Contra a PEC da Bandidagem e anistia aos golpistas Gil e Chico cantam Cálice

Em Copacabana, no Rio de Janeiro, uma multidão se reuniu a partir das 14h para manifestar-se contra a “PEC da Bandidagem”, que visa retroagir e impedir que parlamentares sejam investigados por crimes sem a autorização de seus pares. Gilberto Gil e Chico Buarque cantam “Cálice” durante ato em Copacabana. Créditos: Reprodução/Vídeo/Mídia NinjaA música foi composta por ambos os músicos e foi censurada pelos militares em 1973, quando Gil e Chico tentaram cantar a canção em uma apresentação. Hoje, a música é resgatada como forma de protesto contra a extrema direita e o Centrão no Congresso Nacional. Confira o momento histórico abaixo: Caso aprovada, a “PEC da Bandidagem” retroagiria a um mecanismo de 1988, que só permitia investigação criminal contra parlamentares com a anuência de seus colegas. Entre 1988 e 2001, apenas três deputados chegaram a ser investigados sob essa regra. Veja abaixo vídeos e fotos da manifestação contra a “PEC da Bandidagem” no Rio de Janeiro: 🇧🇷 Na manifestação contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia, Chico Buarque e Gilberto Gil cantam “Cálice”, música feita na ditadura como um paralelo a “cale-se” para driblar a censura. A canção se tornou um símbolo da resistência contra a repressão e marcou gerações. pic.twitter.com/k4fzPjSgXZ — Eixo Político (@eixopolitico) September 21, 2025 Veja abaixo vídeos e fotos da manifestação contra a “PEC da Bandidagem” no Rio de Janeiro: DOMINGO É RUA EM TODO O BRASIL! Em todas as cidades, o povo lotando as ruas pra dar o recado. Sem anistia pra golpista! Não à PEC da bandidagem! No Rio de Janeiro, tá começando agora, 14h, na Praia de Copacabana – Posto 5. Vai ser histórico! ✊🏼 pic.twitter.com/kuKKK6QNJX — Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) September 21, 2025 Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Manaus, João Pessoa, Porto Alegre e outras capitais e cidades do Brasil hoje estão nas ruas e o coro é um só: sem retrocessos! Hoje, o povo mostrou sua indignação contra a PEC da blindagem e a tentativa de anistiar… pic.twitter.com/GK5fkfmFQa — Jandira Feghali 🇧🇷🚩 (@jandira_feghali) September 21, 2025 E na estação de metrô Canta Galo, no Rio de Janeiro… SEM ANISTIA PARA GOLPISTASPOVO CONTRA ANISTIATRABALHEM PARA O POVO Vídeo: reprodução das redes pic.twitter.com/xAXV8lDKyS — CUT Brasil (@CUT_Brasil) September 21, 2025 Rio de Janeiro, Copacabana, 21 de setembro de 2025. BRASIL QUER JUSTIÇAPOVO CONTRA ANISTIA PACIFICA COM PRISÃO TRABALHEM PARA O POVOCONGRESSO SEM BANDIDAGEMHOJE É POVO NA RUA pic.twitter.com/B3zWc4xUe0 — Jonas Di Andrade (@jonasdiandrade) September 21, 2025 O povo está chegando Rio de Janeiro! Ao som de ''SEM ANISTIA'' multidão se direciona para a concentração contra a PEC da Bandidagem! HOJE É POVO NA RUA 🎥Natália Mendes / CC Mídia NINJA pic.twitter.com/xDxNbzTnFn — Mídia NINJA (@MidiaNINJA) September 21, 2025 No Rio de Janeiro a pauta do povo é SEM ANISTIANÃO À PEC DA BANDIDAGEM pic.twitter.com/cNqbuTnvlb — Sandroka13 (@sandraselmasr) September 21, 2025 O Rio de Janeiro está fervendo contra a PEC DA IMPUNIDADE! O BRASIL É DOS BRASILEIROS O BRASIL É SOBERANO NÃO VAI TER ANISTIA PEC DA BLINDAGEM É O CARALHO. pic.twitter.com/8p3SV8ZLh0 — Lia De Sousa (@LiaDeSousa1) September 21, 2025

Chico, Caetano e Gil se unem em show no Rio contra PEC da Blindagem

O protesto, convocado por artistas e movimentos sociais para o domingo 21, acontecerá também em outras cidades do Brasil Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque foram confirmados no protesto em Copacabana no domingo, 21, contra a PEC da Blindagem, aprovada nesta semana na Câmara, com voto de Paulo Guedes e de outros parlamentares do PT, que receberam puxão de orelha do presidente Lula. Além do trio, outros artistas confirmados para o ato musical são Djavan, Marina Sena, Maria Gadú e Os Garotin. O ato tem início marcado para às 14h, no Posto 5, em Copacabana. Outros atos foram convocados para o mesmo dia em outras capitais do Brasil. Em Salvador, na Bahia, por exemplo, Daniela Mercury teve a participação confirmada. A PEC da Blindagem foi aprovada na última terça-feira, 16, em dois turnos pela Câmara dos Deputados. A proposta prevê que parlamentares só podem ser alvos de processos judiciais caso a Câmara ou o Senado aprovem. O projeto agora segue para o Senado. “A PEC da Bandidagem, que é o que é, tem que receber da sociedade brasileira uma resposta saudável, socialmente saudável, uma manifestação de que grande parte da sociedade brasileira não admite um negócio desses”, afirmou Caetano, em vídeo publicado nas redes sociais. O apelido, PEC da Bandidagem, denuncia o caráter da proposta, que prevê que a abertura de processos contra parlamentares na Justiça só poderá ocorrer com aval da própria Casa Legislativa. Especialistas e movimentos sociais consideram esse um mecanismo de impunidade. Além disso, segundo a proposta aprovada, a votação sobre autorizações seria secreta, o que fez aumentar o volume de críticas.

