poderes. O governo não descarta acionar o STF para reverter a derrota no caso do IOF. Mas uma eventual judicialização tende a agravar o atrito institucional, especialmente se for vista como tentativa de deslegitimar a decisão do Congresso. Crise de articulação e risco de paralisia política – A ruptura entre Executivo e Legislativo não é um movimento isolado, mas reflexo de um esgarçamento mais profundo da governabilidade. Com a proximidade do calendário eleitoral, líderes do centrão e da oposição já ensaiam alianças visando 2026. O resultado da votação do IOF foi um marco simbólico: mostrou que a fidelidade da base governista é cada vez mais incerta e que a capacidade do Planalto de pautar o Congresso está em xeque. Além disso, o episódio reacendeu o debate sobre o uso estratégico de emendas parlamentares como moeda de troca política e sobre a autonomia do Congresso em relação ao Executivo. O desgaste tende a se acentuar à medida que o governo enfrente novas votações de temas sensíveis, sob um cenário de desconfiança e instabilidade.