Lula avisa que vai vetar anistia a Bolsonaro se projeto for aprovado no Congresso

Proposta que abre caminho para o perdão ao ex-presidente e aos golpistas do 8 de janeiro teve seu regime de urgência aprovado pela Câmara O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que vai vetar qualquer projeto de anistia aos golpistas e ao ex-presidente Jair Bolsonaro que venha a ser aprovado pelo Congresso Nacional. A declaração de Lula foi dada em entrevista à BBC Brasil nesta quarta-feira (17), mesmo dia em que a Câmara dos Deputados aprovou regime de urgência para um projeto do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), que prevê anistia a envolvidos em atos antidemocráticos a partir de 30 de outubro de 2022, após a derrota eleitoral de Bolsonaro, e que pode abrir caminho para livrar o ex-presidente da prisão. “Se for PEC (proposta de emenda constitucional), não precisa sancionar. Se for uma lei aprovada e os partidos estiverem de acordo, o presidente da República… se viesse pra eu vetar, pode ficar certo de que eu vetaria. Pode ficar certo que eu vetaria”, disse. Lula, contudo, ponderou que a decisão de votar ou não a anistia cabe somente ao Congresso e que não pretende interferir nesta questão. “O presidente da República não se mete numa coisa do Congresso. Se os partidos políticos entenderem que é preciso dar anistia e votar a anistia, isso é um problema do Congresso”, declarou. Veja vídeo: O mandatário, na mesma entrevista, também se posicionou contra a PEC da Blindagem, que dificulta investigações criminais de parlamentares, aprovada pela Câmara nesta quarta-feira. “Se eu fosse deputado, eu votaria contra. Se eu fosse presidente do meu partido, orientaria para votar contra. Aliás, eu votaria para fechar questão e votar contra”, pontuou. Urgência da anistia aprovada na Câmara A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (17) o requerimento de urgência para o projeto que concede anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro – iniciativa que pode abrir caminho para beneficiar também o ex-presidente Jair Bolsonaro. Com uma votação que terminou em 311 a 163, legendas alinhadas ao bolsonarismo votaram de forma unânime na urgência, como PL, Avante, Novo, Cidadania e PDR. O Republicanos, partido do presidente da Câmara, Hugo Motta (PB) e do governador paulista Tarcísio de Freitas, teve 40 votos favoráveis e um contrário, do deputado Fernando Monteiro (PE). Partidos do Centrão votaram divididos. No MDB, mesmo com a orientação contrária do líder Isnaldo Bulhões (AL), 21 deputados votaram a favor da urgência e 14 contra. Já no PSD, de Gilberto Kassab, 28 parlamentares foram favoráveis e 12 rejeitaram. A bancada do PT foi unânime ao votar de forma contrária, acompanhada por PSOL, PCdoB, PSB, PDT e Rede, também unidos na rejeição ao projeto. A proposta tem como base um texto do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), que prevê anistia a envolvidos em atos antidemocráticos a partir de 30 de outubro de 2022, após a derrota eleitoral de Bolsonaro. Ainda não há consenso sobre a versão final que irá ao plenário. A data de votação do projeto ainda será definida e os projetos com urgência podem ser votados diretamente no plenário, sem passar antes pelas comissões da Câmara. Confira abaixo como votou cada deputado na urgência da anistia Nome Partido UF Voto AJ Albuquerque PP CE Sim Acácio Favacho MDB AP Abstenção Adail Filho Republican AM Sim Adilson Barroso PL SP Sim Adolfo Viana PSDB BA Sim Adriana Ventura Novo SP Sim Adriano do Baldy PP GO Sim Aécio Neves PSDB MG Afonso Hamm PP RS Sim Afonso Motta PDT RS Não Aguinaldo Ribeiro PP PB Sim Airton Faleiro PT PA Não Alberto Fraga PL DF Sim Albuquerque Republican RR Sim Alceu Moreira MDB RS Sim Alencar Santana PT SP Não Alex Manente Cidadania SP Sim Alex Santana Republican BA Sim Alexandre Guimarãe MDB TO Sim Alfredinho PT SP Não Alfredo Gaspar União AL Sim Alice Portugal PCdoB BA Não Aliel Machado PV PR Não Aline Gurgel Republican AP Sim Allan Garcês PP MA Sim Altineu Côrtes PL RJ Sim Aluisio Mendes Republican MA Sim Amanda Gentil PP MA Não Amaro Neto Republican ES Sim Amom Mandel Cidadania AM Ana Paula Leão PP MG Sim Ana Paula Lima PT SC Não Ana Pimentel PT MG Não André Abdon PP AP Sim André Fernandes PL CE Sim André Ferreira PL PE Sim André Figueiredo PDT CE Não Andreia Siqueira MDB PA Não Antônia Lúcia Republican AC Abstenção Antonio Andrade Republican TO Sim Antonio Brito PSD BA Antonio Carlos R. PL SP Antônio Doido MDB PA Não Any Ortiz Cidadania RS Sim Arlindo Chinaglia PT SP Não Arnaldo Jardim Cidadania SP Sim Arthur Lira PP AL Sim Arthur O. Maia União BA Sim Átila Lins PSD AM Átila Lira PP PI Sim Augusto Coutinho Republican PE Sim Aureo Ribeiro Solidaried RJ Sim Bacelar PV BA Não Baleia Rossi MDB SP Não Bandeira de Mello PSB RJ Não Bebeto PP RJ Sim Benedita da Silva PT RJ Não Benes Leocádio União RN Sim Beto Pereira PSDB MS Sim Beto Richa PSDB PR Sim Bia Kicis PL DF Sim Bibo Nunes PL RS Sim Bohn Gass PT RS Não Bruno Farias Avante MG Sim Bruno Ganem Podemos SP Abstenção Caio Vianna PSD RJ Sim Camila Jara PT MS Não Cap. Alberto Neto PL AM Sim Capitão Alden PL BA Sim Capitão Augusto PL SP Sim Carla Dickson União RN Sim Carlos Gaguim União TO Sim Carlos Jordy PL RJ Sim Carlos Sampaio PSD SP Sim Carlos Veras PT PE Não Carlos Zarattini PT SP Não Carol Dartora PT PR Não Caroline de Toni PL SC Sim Castro Neto PSD PI Não Cb Gilberto Silva PL PB Sim Cel. Chrisóstomo PL RO Sim Célia Xakriabá PSOL MG Não Célio Silveira MDB GO Sim Célio Studart PSD CE Não Celso Russomanno Republican SP Sim Cezinha Madureira PSD SP Sim Charles Fernandes PSD BA Não Chico Alencar PSOL RJ Não Chris Tonietto PL RJ Sim Clarissa Tércio PP PE Sim Claudio Cajado PP BA Sim Cleber Verde MDB MA Abstenção Clodoaldo Magalhãe PV PE Não Cobalchini MDB SC Sim Coronel Assis

Ameaça à Democracia – Câmara aprova urgência do PL da anistia aos golpistas

O presidente da Casa, Hugo Motta, pautou a matéria alegando que é necessário fazer “o país andar” A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (17), a tramitação em regime de urgência do PL da anistia. Com isso, o projeto não precisará passar pelas comissões da Casa. A proposta foi aprovada por 311 votos a favor, com 163 contrários e 7 abstenções. Com a aprovação da urgência, será formada uma comissão especial para discutir o texto do PL da anistia, cuja relatoria deve ficar com o deputado Paulinho da Força (SD-SP). Hugo Motta: “O país precisa andar” O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou na noite desta quarta-feira (17) que vai pautar a urgência do PL da anistia, de autoria do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ). Como justificativa para pautar a urgência do PL da anistia, Motta declarou que o assunto paralisou o país e que o Brasil “precisa andar”. “O Brasil precisa de pacificação e de um futuro construído em bases de diálogo e respeito. O país precisa andar. Temos na Casa visões distintas e interesses divergentes sobre os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023. Cabe ao Plenário, soberano, decidir”, afirmou Motta. Em seguida, o presidente da Câmara anunciou que vai pautar a urgência do PL da anistia: “Portanto, vamos hoje pautar a urgência de um projeto de lei do deputado Marcelo Crivella para discutir o tema. Se for aprovado, um relator será nomeado para que possamos chegar, o mais rápido possível, a um texto substitutivo que encontre o apoio da maioria ampla da Casa.” “Como presidente da Câmara, minha missão é conduzir esse debate com equilíbrio, respeitando o Regimento Interno e o Colégio de Líderes”, concluiu Hugo Motta. O Brasil precisa de pacificação e de um futuro construído em bases de diálogo e respeito. O país precisa andar. Temos na Casa visões distintas e interesses divergentes sobre os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023. Cabe ao Plenário, soberano, decidir. Portanto, vamos hoje… — Hugo Motta (@HugoMottaPB) September 17, 2025 A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) classificou o anúncio de Hugo Mota, de que irá pautar a urgência do PL da anistia, como um “escândalo”. “É UM ESCÂNDALO! Não satisfeitos em passar vergonha com a safadeza que foi a PEC da Bandidagem, a Câmara votará ainda hoje a urgência do PL DA ANISTIA na calada da noite. O Brasil não será o país da impunidade. Vamos à luta contra esse tapa na cara do Brasil! SEM ANISTIA!”, declarou Sâmia Bomfim. É UM ESCÂNDALO! Não satisfeitos em passar vergonha com a safadeza que foi a PEC da Bandidagem, a Câmara votará ainda hoje a urgência do PL DA ANISTIA na calada da noite. O Brasil não será o país da impunidade. Vamos à luta contra esse tapa na cara do Brasil! SEM ANISTIA! — Sâmia Bomfim (@samiabomfim) September 17, 2025 Brasil rejeita anistia e apoia condenação de Bolsonaro, segundo AtlasIntel A maioria dos brasileiros concorda com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, considera a pena adequada ou até insuficiente, que ele participou ativamente do plano golpista, e rejeita a proposta de anistia, de acordo com a mais recente pesquisa AtlasIntel/Bloomberg, divulgada nesta quarta-feira (17). Ao todo, 52,3% dos brasileiros concordam com a condenação de Bolsonaro, enquanto apenas 46,6% discordam e 1,1% não souberam responder. Além disso, 14,9% consideram que a pena de 27 anos e 3 meses de prisão é adequada, e outros 34% acham que deveria ser maior. Outros 53,4% acreditam que o ex-presidente participou de uma tentativa de golpe de Estado. O levantamento também mostra que, apesar da polarização, predomina a percepção de que o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) foi imparcial, reforçando o papel da Corte como guardiã da democracia: 49,5% dos entrevistados afirmam que o julgamento foi imparcial. Para a maioria (47,6%), a decisão do STF terá impacto positivo para a política nacional, fortalecendo o recado de que ataques ao Estado de Direito não ficarão impunes. Quanto a anistia, a rejeição é ainda mais clara: 57,3% dos brasileiros se declaram contra uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, enquanto 40,6% apoiam a proposta e 2,1% preferiram não opinar. Anistia Mesmo diante dessa rejeição social, setores bolsonaristas no Congresso se movimentam para tentar reverter a derrota jurídica de Bolsonaro. O Projeto de Lei nº 5064/2023, de autoria do general Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente e companheiro de chapa de Bolsonaro em 2022, busca conceder anistia ampla, geral e irrestrita aos investigados e condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023. A proposta, apresentada como gesto de “pacificação nacional”, é vista por juristas e movimentos democráticos como uma tentativa de desmoralizar as decisões do STF e de abrir caminho para a impunidade dos golpistas. O avanço dessa articulação ocorre em paralelo a uma consulta pública no Senado, que já contabiliza mais de 677 mil votos contrários contra cerca de 596 mil favoráveis, uma diferença de cerca de 13,6% a favor do “Não”. A participação expressiva da sociedade demonstra que a maioria dos brasileiros rejeita qualquer anistia que possa apagar os crimes cometidos por Bolsonaro e seus aliados. Na Câmara, há também um projeto que visa conceder anistia a Bolsonaro e aos golpistas, de autoria do líder do PL, o deputado Sóstenes Cavalcante, cujo regime de urgência, segundo sinalizações do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), pode ser votado a qualquer momento.

PEC que blinda parlamentares de processos criminais é aprovada

Parlamentares do Psol criticaram a proposta e expuseram uma manobra da mesa diretora para alcançar a maioria Em uma sessão que se estendeu até a madrugada, marcada por excesso de interrupções, deboches e ironias, a Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (16) a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 3/2021, conhecida como a “PEC da Blindagem”. O governo liberou os deputados da base para votar como quisessem. A proposta retoma uma norma usada no passado, sobre a qual é exigida autorização do Congresso Nacional para abertura de processos criminais contra parlamentares. Eram necessários 308 votos para a aprovação, ou seja, 3/5 do parlamento por se tratar de mudança constitucional. O placar foi de 353 a 134 no primeiro turno e 344 a 133 no segundo. A PEC altera o texto constitucional para proibir a prisão cautelar por decisão monocrática, ou seja, de um único ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A proposta estabelece que a prisão em flagrante de deputados federais e senadores somente será permitida se estiver relacionada a crimes inafiançáveis listados na Constituição. O projeto ainda impede que a medida cautelar seja decretada por ministro em regime de plantão judiciário. Sendo assim, a prisão em flagrante só poderá ocorrer nos casos explicitados pela Constituição, entre eles racismo, crimes hediondos, tortura, tráfico de drogas, terrorismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. Segundo o texto, a abertura de ação penal contra deputados e senadores precisa, obrigatoriamente, passar pelo parlamento, além de estabelecer o regime de votação secreta para essas autorizações. Foi incluída na proposta a concessão de uma espécie de “foro privilegiado” para presidentes de partidos, que passariam a se beneficiar das mesmas regras. Já era madrugada de quarta-feira (17) quando os deputados aprovaram um destaque que excluiu da PEC a possibilidade de votação secreta para autorizar a abertura de processos contra parlamentares. Apesar disso, permaneceu no texto a regra que prevê voto secreto para decidir sobre o relaxamento da prisão de parlamentares detidos em flagrante por crimes inafiançáveis. Antes de seguir para o Senado, outros dois destaques ainda precisam passar pela análise da Câmara. “Câmara secreta” Líder da maioria na Câmara, a deputada Érika Kokay (PT-DF) chamou a atenção da opinião pública sobre a proposta. “Eu acho que a população tem que ficar extremamente atenta o que está acontecendo aqui hoje, porque aqui parlamentares querem ter o direito de não responder pelos seus crimes”, declarou. A deputada federal Sâmia Bomfim (Psol) não poupou palavras para criticar a articulação em torno da blindagem. “Isso aqui é praticamente a Câmara secreta, porque o orçamento é secreto, o voto, querem que seja secreto. Só o que não é secreto é a falta de vergonha na cara. Safadeza, minha gente, é transparente, cristalina, evidente para quem quiser ver”, afirmou a deputada, que provocou reação na bancada bolsonarista. Já o deputado Ivan Valente (Psol-SP), qualificou a agenda do Congresso Nacional como um “golpe continuado”. “Esta votação da PEC da blindagem somada com a anistia fajuta de amanhã e a nomeação da liderança do Eduardo Bolsonaro [estando] lá no exterior, esse quinta-coluna, é golpe continuado, é sabotagem do Brasil”, pronunciou o deputado. “É livrar deputado de casos de corrupção, de assassinato, de maracutaia em emenda, do crime que quiser”, completou. Valente denunciou ainda que a agenda é resultado da aliança entre os partidos do centrão e da extrema-direita. “Essa questão de acordo do centrão com a extrema-direita mostra o seguinte: não se tem vergonha na cara, não se critica o tarifaço, a intervenção no Judiciário, o golpe de Estado, o fim da democracia, o que vocês querem? Impunidade e semipresidencialismo?”, destacou o deputado. Por sua vez, Chico Alencar (Psol-RJ) cobrou dos deputados seu compromisso com a transparência de seus votos. “A população quer saber como os seus representantes votam em todas as matérias. Esse voto secreto que essa PEC da blindagem da autoproteção traz. É um absurdo total. O deputado, o senador, tem que ter coragem de expor seu voto em qualquer situação”, defendeu Alencar. Foi preciso manobrar A líder do Psol na Câmara, deputada Talíria Petrone (RJ), chamou a atenção para uma manobra da mesa diretora, para permitir que parlamentares que não estavam presencialmente no Congresso pudessem votar. “Nós estamos então nesse momento numa sessão que a gente não sabe bem como está funcionando”, disse a líder, seguida por Sâmia Bomfim, que expôs o texto do ato normativo que estaria sendo desrespeitado. “Com base no ato da mesa n.º 54 de 2025, que diz que as sessões e reuniões da Câmara dos Deputados terão o seguinte regime de funcionamento presencial, em que o registro de presença deverá ser efetuado exclusivamente, de forma presencial, nos postos de registro biométrico instalados no plenário. E que o registro de presença poderá ser efetuado nos termos do regime presencial ou por meio do InfoLeg [sistema interno da Câmara]. E diz que o regime presencial será adotado nas reuniões de terças, quartas e quintas-feiras. O presidente da Câmara poderá determinar regime de funcionamento diverso e deverá ser publicado com antecedência mínima de 24 horas”, leu. “Essa sessão, como todas as sessões de terça-feira, foi convocada no regime de presença aqui biométrica e votação online. Ao longo da sessão, coincidentemente, depois de não observado o quórum suficiente para aprovar essa PEC vergonhosa da blindagem, foi alterado o modelo de registro de presença para registro online, diferentemente de todas as sessões constituídas desde esse ato da mesa, que obriga o registro presencial”, criticou Sâmia, citando a primeira votação de um requerimento para a retirada de pauta do projeto, que recebeu menos votos do que o necessário para aprovação do mérito da PEC. “Mudaram as regras do jogo durante o jogo”, denunciou Talíria. O peixe morre pela boca Em tom de deboche, deputados bolsonaristas fizeram declarações estarrecedoras durante a sessão desta terça. O deputado Bibo Nunes (PL-RS), chegou a assumir publicamente que defende a “blindagem” dos parlamentares. “Dê o nome que se dê a essa PEC. Pode ser blindado. Mas nós,

Hermeto Pascoal, lenda da música brasileira, morre aos 89 anos

“Bruxo dos Sons” transformou tudo em música O multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal morreu neste sábado (13), aos 89 anos, no Hospital Samaritano Barra, na zona sudoeste do Rio de Janeiro, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. A informação foi confirmada em nota pela unidade de saúde e publicada nas redes sociais do músico. “Com serenidade e amor, comunicamos que Hermeto Pascoal fez sua passagem para o plano espiritual, cercado pela família e por companheiros de música”, diz a mensagem. “No exato momento da passagem, seu Grupo estava no palco, como ele gostaria: fazendo som e música. Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta: escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d’água, a cachoeira, a música universal segue viva”. Hermeto em BH Mesmo perto dos 90 anos, Hermeto seguia em turnês. Neste fim de semana, por exemplo, ele tinha apresentação agendada em Belo Horizonte. Hermeto iria se apresentar com o grupo Nave Mãe, neste sábado (13/9), no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, como parte da programação do Festival Acessa BH 2025. No entanto, a vinda dele havia sido cancelada, na última terça-feira (9) por “motivos de saúde”, de acordo com a assessoria de imprensa do evento. O artista também não deixava de lançar novos trabalhos: em 2024, apresentou o álbum “Para você, Iza”, dedicado à sua primeira companheira, Ilza Souza Silva, mãe de seus seis filhos, falecida em 2000. Também teve sua trajetória revisitada na biografia Quebra tudo! A arte livre de Hermeto Pascoal, de Vitor Nuzzi. O último show dele na cidade foi em agosto de 2024, quando se apresentou com seu grupo na casa de shows A Autêntica, dentro da programação do Tabuleiro Jazz Festival. Aos 88 anos, seguia cheio de projetos, lançando novos álbuns e até protagonizando exposições de artes visuais. Entrevista Na ocasião, refletiu sobre sua maneira livre de criar: “Eu sou 100% intuitivo e autodidata. Tudo que eu faço vem do que estou sentindo no instante que estou criando. Por isso que eu digo que só Deus sabe o que vai acontecer em um show e mais ninguém – nem eu”, disse em entrevista a O TEMPO, evocando indireta e, talvez, não intencionalmente uma conhecida citação atribuída ao filósofo Heráclito de Éfeso. “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”, teria dito o filósofo pré-socrático ao refletir sobre como a natureza – e o homem como parte dela – está em constante mutação e mudança, de maneira que nada é imutável e absoluto, mas, sim, movimento. Maestro Um movimento que o velho Bruxo dos Sons sabia reger como poucos. Tanto que, em tantos anos de estrada, ele se orgulhava, recorrendo a expressões com um quê de Guimarães Rosa, nunca ter se decepcionado com a maneira como as pessoas mundo afora, falantes dos mais diversos idiomas, recepcionaram suas performances: “O público, minha Nossa Senhora, nunca me surpreendeu ao contrário”. “Às vezes, parece até que as pessoas já tinham assistido a aquele show, que eu nunca tinha feito antes. Sabe que, mesmo sem eu nunca repetir nada, essa gente sempre corresponde com sua maneira de escutar, de se envolver e cantar”, comentou o artista na ocasião. Ele se mostrou satisfeito do efeito que causava nas mais variadas audiências, que geralmente acompanhavam com o corpo, em movimentos cadenciados, seus sons quase hipnóticos – incluindo onomatopeias, ruídos e balbucios costumeiramente reproduzidos com entusiasmo por seus fãs. Reflexivo, o artista indutor de experiências similares a um transe parecia intrigado inclusive com a sincronia que encontrava com suas plateias. “É engraçado porque o público também não escuta a mesma coisa. Cada um escuta do seu jeito, porque todos, quando escutam, têm a mesma liberdade que eu de criar”, defendia. Composição ao fim da conversa Curiosamente, mesmo que Hermeto, com seu jeito despretensioso, fizesse reflexões que, não raras vezes, remetessem a elaborações de teóricos e filósofos que se dedicaram a sistematizar o conhecimento, a verdade é que ele próprio seguia na contramão dessa lógica. Afinal, avesso a qualquer sistematização do fazer musical, ele se reconhecia em um constante esforço de se afastar de hábitos que pudessem, eventualmente, levar a uma rigidez do seu processo de criação, ameaçando a experiência radical de música livre que ele – e talvez só ele em todo o mundo – propunha. “Eu não quis saber de teoria, não quis estudar música, porque não queria cortar esse dom da inspiração, (da sensibilidade) de receber (a composição) e daí tocar meus instrumentos, minhas coisas todas”, garantiu na conversa. “Ultimamente, eu até estou pegando pouco nos instrumentos, porque eu já sou totalmente um instrumento da música, sem premeditação e com muita emoção, com aquela gana, aquela surpresa que vem, que vem assim como o vento, de um jeito que eu até me assusto, mas no bom sentido, sabe?”, concluiu, deixando em aberto uma pergunta que, talvez, ele e somente ele possa responder. Prova disso: no fim da conversa, ele contou ter criado uma composição. Mais uma das mais de 10 mil músicas que compôs ao longo de sua carreira – e nas mais diversas superfícies, como guardanapos, roupas e até portas de casa. Confira a publicação no perfil de Hermeto Pascoal no Instagram:

PF prende “Careca do INSS”, que tem ligação com Bolsonaro

Investigações apontam que Antunes exercia papel central como lobista, viabilizando o funcionamento do esquema, e já fez doações à campanha do ex-presidente Nesta sexta-feira (12), a Polícia Federal deflagrou uma operação que levou à prisão de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e do empresário Maurício Camisotti, ambos ligados à figura de Jair Bolsonaro (PL). Os dois são acusados de integrar uma rede de fraudes que drenava recursos do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Investigações apontam que Antunes exercia papel central como lobista, viabilizando o funcionamento do esquema. Associações ligadas a aposentados teriam usado documentos e assinaturas falsos para cadastrar pessoas sem consentimento e aplicar descontos indevidos nos benefícios pagos pelo INSS. Entre 2019 e 2024, o prejuízo estimado pode alcançar R$ 6,3 bilhões. A descoberta do esquema, em abril, levou à demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. O investigado Antunes foi conduzido à Superintendência do Distrito Federal, enquanto agentes cumpriam mandados de busca em sua residência. As apurações indicam que ele movimentou R$ 9,3 milhões em favor de pessoas ligadas a servidores do instituto entre 2023 e 2024. Já em São Paulo, Camisotti foi preso. Ele é acusado de atuar como sócio oculto de uma entidade e de ser beneficiário direto das fraudes na Previdência. Agentes também realizaram buscas na casa e no escritório do advogado Nelson Willians, na capital paulista. Ao todo, foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva e 13 de busca e apreensão em São Paulo e no Distrito Federal, por determinação do ministro do STF André Mendonça. Preso em São Paulo, Maurício Camisotti é investigado como sócio oculto de uma entidade e um dos beneficiários das fraudes contra a Previdência. Além disso, policiais federais cumprem mandados na residência e no escritório do advogado Nelson Willians, também na capital paulista. Doações à campanha de Bolsonaro Segundo a PF, o “Careca do INSS” recebeu R$ 53,88 milhões de associações envolvidas nas irregularidades durante o governo Bolsonaro, fazendo repasses milionários a servidores suspeitos de participação no esquema. Antunes fez uma doação, digamos, simbólica à campanha de reeleição de Jair Bolsonaro em 2022 e a informação consta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o mesmo nome e CPF citados em decisão da Justiça Federal do Distrito Federal sobre o caso das fraudes no INSS. Segundo aliados do ex-presidente, o valor de R$ 1 foi considerado “mixuruca” e fez com que o lobista fosse apelidado de “mão de vaca” diante do lucro auferido com os desvios. Ele atuava como intermediário financeiro das entidades associativas, movimentando os recursos recebidos e repassando, muitas vezes no mesmo dia, para servidores públicos investigados. De acordo com os investigadores, ele mantinha baixo saldo em conta, indício de tentativa de dificultar o rastreamento das transações. A PF identificou pelo menos 22 empresas em nome do lobista, abrangendo setores como consultoria, call center, incorporação e comércio varejista. Parte delas tinha vínculos com entidades que descontavam valores das aposentadorias. Entre as organizações citadas nas investigações estão CPBA, AP Brasil, Cebap, Unaspub, Asabasp, entre outras. BMW Em maio, durante uma operação da Polícia Federal contra o esquema de descontos indevidos, foi apreendido um BMW X1 branco avaliado em cerca de R$ 350 mil. O veículo estava registrado formalmente no nome de Thallys Mendes dos Santos de Jesus, esposa do ministro Jhonatan de Jesus, integrante do Tribunal de Contas da União (TCU). O carro foi localizado na residência do filho de Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, lobista acusado de participar do esquema ilícito. As informações são do portal Metrópoles. E Camisotti? O empresário Maurício Camisotti, dono do Grupo Total Health, tem um longo histórico de relações obscuras nos bastidores da política em Brasília. Dono de empresas na área de seguros e de saúde, Camisotti teria usado laranjas para controlar a Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), a União dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Unasbras) e o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap), três das organizações investigadas no esquema. Segundo a Polícia Federal, as três organizações tinham como diretores estatutários funcionários e parentes de executivos do grupo de empresas de Camisotti e pagaram a quatro empresas do grupo Total Health um montante de R$ 43 milhões, segundo documentos obtidos por quebras de sigilo. Entre as empresas estão a Prevident e a Rede Mais, do ramo de saúde, e a Benfix, uma corretora de seguros em nome do próprio empresário. A Prevident, por exemplo, é dirigida por José Hermicesar Brilhante Palmeira, que foi secretário-geral estatutário da Ambec. A empresa recebeu R$ 16,3 milhões da Ambec. As três associações ligadas a ele foram criadas ou ganharam corpo durante os governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

STF condena Bolsonaro por liderar organização criminosa

Ministra destacou violência dos atos preparatórios para o golpe de Estado Com voto da ministra Cármen Lúcia, nesta quinta-feira (11), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal formou uma maioria para condenar Jair Bolsonaro e outros réus por integrar uma organização criminosa voltada a derrubar o governo eleito em 2022. “Concluo pela comprovação da organização criminosa”, disse a magistrada no julgamento. Com isso, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Alexandre de Moraes já votaram pela comprovação da organização criminosa, liderada por Bolsonaro. A ministra destacou a violência dos atos preparatórios para o golpe de Estado. “O réu Jair Messias Bolsonaro praticou os crimes imputados na condição de líder da organização criminosa”, frisou a ministra.

Voto de Fux ‘estica corda’ e pode deixá-lo isolado

Augusto Botelho, ex-secretário Nacional de Justiça, vê incoerência do ministro no processo sobre trama golpista O voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux proferido nesta quarta-feira, 10 de setembro, no julgamento da trama golpista em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é réu, divergiu significativamente dos dois primeiros, feitos, ontem, pelos ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Fux iniciou seu voto já defendendo a incompetência da Suprema Corte para julgar o caso e defendeu o cancelamento total do processo. A fala animou bolsonaristas. O próprio advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, disse no local que o voto pela nulidade “lavou a alma” das defesas. Nas redes, Paulo Figueiredo, que atua nos Estados Unidos para que o governo Donald Trump aplique sanções contra o Brasil, elogiou Fux e disse que ele não seria afetado pelas mesmas punições aplicadas contra Moraes e os demais ministros. Para o advogado criminalista Augusto de Arruda Botelho, ex-secretário Nacional de Justiça do governo Lula e fundador do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), há uma incoerência na posição de Fux. Ele acredita que essa falta de coerência pode deixá-lo isolado na 1ª turma, responsável por julgar o processo. “Da forma como ele está dando o voto, acho que ele dificulta que outros ministros o acompanhem, porque ele está contrariando uma jurisprudência muito pacífica do próprio tribunal. Ele ‘esticou demais a corda’ para ter alguém que o acompanha, vamos falar dessa forma”, avalia o advogado. Botelho avalia que o ministro Fux foi “incoerente com o histórico de decisões do próprio ministro e do Supremo. É completamente contraditório com as decisões, sobre temas processuais”, diz Ele explica que uma defesa processual inclui incompetência do juiz, suspeição do juiz, nulidade da prova. Portanto, não dizem respeito ao acusado, ou ao mérito. “Todas essas preliminares que o ministro Luiz Fux julgou agora são questões processuais. Em outros processos que julgou, ele não teve o entendimento de agora. Então, ele é contraditório, teve entendimentos processuais divergentes do que ele teve agora”. Leia trechos da entrevista realizada pela Agência Pública com o advogado. Augusto Botelho, advogado criminalista e ex-secretário Nacional de Justiça de Lula O senhor comentou em suas redes sociais sobre uma posição contraditória do ministro Fux no voto dele desta quarta-feira. Poderia explicar um pouco o porquê dessa incoerência? Primeiro, é incoerente com o histórico de decisões do próprio ministro Luiz Fux. É completamente contraditório com as decisões sobre temas processuais. A gente tem dois tipos de defesa. Uma defesa de mérito, que a gente chama, e uma defesa processual. Em linhas gerais, na defesa do mérito, às vezes a pessoa é condenada ou inocentada. Uma defesa processual, são teses processuais: incompetência do juiz, suspeição do juiz, nulidade da prova, tudo isso são teses processuais. Elas não dizem respeito ao acusado A ou ao acusado B, mas dizem respeito ao regramento que os códigos preveem para alguém ser processado. Todas essas preliminares que o ministro Luiz Fux julgou agora, são questões processuais, e ele já, em outros processos que ele julgou, não teve o entendimento que teve agora. Então, ele é contraditório. O ministro Luiz Fux, para começar, já teve entendimentos processuais divergentes do que ele teve agora. Ele deveria ter apresentado esse ponto de vista antes? Seria isso? Juízes mudam de ideia, é normal mudar de opinião. O direito está sempre em evolução, pode causar algum estranhamento, mas não seria algo atípico. O que chama bastante atenção, por enquanto… vou dar um exemplo bem prático. A tese de incompetência do Supremo foi levantada pelas defesas, quando apresentaram a primeira manifestação que eles fizeram nos autos. Lembrando, é oferecida uma denúncia, as defesas apresentam uma peça que chama Resposta à Acusação, que você contesta essa denúncia, aí depois vai lá ao tribunal e faz uma sessão para julgar o recebimento ou não da denúncia, isso já aconteceu, lá atrás. As defesas, várias defesas, apresentaram essa tese de incompetência do Supremo, em razão da falta de prerrogativa de foro, neste caso. Ou seja, já era uma tese conhecida, e que ela foi rejeitada. O ministro Fux, já sabendo dessas teses de incompetência do Supremo, optou, e é uma opção dele, por participar das audiências. Ele foi o único ministro que participou das audiências. Ele optou por fazer perguntas durante as audiências. E agora, ele está dizendo que é incompetente. Se o Supremo é incompetente [para julgar], ele, ministro Luiz Fux, era incompetente para participar da audiência. Não é uma tese nova, muito pelo contrário, incompetência do Supremo em prerrogativa de foro, é uma tese discutida sempre no Supremo. Todo mundo tem posição. É absolutamente incoerente uma tese que já tinha sido apresentada e rechaçada, [que] o ministro vai lá, participa da audiência, faz perguntas, num processo que ele está anulando? Não tem sentido isso. Mas, claro, ele pode mudar de ideia. Mas ele vai ficar isolado, [por causa do] entendimento do Supremo, atualmente. Isso foi julgado há pouco tempo atrás, o Supremo mudou três ou quatro vezes ao longo da última década sobre o entendimento de prerrogativa de foro. A decisão que hoje está aplicada no Supremo é a de competência do Supremo para julgar, por exemplo, ex-presidentes, ex-governadores ou ex-senadores que cometeram crime durante o exercício do cargo e em razão dele. Esse é o caso específico. Por isso que esse é o entendimento atual do Supremo, e por isso que o Bolsonaro e os outros estão sendo julgados pelo Supremo. O Fux pode mudar de ideia? É evidente que ele pode mudar de ideia. Mas se essa tese já foi apresentada lá no passado, por que ele participa na audiência? Aí que está a maior incoerência. Mudar de ideia não é incoerência. Mudar de ideia acontece. Agora, ele participou das audiências, ele fez perguntas. Ele não pode ser convencido da incompetência agora. Não faz o menor sentido. Por que ele participou das audiências? Ele deu causa à nulidade. Se o Supremo é incompetente, ele, o Fux, está dando causa à própria nulidade. Ele participou

O 7 de setembro e as bandeiras do Brasil – Por Lindener Pareto*

O feriado, que por décadas teve um ar meio protocolar, uma folga no meio da semana para a alegria geral da nação, virou um campo de batalha (ou sempre foi?) Todo ano é a mesma coisa. O 7 de Setembro chega e, com ele, as lembranças da infância: o desfile cívico na rua principal da cidade, a fanfarra da escola ensaiando o Hino Nacional até a exaustão e a obrigação de saber de cor que Dom Pedro, às margens de um riacho paulista, teve um acesso de fúria e gritou algo sobre independência ou morte. Um ato de rebeldia, diziam. Hoje, o riacho é um fio d’água bastante poluído e o grito ecoa de formas bem mais estridentes, em carros de som e grupos de WhatsApp. O feriado, que por décadas teve um ar meio protocolar, uma folga no meio da semana para a alegria geral da nação, virou um campo de batalha (ou sempre foi?). E a principal munição, quem diria, são as cores da nossa bandeira. O verde e o amarelo, antes onipresentes em Copas do Mundo e fachadas de repartições públicas, foram “sequestrados”. Ou melhor, foram adotados com um fervor tão exclusivo por uma parcela da população que, para o resto de nós, usar a camisa da seleção fora de época virou um ato político complexo. Ir à padaria de verde e amarelo hoje exige uma preparação psicológica: estaria eu sinalizando meu apoio a uma intervenção militar com poderes moderadores ou apenas manifestando um patriotismo casual? É uma situação curiosa. A extrema direita, em um movimento global que tem em Donald Trump seu garoto-propaganda mais notório, fez dos símbolos nacionais sua propriedade privada. No Brasil, sob a batuta de Jair Bolsonaro, a camisa da CBF virou uniforme oficial, e a bandeira, um acessório indispensável em manifestações que pedem, paradoxalmente, o fim das instituições que a própria bandeira representa. Há uma ironia histórica recorrente aqui: os símbolos nacionais, em sua origem no século 18, eram uma invenção da burguesia revolucionária, feitos para representar o povo contra os monarcas e tiranos. Quem diria que, duzentos anos depois, seriam usados para pedir a volta de um “rei” farsesco ou, no mínimo, de um “capitão”? Essa apropriação não é inocente. Ela faz parte de um manual de instruções das democracias liberais desde o final do século 19. O roteiro é claro: primeiro, você identifica um inimigo (a “velha política”, a “mídia”, as “universidades”, o “comunismo”). Depois, você se apresenta como o único salvador, o homem de fora do sistema que entende o “povo de verdade”. E, para unir esse povo, você oferece um pacote simbólico poderoso: a bandeira, o hino, a pátria. A soberania nacional vira um bordão, repetido à exaustão, mas raramente definido. É uma soberania que se preocupa mais em hostilizar nações vizinhas (ou os seus vizinhos do bairro) e organizações internacionais do que em garantir que nossas riquezas não sejam vendidas a preço de banana ou que nossa população tenha acesso à saúde e educação. O fenômeno Trump-Bolsonaro é a filial mais bem-sucedida dessa franquia. Ambos surfaram na crise de representatividade, no sentimento de que a “democracia liberal falhou” (e tem falhado há mais de um século mesmo). Eles deram voz a uma parcela da população que se sentia abandonada pela globalização, pelo neoliberalismo e ameaçada por avanços progressistas, oferecendo uma narrativa simples e sedutora: a culpa é do “outro”, e a solução é um retorno a um passado mítico de ordem e glória, convenientemente simbolizado pela bandeira tremulando. Enquanto isso, a esquerda democrática assistiu a tudo meio atônita. Depois do susto inicial, esboçou uma reação. Surgiu o movimento para “retomar” os símbolos nacionais. Vimos intelectuais, artistas e militantes tentando reintroduzir o verde e amarelo em seus próprios atos. A intenção é nobre: disputar o significado do nacionalismo, mostrar que amar o Brasil não é monopólio de quem defende o fechamento do Congresso e do STF. Mas a cena não deixa de ser um pouco constrangedora, como tentar cantar uma música que seu ex-namorado dedicou a você em todas as festas. A melodia ainda está lá, mas a memória afetiva foi contaminada. Afinal, o que é você depois de um trauma amoroso? O que é o Brasil depois do “fascio-bolsonarismo”? Um plebiscito pela refundação dos símbolos nacionais resolveria? Ou o nacionalismo como o conhecemos nada mais é que uma doença brutal que leva o mundo ao abismo? Neste 7 de Setembro, enquanto alguns marcham com a bandeira pedindo mais armas e menos STF, e outros tentam usá-la para pedir mais soberania, “sem anistia” e mais educação, a maioria da população — extenuada, humilhada e precarizada — talvez só queira mesmo aproveitar o feriado nacional, que caiu logo num domingo… Mas a disputa está posta. E ela nos força a pensar: o que é, afinal, soberania nacional? É um desfile militar, um grito de ordem, uma camisa de futebol? Ou seria a capacidade de um país de cuidar de seu povo, de proteger seu meio ambiente, de fortalecer sua democracia e de garantir que seus símbolos possam ser usados por todos, sem que ninguém precise se explicar na padaria? A pergunta, por enquanto, segue sem resposta, balançando ao vento, meio mambembe, tipo as bandeiras meio “USA”, meio “Brazil”, sem muita gente jovem reunida… *  Lindener Pareto é professor e Historiador. Mestre e Doutor pela USP. Curador Acadêmico no Instituto Conhecimento Liberta (ICL). Apresentador do “Provocação Histórica”, programa semanal de divulgação de História, Cultura e Arte nos canais do ICL. Especialista em desmascarar narrativas históricas convenientes e incomodar quem prefere a versão falaciosa dos fatos.